A escolha do policial Edmar Moreira Camata para comandar a Polícia Rodoviária Federal (PRF) enfureceu segundo Rafael Moraes Moura e a colunista Malu Gaspar, do O Globo, dirigentes petistas e integrantes do grupo Prerrogativas, que reúne advogados aliados de Lula e críticos aos métodos de investigação da Lava Jato.
Camata é um conhecido defensor da Lava Jato, e várias vezes se manifestou a favor das prisões da operação – inclusive a de Lula, que depois de ficar 580 dias encarcerado em Curitiba, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, teve as sentenças anuladas pelo Supremo Tribunal Federal em 2021.
Em 2018, Camata foi candidato a deputado federal pelo PSB capixaba com o lema “para a Lava Jato não acabar”.
Às vésperas do primeiro turno e com Lula preso, escreveu no Facebook:
“Até agora, já foram condenadas 188 pessoas na Operação Lava-Jato. Se as penas fossem somadas dariam 1861 anos e 20 dias. Não podemos deixar a maior operação anticorrupção do país parar, você concorda? Vote em um candidato que garanta a continuidade de pacotes anticorrupção.”
Assim que o futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou que Camata será o novo chefe da PRF, o grupo de WhatsApp do Prerrogativas – entre os quais estão diversos advogados de réus da Lava Jato –, entrou em polvorosa.
“Essa indicação do novo diretor geral da PRF é um desastre. O cara é admirador do Moro e do Dallagnol”, escreveu um integrante do Prerrogativas num grupo de WhatsApp. “Um absurdo total. Está deflagrada a primeira crise”, concordou outro membro.
Acontece que vários integrantes do grupo estão sendo convidados para cargos no governo Lula, inclusive no Ministério da Justiça. Se a indicação de Camata for confirmada, ele vai encontrar no ministério alguns ferozes adversários da Lava Jato – incluindo o futuro secretário Nacional de Justiça, Augusto Botelho, que foi advogado da empreiteira Odebrecht.
Por isso, uma ala do Prerrogativas tenta conter os ânimos para evitar que a insatisfação ganhe contornos públicos.
Na troca de mensagens, vários integrantes se manifestaram pedindo que as críticas se mantivessem entre eles. Mas, após a publicação desta reportagem, os advogados Fernando Fernandes e Carol Proner, ambos do Prerrogativas, enviaram mensagem informando que o grupo apoia Flávio Dino e o governo Lula. “Em uma frente ampla é natural certos desagrados. Não ha uma crise, não deliberamos sobre a matéria”, afirmou Fernandes.
Interlocutores de Flávio Dino defendem a escolha de Camata, cujo nome foi bem recebido por integrantes da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da Polícia Federal ouvidos reservadamente pela equipe da coluna.
“Lava-jatista nesse país até o Geraldo Alckmin foi”, disse um aliado de Dino, em referência ao vice-presidente eleito, ex-adversário de Lula.
“É uma pessoa com amplo conhecimento da instituição, uma vez que a integra há 18 anos e ao mesmo tempo tem experiência de gestão”, justificou o futuro ministro ao anunciar o nome do novo diretor-geral da PRF nesta terça-feira.
Contudo, quando o procuramos para comentar as críticas dos lulistas a seu diretor, Dino não se manifestou.
Este texto foi atualizado para incluir a posição dos advogados Carol Proner e Fernando Fernandes.