A quatro dias do fim de seu mandato como presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) passou a quarta-feira (28) em silêncio, sem aparições públicas e sem realizar a reunião de despedida que havia convocado antes de viajar para os Estados Unidos, onde pretende passar a virada do ano.
Apesar de interlocutores terem confirmado que o presidente reuniria ministros para a despedida, Bolsonaro disse nesta terça (27) à CNN Brasil que a notícia do encontro era “fake” e que também não viajaria nesta quarta.
O presidente passou o dia no Palácio da Alvorada, residência oficial, onde recebeu políticos, como o senador eleito Magno Malta (PL-ES). Do lado de fora, apoiadores aguardavam a aparição de Bolsonaro, que não saiu para cumprimentá-los até a noite, quando eles tiveram que deixar o local.
Nas redes sociais do presidente, foi publicado um vídeo que exaltava números de seu governo, como de apreensões de drogas, entregas de moradias e digitalização de serviços públicos.
Na terça, um caminhão de mudanças foi ao Alvorada. No Planalto, o gabinete presidencial já está vazio, sem os quadros e adornos do mandatário.
Bolsonaro deu poucas declarações após perder o pleito deste ano e em todas elas evitou parabenizar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou reconhecer a derrota.
Do ponto de vista formal, porém, autorizou o início da transição e deu poder para o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), fornecer ao governo eleito a estrutura necessária para preparar os projetos que pretende implementar a partir de 2023.
A expectativa é de que Bolsonaro passe o Réveillon em Orlando, nos Estados Unidos. Não foram divulgados, no entanto, informações sobre a viagem do mandatário ao exterior.
Um despacho no Diário Oficial da União desta quarta traz a informação de afastamento do país entre 28 e 29 de dezembro de um agente do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) “para compor a equipe de segurança de familiar do senhor presidente da República, em viagem à cidade de Miami”.
Também foi publicado no Diário Oficial da União a nomeação por Bolsonaro do general Júlio Cesar de Arruda como comandante interino do Exército.
Arruda foi escolhido para o comando da Força por Lula. A nomeação definitiva dele para o cargo deve ser assinada só depois da posse do petista, no domingo (1º).
Na mesma edição do Diário Oficial, Bolsonaro exonerou, sob a justificativa de necessidade do serviço, o futuro comandante da Marinha, almirante de esquadra Marco Sampaio Olsen, do cargo de comandante de Operações Navais.
Na tarde desta quarta, a Polícia Federal concluiu que o presidente atentou contra a paz pública ao disseminar notícia falsa que relacionava a vacina contra a Covid-19 ao risco de se contrair Aids, além de incitar a prática de crime ao estimular as pessoas a não usarem máscara de proteção.
O plano do atual presidente é se manter na política e liderar a oposição ao PT nos próximos quatro anos. Para isso, negociou com Valdemar Costa Neto, presidente do PL, a estrutura necessária para tentar seguir como líder do campo conservador no país.
A ideia é que o partido dê um salário a Bolsonaro equivalente ao teto constitucional do setor público. Além disso, deve ter uma casa alugada no bairro nobre de Brasília.
Bolsonaro tem evitado falar com aliados se pretende disputar novamente a Presidência no próximo pleito nacional. Pessoas próximas, no entanto, acham improvável que ele saia totalmente de cena e não trabalhe para voltar ao poder.