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Ministro da Fazenda terá duplo desafio: conciliar a agenda social do governo sem perder a mão das contas públicas - Foto: Ricardo Stuckert / Divulgação Equipe Lula
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sexta-feira 30 de dezembro de 2022 às 06:19h

Haddad não terá que ser bom, precisa ser excelente

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Não foi exatamente uma surpresa quando o governo central anunciou que a dívida pública do Brasil subiu quase R$ 93 bilhões de outubro para novembro. Mais da metade desse valor são provenientes dos juros que o governo teve que assumir para continuar se financiando e manter a máquina pública operante. No penúltimo mês da presidência de Jair Bolsonaro, a dívida pública atingiu o valor mais alto da história do Brasil: R$ 5,87 trilhões.

Com este dado em mãos é que começa a valer a partir de segunda-feira a gestão de Fernando Haddad à frente do Ministério da Fazenda. Conhecido por ser um gestor responsável, o petista será o centro das atenções nessa largada do governo Lula III, que nasce com uma responsabilidade social grande e problemas econômicos ainda maiores. Os interlocutores de Haddad confirmam o tamanho do desafio, mas garantem que o professor está preparado. Mas, mais do que isso, a aposta é que a pluralidade dentro do seu ministério e nas Pastas adjacentes (como Casa Civil, Planejamento, MDIC e Desenvolvimento Regional) serão necessários para que se encontrem soluções que atendam às complexas demandas que vão se impor ao longo de 2023.

No primeiro trimestre, o plano de Haddad é dar seguimento a reformas estruturantes, com foco na tributária. Para isso contará com a passabilidade política de Bernard Appy, que deve conduzir tal movimento. Para atração de recursos privados, Geraldo Alckmin deve comandar a via sacra. Ontem (28) a futura ministra do Planejamento, Simone Tebet, garantiu estar alinhada com as premissas da responsabilidade fiscal e disse estar na mesma página que Haddad. “Ambos somos descendentes de libaneses. Não tem como dar errado”, disse.

Mas sabemos que tudo pode dar certo até não dar mais. O paredão enfrentado pela ex-senadora envolve a raiz desenvolvimentista dos governos petistas, que usam a máquina pública como combustível para o motor da economia. A prática, inclusive, só foi interrompida em 2016, quando seu colega de legenda, Michel Temer, assumiu a presidência da República após o impeachment de Dilma Rousseff.

Ainda é cedo para cravar o espaço e voz que Simone terá em sua caminhada, mas estar alinhada com Haddad sem dúvida é um bom sinal. Na segunda-feira, antes de anunciar sua entrada no governo, ela se reuniu com o ex-prefeito de São Paulo e Lula, justamente com o plano de acertar os ponteiros.

O mercado reagiu bem ao nome de Simone, mas ainda espera para ver quais serão as reais funções da emedebista para entender os ventos que devem guiar o novo governo. Na parte de Haddad, o discurso permanece centrado em não haver grandes distorções Orçamentárias nem gastos mirabolantes. Em entrevista recente, ele afirmou ser possível fazer mais com o mesmo recurso, desde que ele seja melhor aplicado.

Um exemplo usado pela equipe de transição para mostrar a ineficiência do recurso despendido foram as medidas de auxílio que o governo Bolsonaro promoveu. Segundo a equipe econômica de Lula, que foi chefiada pelo vice-presidente eleito, houve um afrouxamento drástico nas regras que selecionava famílias para receber o benefício, além de não contar com contrapartidas. “Havia muito recurso saindo mas total descontrole de para onde, como e para quem o dinheiro estava chegando”. Em 2021 não faltaram denúncias de uso indevido de programas sociais como o auxílio emergencial.

Para contornar a situação, diz Haddad, é preciso voltar a mapear os brasileiros. “Temos que saber quem são, onde estão e do que precisam. Não se trata apenas de dinheiro. Precisa ter garantia de frequência escolar, carteira de vacinação em dia, carteira de trabalho tirada. O benefício financeiro é uma parte de um programa social mais amplo”, disse ele.

Na teoria o discurso é perfeito. Na prática pode encontrar resistência dentro do próprio partido que o forjou. Há um descontentamento de algumas alas do PT, em especial as tradicionais como os sindicatos de várias categorias, com o que eles definiram como falta de representatividade no novo governo. Esse tipo de inquietação pode envenenar outras alas dentro do partido. A menos que Lula, campeão mundial de conciliação, consiga contornar mais esse potencial foco de incêndio.

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