Enquanto na Câmara Arthur Lira (PP-AL) está construindo um cenário em que não deve ter adversários competitivos para disputar a reeleição em fevereiro, no Senado Rodrigo Pacheco (PSD) vem avançando por apoios, mas terá de enfrentar um concorrente do campo bolsonarista. Nos últimos dias, o presidente da República consolidou o nome do ex-ministro Rogério Marinho, recém-eleito senador pelo PL, como o candidato para enfrentar Pacheco.
O presidente do Senado articula apoios desde o ano passado e deverá ter os votos do bloco ligado a Lula na Casa, adesão reforçada por enfrentar um adversário escolhido por Bolsonaro. Ele largou na frente na articulação com outras bancadas importantes, como a do MDB e a do União Brasil, mas vinha atuando até aqui praticamente como candidato único, e passará a ter um concorrente em busca de votos.
Recluso no Palácio da Alvorada desde as eleições, Bolsonaro tem entrado em contato com aliados para pedir votos em favor de Marinho. O plano de lançar o correligionário foi revelado pelo colunista Lauro Jardim. Os movimentos do presidente se intensificaram nos últimos dias. Na terça, ele recebeu os líderes do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), e no Congresso, senador Eduardo Gomes (PL-TO).
— Rogério me parece ter viabilidade. Ele conta com apoio de partidos com os quais já tivemos jantares e reuniões — disse Carlos Portinho.
Com 14 integrantes, a bancada do PL passará a ser a maior do Senado na próxima legislatura. A tradição de o partido com mais senadores ocupar a Presidência foi quebrada em 2019, quando Davi Alcolumbre, então no DEM, venceu.
No dia seguinte à agenda com Portinho e Eduardo Gomes, Bolsonaro conversou a portas fechadas com o próprio Rogério Marinho no Palácio do Planalto. Ele também tem falado frequentemente com o presidente do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto. Nas reuniões como esses correligionários, a pauta de Bolsonaro foi a mesma: as estratégias para o partido garantir espaços de destaque no Senado — o maior deles, a presidência — para dificultar a governabilidade do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A opção por Marinho, ex-ministro do Desenvolvimento Regional, passa pelo pragmatismo político de Valdemar. O senador eleito pelo Rio Grande do Norte é visto como nome capaz de angariar apoios de diferentes matizes ideológicas. Ex-deputado, ele esteve à frente da articulação da Reforma da Previdência quando era secretário especial do Ministério da Economia. Depois foi promovido a ministro e seguiu com bom trânsito no Congresso. Sua pasta era uma das que mais distribuíram recursos do Orçamento Secreto, o instrumento por meio do qual deputados e senadores destinavam verbas da União a seus redutos sem serem identificados.
O PSD de Pacheco terá a segunda bancada mais numerosa, com 12 senadores. Nas contas dos envolvidos na disputa, o atual presidente larga na frente por ter costurado a adesão de mais grupos, enquanto Marinho ainda precisará buscar apoios além do PL.
Pacheco já conta com o apoio do PT, MDB, PSD e União Brasil. Somadas, essas legendas terão 40 senadores na próxima legislatura. A equação política, contudo, não é linear. Como o voto é secreto, é comum haver traições no dia da eleição.
Um dos principais aspectos favoráveis a Pacheco é a boa interlocução que ele deverá ter com o futuro governo. Internamente, no PT, o senador é visto como a alternativa mais viável e competitiva para impedir que um aliado de Bolsonaro assuma o Senado.
Embora Pacheco não tenha uma trajetória recente ligada à esquerda, ao longo dos últimos dois anos, ele se antagonizou ao governo em diversas ocasiões, sobretudo nos episódios em que Bolsonaro fez ataques a outros Poderes.
— Rodrigo (Pacheco) fez uma excelente gestão e tem totais condições de seguir à frente do Senado — diz Otto Alencar (PSD-BA).
Um apoio importante é do MDB, que lançou candidato em todas as últimas eleições no Senado. O líder da bancada, Eduardo Braga (AM), se comprometeu em apoiar Pacheco. O mesmo compromisso foi dado por Paulo Rocha (RN), líder do PT, e Davi Alcolumbre, líder do União Brasil.
Eleição na Câmara
As bancadas do Solidariedade e PROS, partidos que estão em processo de incorporação, anunciaram nesta sexta-feira o apoio à reeleição de Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara dos Deputados. Com a decisão, já são doze legendas em torno da candidatura de Lira, contando com os prováveis apoios do PL e PSD.
Os presidentes do Solidariedade, Paulinho da Força, e o do Pros, Eurípedes Gomes Júnior, afirmaram em nota que a decisão leva em conta o fato de Lira representar “a unidade que o Brasil precisa para voltar a crescer” e o “conjunto de forças em defesa da democracia”.
Com esses dois partidos, o presidente da Câmara já recebeu o apoio formal ou a sinalização de ao menos doze siglas que, somadas, reunirão 335 dos 513 deputados.