Pelé, de 82 anos, segue no tratamento de um câncer de cólon direito. Segundo boletins do Hospital Israelita Albert Einstein, onde está internado, o ex-jogador não responde mais a quimioterapia e está sob cuidados paliativos. Na oncologia, o termo é usado para controlar dores e garantir o conforto do paciente, e pode ser feito já quando se inicia um tratamento de câncer.
Segundo Morgana Ribeiro, da revista IstoÉ, conforme o último boletim médico, o ex-jogador tem apresentado “melhora progressiva” do estado de saúde. Há alguns dias, porém, o jornal Folha de S. Paulo informou que a quimioterapia, tratamento a que Pelé estava submetido, foi interrompido porque os medicamentos já não funcionariam mais para estancar o crescimento de metástases. O ídolo estaria recebendo “cuidados paliativos”.
Ao contrário de falas populares, o tratamento não indica um ‘fim de vida’. “O cuidado paliativo, de acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS) deve ser ofertado no momento do diagnóstico de uma doença crônica que ameace a vida”, afirma Renata de Freitas, diretora do Hospital do Câncer IV/ Instituto Nacional de Câncer (INCA).
Também chamado de cuidados de suporte, o tratamento prevê uso de medicamentos para cada sintoma relacionado a dor, e também foca no cuidado psicológico, visando minimizar o sofrimento do paciente em todos os aspectos.
Diante do estado de saúde do astro do futebol, o tratamento designado acabou ‘assustando’ os fãs, e a IstoÉ Dinheiro conversou com especialistas no tema para esclarecer dúvidas gerais.
O que são cuidados paliativos?
Segundo a Dra. Maria Del Pilar Estevez Diz, coordenadora de Oncologia Clínica do Instituto do Câncer de São Paulo, a definição dos cuidados paliativos – também chamados cuidados de suporte – é o tratamento com medicamentos e o cuidado necessário para diminuir sintomas do câncer ou do tratamento: dor, náuseas, insônia, inapetência, cansaço, entre outros. “O ideal é que os cuidados paliativos comecem desde o início do tratamento oncológico”, afirma a médica.
Qual o objetivo do tratamento e por que é usado?
Existem fases da doença em que não há outra alternativa além dos cuidados paliativos. No caso de Pelé, a escolha do procedimento foi feita quando ele passou a não responder ao tratamento de quimioterapia. Há casos, segundo a Dra. Pilar, que o paciente recebe paliativos exclusivos quando não há tratamento específico.
Quais medicamentos são utilizados?
As medicações são muitas e dependem do que precisa ser tratado. De acordo com a Dra. Ignez Braghiroli, da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, no caso de dor, geralmente o tratamento envolve medicações opioides como a morfina, mas também outros procedimentos para tratar a dor. São muitas as opções que variam de acordo com as características de cada situação.
A morfina faz parte desse rol?
Segundo a especialista do Instituto do Câncer de São Paulo, todos os medicamentos aprovados pela ANVISA são permitidos nos cuidados paliativos. A morfina, por exemplo, é um dos medicamentos usados, e pode também provocar a sedação. A depender do caso, ela pode ser contínua e intermitente, caso o conforto não seja possível com o paciente acordado. A dosagem do fármaco só é definida de acordo com a gravidade do quadro clínico.
Quando o paciente sabe que está sob cuidados paliativos?
A Dra. Pilar explica que os passos do tratamento de câncer, assim como outros na medicina, devem ser baseados no diálogo e, portanto, o paciente e a família devem ser informados. “Ele (paciente) deve saber porque está sendo medicado. Caso o procedimento não tenha efeito, a equipe médica também deve informar”, explica a Dra. Pilar.
O termo ‘cuidados paliativos’ pode ser confundido?
“Quando falamos em cuidado paliativo, muitas vezes a ideia que vem à cabeça é de um paciente que está morrendo e não há mais o que fazer por aquela pessoa. É importante desmistificar esse conceito, pois é justamente o oposto: sempre há o que fazer pelo paciente, pois não existe limites para o cuidado”, explica Sarah Ananda Gomes, líder do setor de Cuidados Paliativos do Grupo Oncoclínicas.
“São cuidados para pessoas com alto grau de sofrimento, seja potencial (diagnóstico de uma doença grave e tem uma jornada pela frente) ou real (quando o paciente está sofrendo): desde o diagnóstico; em conjunto com outros tratamentos; na fase final; e se estende também ao período ao luto, com o suporte aos familiares e cuidadores”, finaliza a especialista.