O União Brasil, que nas gestões de João Doria e Rodrigo Garcia (PSDB) ganhou amplo espaço no governo paulista, deve ter presença bem menor segundo Ivan Martínez-Vargas , do O Globo, no governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), mesmo tendo apoiado a candidatura do governador eleito desde o início do segundo turno. Os caciques do partido, em especial o grupo do antigo DEM, ainda buscam emplacar pelo menos um nome, para a Secretaria da Habitação.
Com as nomeações já anunciadas, Tarcísio não terá apadrinhados da sigla na área de Transportes e Logística, por exemplo, que ficará sob a alçada da supersecretaria de Infraestrutura, a ser comandada pela ex-consultora jurídica do Ministério da Infraestrutura Natália Resende, nome de confiança de Tarcísio. Quem perde com esse movimento é o grupo político do presidente reeleito da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (União). O vereador teve forte influência na área nos últimos anos. A pasta de Transportes é hoje ocupada por João Octaviano, próximo a Leite.
O presidente da Câmara foi um dos maiores aliados de Doria na prefeitura de São Paulo e no governo paulista e, quando Garcia assumiu o governo, foi um entusiasta de sua candidatura à reeleição. Garcia iniciou sua carreira política no DEM — em que Leite era um cacique —, até que, em maio de 2021, migrou para o PSDB.
A influência de Leite se estende, hoje, ao Departamento de Estradas e Rodagem (DER), vinculado à Secretaria de Transportes e responsável pela manutenção de rodovias e estradas estaduais não concedidas. Neste ano, o órgão foi irrigado por recursos para executar um parrudo programa de recapeamento e pavimentação de estradas vicinais. O DER iniciou 2022 com orçamento de R$ 8,74 bilhões e, até o último dia 15, já tinha empenhado R$ 11,38 bilhões.
Os mais recentes superintendentes do órgão foram indicados pelo vereador paulistano. De 2019 a 2021, o posto foi ocupado por Paulo Cesar Tagliavini, que trabalhou no gabinete de Leite. Em junho de 2021, assumiu o ex-secretário municipal de Transportes Edson Caram, próximo a Leite. Neste ano, ele foi substituído por Celso Gonçalves Barbosa, do mesmo grupo.
Tarcísio, no entanto, anunciou Sérgio Codelo para o DER. Coronel do Exército, ele tem a confiança do ex-ministro e é hoje superintendente regional do DNIT em São Paulo.
Deputados estaduais afirmam que Leite e seus aliados já esperavam ter de abrir mão de parte de sua esfera de influência para outras siglas, em especial o PSD de Gilberto Kassab e o próprio Republicanos de Tarcísio, mas não neste montante. Ainda há expectativa no grupo de obter a nomeação de um aliado para a pasta de Habitação, que hoje tem no comando Flávio Amary. A indicação de Leite seria a da urbanista Elisabete França, professora universitária e secretária-executiva da Secretaria Municipal de Habitação na gestão de Ricardo Nunes (MDB).
A disputa pela Habitação é grande. O núcleo bolsonarista do entorno de Tarcísio e alas do PSD batalham para emplacar o deputado federal Cezinha de Madureira (PSD-SP), embora hoje, segundo aliados de Tarcísio, sua nomeação seja pouco provável. Corre por fora, ainda, o grupo que comanda hoje a secretaria, que pleiteia permanecer na pasta.
Pessoas próximas ao governador eleito dizem que Elisabete não está descartada, mas que Tarcísio já teria manifestado sua intenção de blindar a pasta de indicações políticas. Tida como técnica, ela foi sugerida precisamente para driblar resistências neste sentido.
Se perderem a queda de braço pela Habitação, aliados de Leite cobiçariam a pasta de Transportes Metropolitanos, segundo interlocutores. Nessa, porém, o candidato mais forte seria Marcelo Cardinale Branco, ex-secretário municipal de Transportes na gestão de Gilberto Kassab.
A articulação política do futuro governo admite, no entanto, que será preciso fazer alguma concessão ao União Brasil, que elegeu sete deputados estaduais e terá a quinta maior bancada da Alesp — depois de PL, PT, PSDB e Republicanos.
Em paralelo, o grupo político de Leite pode ter de dividir um diminuto espaço na gestão Tarcísio com o do antigo PSL. Junior Bozzella, vice-presidente do diretório estadual do partido, afirma que “haverá uma reacomodação”.