A primeira-dama Janja Lula da Silva abriu pela primeira vez o Palácio da Alvorada após a saída do ex-presidente Jair Bolsonaro e mostrou os problemas de conservação no local, residência do presidente da República, como exibiu a GloboNews. Há infiltrações, janelas quebradas, danos em tapetes e sofás rasgados, por exemplo.
À jornalista Natuza Nery, que acompanhou a visita, Janja também relatou que peças históricas, como esculturas e quadros, foram mudadas de lugar. Uma pintura foi retirada da biblioteca, onde foram instalados equipamentos para a transmissão das lives de Bolsonaro, e colocada em outro local, onde, por conta da exposição ao sol, acabou desbotando, o que forçará um trabalho de restauração.
— Até o piso está muito deteriorado, não teve cuidado, não teve manutenção — lamentou a primeira-dama, apontando em seguida para uma imagem sacra do século XIX deixada no chão.
De acordo com Janja, ao visitar o Alvorada, na terça-feira, o presidente ficou “um pouco desolado” com o que encontrou. A primeira-dama contou que até mesmo árvores frutíferas, como um pé de mandacaru plantado por Lula nos mandatos anteriores e que já deveria estar crescido, acabaram cortadas.
— Ele morou um ano e meio com Dona Marisa na Granja do Torto para fazer uma grande reforma (no Alvorada), as obras foram restauradas, foi tudo deixado perfeito. Para encontrar isso em dez anos, nesse estado — disse Janja.
Pertences dos antigos ocupantes
Em alguns cômodos, foram encontrados pertences dos antigos ocupantes do palácio, como peças de roupa de Michelle Bolsonaro, mulher do ex-presidente. Em outros, como numa sala de estar, não havia móvel algum.
— Ainda não sei dizer o que aconteceu. Se os móveis que estavam aqui eram de propriedade da família e foram levados. Mas possivelmente antes havia móveis. Preciso saber onde estão, em que estado estão. Estamos fazendo esse levantamento — detalhou Janja, acrescentando que não foram encontrados, até agora, registros dos itens do Alvorada por ventura movidos ou retirados do palácio.
Janja e o presidente ainda não se mudaram para o local, que, além de uma reforma, passará também por uma varredura da Polícia Federal. Enquanto isso, o casal está morando em um hotel na região central de Brasília — a mudança deve demorar ainda mais em função do estado de conservação.
Depois das reformas, segundo a primeira-dama, a intenção, é que a parte pública do Alvorada seja reaberta para visitação. Também está em estudo que o tombamento do palácio, cujo espaço físico já é preservado, seja estendido a outros itens, como a mobília e as obras de arte do local.
— É para que não aconteça mais isso de um governante tirar essas coisas que são patrimônio do estado brasileiro — explicou Janja, que prometeu “cuidar muito bem” do palácio, com “muito amor e carinho”.
A primeira-dama, entretanto, voltou a frisar que não pretende apenas “ficar em casa”, no Alvorada. Ela repetiu que pretende atuar junto ao presidente Lula, no governo, sobretudo nas áreas de segurança alimentar e cultura. Ela não detalhou, porém, de que maneira irá colaborar com a gestão:
— Ainda estou construindo algumas coisas. Vendo aonde, dentro desses temas, eu vou efetivamente contribuir. (Posso) ser uma articuladora, uma fomentadora desses temas. Acho que isso vai ser construído no dia a dia, como parte do cotidiano.
Detalhes sobre a posse
Na entrevista, Janja também deu detalhes sobre o planejamento para as solenidades na posse de Lula, que tiveram ela como principal idealizadora. A primeira-dama contou que a decisão de desfilar em carro aberto, por exemplo, foi do próprio presidente Lula.
— Deixamos os carros disponíveis. O rolls royce é um carro antigo, que não representa o povo brasileiro em nada, era meio que um paradoxo, fazer uma posse voltada para o povo brasileiro e desfilar no rolls royce — afirmou Janja, acrescentando que outras alternativas foram pensadas, incluindo a de Lula fazer o trajeto a pé, mas nenhum foi considerada pertinente.
Janja admitiu que receios com a segurança de Lula estiveram presentes durante o desenho dos festejos:
— A questão da segurança sempre me preocupou em todo esse momento de organização da posse. Mas domingo de manhã, quando vimos as pessoas descendo do Mané Garrincha para o Planalto… Eu fiquei emocionada na janela. Ele ficou emocionado. Aquilo nos deu a certeza de que tudo daria certo.
A primeira-dama também explicou como nasceu um dos momentos mais marcantes da posse: a entrega da faixa presidencial por representantes da população para Lula.
— A gente vem de um governo totalmente distante do povo, que fez tudo o que fez. E foi o povo brasileiro que elegeu o presidente Lula. Ele podia subir a rampa junto — disse a socióloga, que também falou sobre o momento em que o vice Geraldo Alckmin e a esposa dele, Lu Alckmin, embarcaram junto de Lula e Janja no rolls royce presidencial:
— Foi totalmente no momento. A gente fez tanta campanha pendurado em caminhonete os quatro. Ah, então vamos. Subimos os quatro e foi muito legal.