A deputada federal e ex-ministra da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro, Flávia Arruda (DF), anunciou nesta segunda-feira sua desfiliação do Partido Liberal (PL) — consequência do desgaste sofrido por ela no processo eleitoral deste ano.
Depois de começar a disputa pelo Senado como favorita, lançada pelo próprio presidente da República, Flávia foi atropelada pela ex-colega de Esplanada Damares Alves (Republicanos), que contou com o apoio ostensivo da agora ex-primeira-dama Michelle e do bolsonarismo.
Na reta final da campanha, Flávia também foi alvo de ataques do bolsonarismo, que difundiram vídeos e áudios com montagens sobre a vida privada da ministra.
Flávia comunicou o desligamento do partido a Valdemar Costa Neto nesta tarde de segunda (2), informa Malu Gaspar, do O Globo. Em sua gestão como ministra da Secretaria de Governo, responsável pela articulação política, foram aprovadas pautas importantes para Bolsonaro no Congresso, como a criação do Auxílio Brasil e a PEC dos Precatórios.
Flávia continua deputada federal até fevereiro, quando começa a nova legislatura. Ela diz que só então vai definir o futuro político.
Seu marido, o ex-governador do DF José Roberto Arruda, é filiado ao partido há quase dez anos e é muito próximo do presidente nacional, Valdemar Costa Neto.
No comunicado em que formalizou sua saída do PL, Flávia cita seus “ideais democráticos”, “os fatos das últimas eleições” e o posicionamento da sigla – que, recentemente, declarou oposição ao governo Lula e chegou a questionar, sem provas, o resultado das eleições no Tribunal Superior Eleitoral.
Nesta segunda, Flávia Arruda foi alvo das redes bolsonaristas por ter abraçado o presidente Lula no plenário da Câmara dos Deputados, durante a posse do petista pelo Congresso Nacional. É possível identificar parte do diálogo por meio da leitura labial.
“Estamos juntos, você sabe”, disse a ex-ministra no momento registrado pela imprensa.
A ex-ministra foi estimulada pelo PL e pelo próprio Bolsonaro a disputar o Senado pelo Distrito Federal, na costura que garantiria palanques competitivos para a candidatura à reeleição do então presidente. Para isso, o então presidente barrou pré-candidaturas do chamado “bolsonarismo raiz”, como a da deputada Bia Kicis.
Já Flávia abriria mão de sua reeleição como deputada para concorrer a senadora com a vitória praticamente assegurada, sem rivais competitivos e com o peso do sobrenome Arruda. Além disso, seu marido concorreria à Câmara.
Tudo mudou quando a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves passou a trabalhar pela mesma vaga após se filiar ao Republicanos, partido que à época disputava espaço com o PL na base bolsonarista e se queixava pela falta de espaço na campanha e na Esplanada.
Após meses de hesitação sobre se lançar candidata, também estimulada por Bolsonaro, Damares cogitou concorrer por São Paulo e pelo Amapá, mas acabou fixando domicílio eleitoral em Brasília.
Em julho, um mês antes do início da campanha, o então presidente, sob pressão de Valdemar, interviu para barrar Damares e garantir a candidatura de Flávia ao Senado.
Mas, na data limite da formalização das candidaturas, Damares se lançou como candidata avulsa ao Senado ao lado de Michelle Bolsonaro.
A movimentação provocou intenso desgaste e instaurou um clima de desconfiança entre a cúpula do PL e o bolsonarismo. Para completar o ocaso da ala “raiz” do partido, José Roberto Arruda teve sua candidatura à Câmara barrada pela Justiça Eleitoral.
Como mostramos em outubro, a disputa entre duas ministras de Bolsonaro acabou provocando um dilema na esquerda do Distrito Federal sobre um possível voto útil em Flávia, diante das posições consideradas extremistas de Damares – que acabou eleita com uma vantagem de quase 300 mil votos sobre a candidata do PL.