A China designou um novo embaixador para o Brasil, após mais de seis meses em que o posto ficou vago com a saída de Yang Wanming. O escolhido para chefiar a missão diplomática em Brasília é o atual embaixador de Pequim no México, Zhu Qingqiao.
De acordo com interlocutores, o agrément –nome formal na diplomacia para o pedido de aval– já foi solicitado por Pequim e concedido pelo Itamaraty. O governo Jair Bolsonaro (PL) já esperava pela nomeação. Em conversa recente, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse ao chanceler Carlos França que o documento seria enviado em breve.
Zhu teve duas passagens anteriores pelo Brasil durante sua carreira na diplomacia chinesa. Entre 2009 e 2014, foi ministro conselheiro na missão em Brasília, depois de ocupar cargos iniciais entre 1996 e 2003.
A chancelaria chinesa é bastante regionalizada, o que significa que um diplomata normalmente se dedica a temas correlatos durante toda a carreira. Nesse sentido, Zhu já teve passagens pela embaixada em Moçambique, outro país lusófono, e cumpriu diferentes funções no Departamento de Assuntos da América Latina, órgão que chegou a dirigir.
De acordo com interlocutores, o novo embaixador fala bem português.
Além da carreira na chancelaria, Zhu ocupou recentemente o cargo de vice-prefeito na cidade portuária de Zhuhai.
A nomeação se dá em meio ao processo eleitoral no Brasil –onde o segundo turno presidencial será realizado no próximo dia 30, opondo Bolsonaro a Luiz Inácio Lula da Silva (PT)– e à realização do 20º Congresso do Partido Comunista Chinês, em que é esperada a definição de um terceiro mandato para o líder Xi Jinping.
Yang Wanming deixou o Brasil no início deste ano, após uma missão marcada, num primeiro momento, por atritos com autoridades do governo Bolsonaro –principalmente com o Ernesto Araújo. O estridente ex-chanceler chegou a pedir a Pequim a substituição de Yang. Foi ignorado.
Após a demissão de Ernesto, em março de 2021, houve uma gradual reaproximação do então embaixador chinês com a atual gestão no Itamaraty.
Yang, de toda forma, protagonizou os momentos mais críticos nas relações sino-brasileiras, sob o atual presidente. Ele trocou ataques públicos nas redes sociais, por exemplo, com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente da República.
Em março de 2020, o parlamentar publicou um texto comparando a pandemia da Covid-19 ao acidente nuclear de Tchernóbil (1986), afirmando que a ditadura chinesa tinha responsabilidade pela disseminação da doença, ao ter preferido esconder uma informação grave por medo de desgaste.
Yang classificou a fala de “insulto maléfico”, e o perfil oficial da embaixada veiculou uma publicação que acusava o deputado de ter contraído um “vírus mental”.
Meses depois, no auge dos ataques à Huawei, gigante chinês de telecomunicações, Eduardo acusou a China de promover a espionagem industrial via equipamentos 5G. “Tais declarações infundadas não são condignas com o cargo de presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara”, respondeu a representação diplomática, em referência ao cargo que o filho do presidente ocupava.
Ernesto tomou as dores de Eduardo e enviou uma carta repreendendo as manifestações da embaixada.