A pouco mais de um mês para o fim de seu mandato à frente da Presidência e após ter sido derrotado nas eleições deste ano, o presidente Jair Bolsonaro (PL) segue com agenda reduzida. Apesar de ter retomado o expediente no Palácio do Planalto depois de reclusão de 20 dias, o atual chefe do Executivo federal ainda não retomou a média de compromissos que tinha antes do pleito presidencial de outubro.
Segundo Mayara Oliveira, do portal Metrópoles, na última semana, por exemplo, foi a quarta sem a tradicional live de Bolsonaro. O encontro virtual com apoiadores está abandonado desde 27 de outubro, poucos dias antes do segundo turno da eleição, que teve Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como vitorioso.
Ao longo do mandato, no entanto, o atual presidente abandonou outras práticas que tinham potencial para serem marcas registradas de seu governo. Um exemplo foram as reuniões ministeriais.
Em 3 de janeiro de 2019, Jair Bolsonaro comandou o primeiro encontro do Conselho de Governo, presidido por ele e integrado por ministros de Estado. O grupo tinha a atribuição de assessorar Bolsonaro na formulação de diretrizes de ação governamental. A ideia era que as reuniões fossem semanais, sempre às terças-feiras.
Hasteamento da Bandeira Nacional
Com o passar do tempo, porém, essas agendas perderam a força, e a frequência das reuniões com ministros reduziu. De acordo com a agenda oficial de Bolsonaro, o mais recente encontro ocorreu em julho deste ano.
Antes de comandar as reuniões do Conselho de Governo, o presidente Jair Bolsonaro tinha o costume conforme Mayara Oliveira, de convocar os ministros a participarem da cerimônia de hasteamento da Bandeira Nacional. As solenidades ocorriam no gramado do Palácio da Alvorada.
A mais recente cerimônia de hasteamento da bandeira ocorreu em 17 de março, mesmo dia da penúltima reunião ministerial, segundo registros oficiais.
100 dias de governo
Bolsonaro também tinha o hábito de celebrar a gestão a cada 100 dias. No total, o presidente fez quatro cerimônias para comemorar 100, 200, 300 e 400 dias de governo. Os eventos contavam com grande estrutura tecnológica e organização.
Em meio à pandemia da Covid-19, no entanto, o mandatário abandonou a prática, sob o risco de ser criticado por celebrar seu governo. Na ocasião, tiveram início as críticas e os julgamentos em relação à forma com que a gestão federal conduzia a crise sanitária.
Na época em que eram realizadas, cada cerimônia tinha uma média de gastos estimada em R$ 21 mil. Os eventos exigiam telões de LED; estrutura elétrica, de equipamentos e de fixação necessária ao seu funcionamento; arte publicitária; fundo de palco em lona; convites digitais.
Quando completou 500 dias, em 15 de maio de 2020, o governo Bolsonaro organizou uma coletiva de imprensa com cinco ministros para marcar a data, mas sem a participação do presidente.
A entrevista ficou marcada por declarações em defesa da atuação federal durante a pandemia. Na mesma data, Nelson Teich havia pedido exoneração do cargo de ministro da Saúde, menos de 20 dias após ter assumido o posto.
Na ocasião, o governo manteve o discurso de que o impacto econômico poderia causar mais mortes do que a pandemia, manifestou-se contra medidas de restrição e criticou a forma como o isolamento social foi adotado no país.
Lives
Uma das marcas registradas do governo Bolsonaro foram as tradicionais lives. O encontro semanal do presidente tinha o intuito de apresentar ao eleitorado as ações da gestão federal, além de comentar os mais diversos assuntos e anunciar novas medidas. O espaço também servia para que o mandatário do país criticasse abertamente a imprensa e os Poderes Legislativo e Judiciário.
Na maioria das transmissões, o presidente convidava alguma autoridade do governo para falar com seus apoiadores. A primeira live após a posse ocorreu em 7 de março de 2019. Antes de assumir o comando do Palácio do Planalto, ainda na campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro tinha o costume de fazer as transmissões também semanalmente, mas interrompeu a prática.
Quando retomou a rotina, foram raras as vezes em que Bolsonaro não teve o encontro informal com seus apoiadores. Ao todo, o presidente realizou 191 lives ao longo do mandato à frente do Executivo federal.
Neste ano, após fracassar na missão de se reeleger, o mandatário do país abandonou as transmissões. Por quatro semanas consecutivas, Bolsonaro não promoveu lives. É a primeira vez, em tanto tempo, que o presidente deixa de cumprir as agendas virtuais com apoiadores em 2022. Nos anos anteriores, ele interrompeu a prática em apenas três ocasiões.
Na primeira, em 24 de outubro de 2019, a live não foi realizada “por questões logísticas da agenda internacional”, já que o presidente estava na China, em um fuso de 11h à frente do horário de Brasília.
Na segunda ocasião, em janeiro de 2020, Bolsonaro teve de cancelar a transmissão ao vivo por motivos de saúde. Na noite daquela quinta-feira, ele deu entrada no Hospital das Forças Armadas (HFA), em Brasília.
Em outra oportunidade, em 15 de setembro do ano passado, o presidente foi orientado a cancelar a live semanal após ter sido internado com uma obstrução intestinal.