Com o aumento de sua representatividade no Congresso, o partido Republicanos promete segundo a Folha de S. Paulo, ser independente no mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Um papel bem diferente do que a sigla desempenha hoje, apoiando a gestão de Jair Bolsonaro (PL).
O partido avalia que possíveis acenos a Lula poderão, inclusive, fragilizar a principal aposta do partido hoje, o governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
O deputado Marcos Pereira, presidente da sigla e pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, disse à Folha que não vislumbra a hipótese de correligionários comporem a base de Lula. Ele descarta, porém, uma oposição fervorosa ao governo petista.
“Vamos ser o partido independente na Câmara e no Senado. Não vejo, diante dos movimentos que fizemos, agora virar partido de base de Lula”, disse Pereira.
“Há pautas importantes que vamos apoiar, e outras, não. Por exemplo, se o Lula mandar para a Câmara um projeto sobre a distribuição de renda, a manutenção do Auxílio Brasil, que não está garantida no Orçamento, podemos ser favoráveis”, cita o deputado.
“Por outro lado, se manda projeto para revogar a reforma trabalhista e ferir a autonomia do Banco Central, vamos ser contra. Ser independente é isso.”
Ao longo do atual governo, Pereira chegou a ser criticado por aliados de Bolsonaro por ceder um apoio vacilante ao chefe do Executivo.
No início deste ano, o presidente dos Republicanos ameaçou não embarcar na coligação de Bolsonaro, mas foi convencido a permanecer após receber a filiação do ex-ministro Tarcísio de Freitas, a ex-ministra Damares Alves e o vice-presidente, Hamilton Mourão.
Na convenção do PL em que oficializou a candidatura de Bolsonaro, em julho deste ano, a ausência de Pereira deflagrou outra crise. Na ocasião, ele disse que não compareceu porque tinha compromissos agendados anteriormente.
Com 17 anos de existência, o Republicanos viveu o seu apogeu na eleição deste ano. Foram eleitos pelo partido 41 deputados federais, dois senadores (Damares e Mourão) e dois governadores.
Em 2018, a sigla conseguiu eleger 30 deputados, um senador e nenhum governador.
Em São Paulo, Tarcísio de Freitas impôs uma derrota histórica ao PSDB, que administrava o estado desde 1995, com breves interrupções.
Já Wanderlei Barbosa foi escolhido para governar o Tocantins. Contabilizando as populações paulista (46 milhões de habitantes) e tocantinense (1,6 milhão), o Republicanos terá 22,6% da população nacional sob a sua administração —o PT vem atrás com 14,5% da população.
Tarcísio desponta como uma das principais apostas a partir de 2023. Ele sucederá o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB) no Palácio dos Bandeirantes. “O Tarcísio é uma liderança política que já nasce muito grande e fará um excelente primeiro mandato”, disse o líder do Republicanos.
No Senado, Damares Alves (DF) e Hamilton Mourão (RS) vão representar a sigla. Com essa composição, Pereira acredita que o Republicanos provou o seu espectro político de centro-direita. “Nós não somos radicais”, diz Pereira, que suavizou a atuação de Damares para apresentá-la como uma política moderada.
“A fala da Damares sobre o presidente deixar o Palácio de cabeça erguida [comprova sua moderação]. Poderia até dizer se teve isso ou aquilo.”
Presidente do Republicanos desde 2011, Pereira diz que, ao assumir, compôs um projeto para consolidar o crescimento da legenda, o que ficará mais viável a partir do final da cláusula de barreira e das coligações, cuja intenção é estimular a fusão de siglas.
O partido também está atento a uma possível debandada do PSDB, cada vez mais enfurnado numa crise e perdendo espaços no poder.
“[O Republicanos] pode ser o caminho para alguns deles [tucanos], mas a gente precisa dialogar com cada liderança”, afirma Pereira. “Não tenho dúvida de que o Republicanos está se consolidando como um dos principais players políticos.”