Com dificuldade na articulação da “PEC da Transição”, proposta de emenda à Constituição que abre espaço no Orçamento do ano que vem para cumprir as promessas eleitorais de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líderes do PT e de outros partidos da aliança se encontram nesta sexta-feira (25) com o presidente eleito em São Paulo para propor que ele acelere a indicação de seu futuro ministro da Fazenda. As informações são de Manoel Ventura e Jeniffer Gularte, do O Globo.
O diagnóstico de petistas e aliados é que falta um “rosto” para encampar a medida que permitirá ao novo governo pagar o Bolsa Família de R$ 600 em 2023 e também outros gastos. A dificuldade de avançar com a PEC no Congresso fez com que Lula passasse a ser pressionado até mesmo por aliados para anunciar seu ministro da Fazenda.
Entre eles está o senador pela Bahia, Jaques Wagner (PT), que ontem afirmou que o que falta é “ministro da Fazenda” para destravar as negociações da proposta de emenda à Constituição. O senador é dum dos aliados que levarão a Lula hoje o diagnóstico da necessidade de um ministro da Fazenda indicado.
A cúpula do PT deve participar em peso desse encontro, entre eles Wagner e a presidente do PT, Gleisi Hoffman, além do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB). O presidente está há duas semanas sem ir a Brasília, primeiro por conta da COP27 e depois para se recuperar de uma cirurgia na garganta.
Haddad é o mais cotado
Enquanto Lula não define sua Esplanada, aliados do presidente eleito, dentro e fora do PT, colocam Fernando Haddad como o mais cotado para assumir o posto.
Um dos indicativos foi o fato de o presidente eleito ter escalado o ex-ministro para representá-lo no tradicional Almoço Anual de Dirigentes de Bancos da Febraban, que acontece hoje, em São Paulo, com a presença do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A notícia foi antecipada pela colunista do GLOBO Míriam Leitão.
A PEC hoje tem um impacto de quase R$ 200 bilhões, mas tende a ser desidratada na negociação com o Congresso, que tem dificuldades para avançar.
A pressão para que Lula escolha logo o ministro da Fazenda, uma demanda do mercado financeiro desde que foi anunciado o resultado da apuração do segundo turno da eleição presidencial, no fim de outubro, foi escancarada ontem por um dos principais aliados de Lula, o senador Jaques Wagner (PT-BA), para quem a dificuldade de destravar a aprovação da PEC se dá pela ausência de um nome para a pasta.
— Acho que falta mais, por enquanto, é um ministro da Fazenda — afirmou Wagner, quando questionado por jornalistas se falta um articulador empoderado por Lula para agilizar o andamento da PEC no Congresso. — O problema é que não tem nome na mesa, tem na cabeça do presidente — completou ele.
A leitura entre petistas é que a fala de Wagner representa um sentimento de que falta alguém para negociar, pedir e cobrar o engajamento de líderes de partidos aliados. O senador foi escalado para assumir a articulação política da PEC no Congresso e tem sido considerado o “Casa Civil” da transição.
Na quarta-feira, Wagner recebeu uma romaria de deputados e senadores no seu gabinete. As conversas contaram com outros nomes do núcleo duro petista, como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o deputado José Guimarães (CE) e o líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG).
Dobradinha com Persio
Na tentativa de arrefecer as desconfianças do mercado financeiro com Haddad, integrantes da transição afirmam que o economista Persio Arida, ex-presidente do BNDES e um dos pais do Plano Real, poderia compor uma dobradinha com ele na equipe econômica.
Uma das alternativas aventadas é Persio ser escolhido para o Ministério do Planejamento, mas ainda não houve convite, de acordo com interlocutores. Essa pasta será recriada por Lula, já que hoje está integrada ao Ministério da Economia. Essa possibilidade animou o mercado ontem, que fechou com alta da Bolsa e queda do dólar.
Dentro do grupo de transição, a avaliação é que a indicação de Arida para o Planejamento, além de reduzir as resistências do mercado a Haddad, criaria pontes do novo governo com segmentos do setor financeiro e empresarial. Além disso, indicaria que Lula está construindo um governo de coalizão, escolhendo não apenas nomes do PT ou aliados mais próximos para a Esplanada.