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segunda-feira 24 de outubro de 2022 às 10:40h

Analistas melhoram expectativas para inflação e economia em 2022 e 2023 no Focus

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A testemunha coloca seu texto no púlpito de frente para o juiz do tribunal de Moscou, e então começa a ler em voz alta: “Este homem é um mentiroso, ele é propenso a maquinações, ele é membro de uma seita política antirrussa”.

O homem está na sala, na jaula de vidro reservada ao réu. De lá, ouve essa mulher dizer que deve apodrecer na prisão porque se opõe à ofensiva russa na Ucrânia.

Sua advogada, Maria Eismont, escuta com ar de descrença. Depois de cinco minutos, ela se levanta e interrompe a declaração.

A AFP acompanhou Eismont, de 47 anos, especialista em defesa de opositores, por duas semanas. Em meio à repressão na Rússia, ela fala sobre suas motivações e conta a história do sistema a partir de dentro.

“Este depoimento não responde à pergunta. Estamos ouvindo uma lição muito estranha, uma espécie de boato, um texto que fala de pessoas que não têm nada a ver com o caso”, denuncia a advogada, com sua voz aguda e um tanto rouca.

“Querida advogada, este texto diz que o réu, que se apresenta como uma ovelhinha inocente, participou de ações antirrussas”, responde a testemunha, incentivada pelo juiz a continuar.

O depoimento, que parecia ser uma acusação, continuou no tribunal de Moscou. A voz da testemunha fica mais alta, misturando-se com o barulho do teclado do secretário.

O acusado, Dmitri Ivanov, de 23 anos, apresentava um programa da oposição no aplicativo de mensagens Telegram direcionado aos estudantes da Universidade Estatal de Moscou. Foi preso em abril e acusado de “difusão de informações falsas” sobre o exército e pode enfrentar 10 anos de prisão.

A testemunha, Liudmila Grigorieva, de 62 anos, é pesquisadora de Física e Química na mesma universidade, a mais renomada do país.

Eismont deixa a audiência desapontada. Ela lamenta que o relato do exército russo seja usado como uma “verdade a priori” no julgamento, sem qualquer verificação dos fatos.

 “Nada mudou”

Alguns dias antes, Eismont estava na prisão moscovita de Butyrka para ver um de seus clientes mais conhecidos, o opositor Ilia Yashin, detido em junho por denunciar a invasão da Ucrânia.

“Toda a nossa vida mudou, há uma guerra horrível, nós choramos, estamos desmoralizados, vemos essa tragédia todos os dias. Mas do ponto de vista do funcionamento deste sistema, nada mudou”, afirma Eismont.

“Há muito tempo”, diz, é “impossível” provar sua inocência na Rússia.

O poder busca isolar ao máximo os opositores presos e limita cada vez mais o acesso do público aos julgamentos.

Eismont se esforça para manter uma aparente transparência em resposta aos processos oficiais, ao mesmo tempo em que apoia as famílias.

“Ela é como uma terapeuta”, afirma Valeri Yashin, 62 anos, pai do opositor. “Acalma nossas emoções o máximo possível”.

Advogada desde 2018 após uma carreira no jornalismo, Eismont defendeu muitos críticos do presidente russo Vladimir Putin, particularmente a ONG Memorial, pilar da defesa dos direitos humanos e uma das ganhadoras do Prêmio Nobel da Paz este ano.

Desde o início do conflito, a advogada e mãe de três filhos diz ter recebido em sua casa mais de 70 refugiados ucranianos em trânsito.

Ela não tem planos de deixar o país, ao contrário dos milhares de russos que fogem da repressão militar e do recrutamento. “Eu tenho pessoas para ajudar aqui”, afirma.

Raramente ganha seus casos, mas isso não importa.

“Temos que estar sempre prontos. Temos que continuar exigindo respeito aos direitos e à lei, mesmo que ninguém se importe”, defende.

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