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Edir Macedo, fundador da Igreja Universal, e o ex-presidente Lula Fotos de arquivo
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quinta-feira 3 de novembro de 2022 às 14:34h

Bispo Edir Macedo agora fala em perdoar Lula, eleito por ‘vontade de Deus’

ELEIÇÕES 2022, NOTÍCIAS


O bispo Edir Macedo, líder de uma das igrejas evangélicas que fizeram oposição ferrenha a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), defende agora que a posição mais cristã é perdoar o presidente eleito e “bola pra frente”.

“Não podemos ficar com mágoa, porque é isso que o diabo quer”, afirmou o fundador da Igreja Universal do Reino de Deus.

“O diabo quer acabar com sua fé, com seu relacionamento com Deus por causa de Lula ou dos políticos. Não dá, não dá, minha filha, bola pra frente, vamos olhar pra frente.”

A modulação no discurso foi feita numa live que o bispo postou em suas redes sociais. No vídeo, Macedo disse que orou por Jair Bolsonaro (PL), mas que a vitória de Lula foi uma escolha divina.

“Eu orei, ‘ó, Deus, quero que Bolsonaro ganhe’. Mas seja feita Vossa vontade, sobretudo, porque o Senhor é quem manda.”

O ex-presidente que voltará para um terceiro mandato “supostamente ganhou segundo a vontade de Deus, mas quem ganhou fomos nós, os que cremos”, afirmou o líder neopentecostal.

Macedo iniciou sua fala contando de um culto na véspera, em Genebra, em que a mensagem central foi o perdão. “Falamos que as pessoas devem perdoar para que possam ser perdoadas. É o que Jesus ensina, o que nós cremos.”

Segundo o bispo, por carregarem muita mágoa e ressentimento, muitos têm dificuldade de perdoar, “e quanto mais tempo passa, mais difícil vai ficando”.

Em seguida, ele afirmou que “não precisa sentir para perdoar”, porque “o perdão é uma atitude pensada, raciocinada, é uma atitude racional, porque se você esperar sentir, no coração, vontade de perdoar, você não vai perdoar nunca, jamais, em tempo algum, porque o coração é indomável”.

Desculpar alguém que lhe feriu é possível, sim, portanto. “Mas como? Orando pela pessoa que nos fez mal.”

Ex-aliado de Lula que em 2018 endossou o bolsonarismo, Macedo contou que, na reunião, uma fiel trouxe o tema político à tona: “Todo mundo ouve ela gritar, ‘eu perdoo você, Lula, que fez tanto mal para o Brasil, que fez o que fez’”.

“E aí me veio o discernimento de quantas pessoas neste Brasil ou pelo mundo afora, especialmente cristãos, quantos devem ter ficado irados contra o Lula e magoados e agarraram um sentimento de mágoa contra ele. Ora, minha amiga e meu caro amigo, vamos colocar a cabeça no lugar, nós fizemos as nossas escolhas. Ei, e a escolha foi da maioria, obviamente, que votou.”

Completou: “Sua fé não vai valer de nada se você não perdoar”.

Nos bastidores do poder evangélico, a adesão da Universal à candidatura vencedora, fosse a que fosse, era favas contadas. Macedo se alinhou a todos os presidentes desde Fernando Collor, em 1989.

Em setembro, a Folha publicou reportagem mostrando que alguns candidatos ligados à Universal omitiam o nome de Bolsonaro de seus santinhos políticos. Um deles é Marcos Pereira, presidente do Republicanos, costela partidária da denominação. Pereira é um dos nomes que circulam para peitar Arthur Lira (PP-AL) na eleição para a próxima presidência da Câmara dos Deputados.

Publicamente, a igreja se posicionou ferozmente contra Lula e a esquerda em geral. A Folha Universal, jornal da casa, produziu editoriais em série nesse sentido. O texto publicado no domingo seguinte ao 7 de Setembro bolsonarista dizia que a esquerda podia “chorar copiosamente” à vontade, porque “as “manifestações cívicas” galvanizadas pelo presidente deixaram claro que “o líder supremo da esquerda no Brasil não terá vida fácil”.

Apego maior ao bolsonarismo é creditado ao bispo Renato Cardoso, genro de Macedo e apontado como seu sucessor. Foi ele quem assinou texto fulminando a ideia de um cristão poder ser de esquerda.

Bispos mais antigos na hierarquia da Universal, contudo, seriam menos entusiastas da defesa intransigente de Bolsonaro. Na visão dessa velha guarda, faltaria a Renato habilidade política.

Macedo tem um histórico de vaivéns com Lula. Em 1989, incentivou a demonização do petista, então candidato de primeira viagem.

Três anos depois, o líder evangélico em ascensão foi preso, acusado de práticas como charlatanismo. Lula foi um dos raros políticos a visitá-lo na prisão. “Se não tomarmos cuidado, daqui a pouco a polícia está na sua casa, prendendo sem critério”, disse à época.

A Universal retomou a hostilidade com ele nas campanhas seguintes, vencidas pelo tucano FHC.

Os dois se reconciliaram quando o PT entrou no Palácio do Planalto, em 2002. O então vice de Lula, José Alencar, era do PL, partido que concentrava nomes da Universal, e depois migrou para o PRB (atual Republicanos), arquitetado pela igreja em 2003.

Em 2018, Macedo a princípio optou por endossar Geraldo Alckmin. Declarou voto em Bolsonaro de última hora, quando ficou claro que o ex-governador paulista, hoje vice de Lula, não tinha chances naquele pleito.

A opção por perdoar Lula é vista como fisiológica por pares evangélicos. Após o triunfo lulista, vários pastores bolsonaristas baixaram o tom e lembraram que a Bíblia manda orar pela autoridade constituída, mas a sinalização de Macedo subiu alguns degraus nessa benevolência com o homem que até ontem era defenestrado por praticamente todas as lideranças de expressão nacional do país.

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