Segundo o IstoÉ, em articulação para colocar o primeiro brasileiro na presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) desde sua fundação, o governo Jair Bolsonaro (PL) pode enfrentar, além de um cenário geopolítico espinhoso, resistências domésticas no caso de eventual eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aparece à frente na corrida para o segundo turno.
A equipe de Bolsonaro já iniciou conversas informais com outros países para angariar apoio, tendo como principal cotado o ex-presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, hoje responsável pelo hemisfério ocidental no Fundo Monetário Internacional (FMI). A indicação, segundo uma fonte do governo, deve ser formalizada nos próximos dias.
Mas dois conselheiros próximos a Lula disseram à Reuters preferir que as eleições para o banco, que investe em projetos na América Latina e o Caribe, ocorram apenas no ano que vem, de modo que a indicação brasileira possa refletir escolhas de um governo recém-eleito. A votação está atualmente prevista para o dia 20 de nove
Uma terceira fonte do PT, ouvida em condição de anonimato, pontuou que o nome de Goldfajn não seria a escolha do governo Lula, com conversas preliminares no entorno do ex-presidente favorecendo a candidatura do economista André Lara Resende, um dos integrantes da equipe econômica que implementou o Plano Real e que declarou seu voto a Lula já no primeiro turno.
Ex-ministro da Fazenda dos governos petistas, Guido Mantega avaliou que as chances de Bolsonaro emplacar um presidente do BID no atual cenário seriam muito baixas, ressaltando que o governo brasileiro não conseguiu apoio para comandar o banco nem mesmo quando Donald Trump, aliado próximo de Bolsonaro, presidia os Estados Unidos.
Uma vitória do ex-presidente Lula nas urnas tornaria o cenário ainda mais adverso para a indicação do atual governo, num momento em que mais países da região estão alinhados à esquerda, o que pode gerar resistências a um nome apresentado por Bolsonaro.
“Se o presidente Lula ganhar a eleição, ele poderá fazer uma pressão junto ao governo americano para postergar essa eleição, já apresentando um outro candidato brasileiro”, disse Mantega, ponderando se tratar de uma avaliação pessoal.
Ao argumentar que uma definição de nome pelo PT dependeria de Lula, Mantega disse que Ilan provavelmente não seria o escolhido, embora seja um profissional de alto nível. Para ele, Lara Resende teria mais perfil para o posto.
“O Ilan é um banqueiro central, o Lara Resende já foi presidente do BNDES (no governo Fernando Henrique Cardoso). Administrar um banco central é diferente de administrar um banco de desenvolvimento, um está com o pé no freio, o outro com o pé no acelerador.”
“O BID tinha que refletir” a circunstância em que acontece a eleição, diz ele, frisando tratar-se de “uma opinião pessoal, estritamente”. “Sublinha trinta vezes ´pessoal´”.
“Se os EUA querem ter uma boa relação com a América Latina, o BID é um instrumento absolutamente fundamental para ajudar, inclusive, a financiar questões de meio ambiente”, comentou ainda.
O BID irá eleger seu próximo presidente depois que Claver-Carone foi destituído do cargo após um escândalo envolvendo investigação sobre um relacionamento dele com uma subordinada. Cada país membro, através de seu governador, tem direito a uma nomeação, que pode ser substituída ou retirada até o dia 11 de novembro.
Isso significa que o ministro da Economia, Paulo Guedes, que é o governador do Brasil no órgão, seguirá com a prerrogativa de fazer a indicação independentemente do resultado das eleições brasileiras.
Em defesa da nomeação, uma fonte da pasta afirmou que o governo trabalha para apresentar um nome acima de qualquer espectro ideológico partidário.
“Não estamos buscando um nome que politize a instituição. Pelo contrário, indicaremos um nome técnico, de reputação inquestionável, com larga experiência no setor público e privado”, disse.
O México já anunciou que também pretende apresentar uma candidatura para o BID, de Alicia Barcena, ex-executiva da Comissão Econômica da ONU para a América Latina (Cepal).
(Reportagem adicional de Brad Haynes e Flavia Marreiro)