Alvo de uma drástica intervenção na segurança pública, o Distrito Federal pode passar por outra mudança brusca: ver sua população carcerária aumentar segundo a colunista Malu Gaspar, do O Globo, em 10% ao longo dos próximos dias, na esteira da punição aos extremistas que se envolveram nos atos terroristas que abalaram Brasília no último domingo (8).
A realização de manifestações golpistas, que culminaram com a depredação de prédios públicos e na destruição de obras de acervo histórico, já levou à detenção de 1,5 mil pessoas, entre extremistas que estavam acampados na frente do quartel-general do Exército e outros que avançaram rumo à Praça dos Três Poderes e invadiram o Congresso, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto.
Antes dos atentados, a população carcerária do DF era de aproximadamente 15 mil presos. Só na última segunda-feira, já haviam sido transferidas 240 golpistas para presídios do DF – 158 homens e 82 mulheres –, de acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária.
A secretaria precisou mobilizar uma força tarefa para dar conta do trabalho. O Ministério Público também teve de se mexer.
Nesta segunda-feira, o procurador-geral da República, Augusto Aras, autorizou um reforço na equipe do MP Federal no DF para dar conta da demanda de audiências de custódia dos extremistas.
Isso porque todos os presos precisam passar pelo procedimento, que deve ocorrer até 24 horas após a detenção e serve para conferir a necessidade da medida e a integridade física do preso.
“Estamos tentando administrar o sistema prisional. O governo do Distrito Federal vai colaborar em todos os pedidos para que a gente restabeleça a ordem pública”, disse à equipe da coluna a governadora interina do DF, Celina Leão (PP).
Celina assumiu o cargo após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, determinar o afastamento de Ibaneis Rocha do cargo de governador pelos próximos 90 dias. Mas evitou responsabilizar o seu companheiro de chapa pelo caos instalado na cidade.
“Ibaneis recebeu as informações erradas. Quando você recebe informações erradas, não tem como tomar as decisões certas. Brasília precisa de paz, não de impeachment”, acrescentou a governadora, em referência aos pedidos para cassar Ibaneis.
Em coletiva de imprensa, o ministro da Justiça, Flávio Dino, comparou os atos golpistas em Brasília com a invasão do Capitólio, há dois anos, quando extremistas insuflados pelo então presidente Donald Trump tentaram impedir a confirmação da vitória de Joe Biden nas urnas.
A invasão à sede do Congresso norte-americano chocou o mundo, resultou na morte de cinco pessoas e levou à abertura de uma investigação por um comitê.
“Nós vivemos ontem (anteontem) o Capitólio brasileiro, com duas diferenças: Não houve óbitos. E tem mais presos aqui do que lá”, disse Dino.
Nos Estados Unidos, ao menos 978 pessoas foram presas por conta do episódio.