Nas paredes de uma sala do segundo andar de uma mansão no Lago Sul, região nobre de Brasília, integrantes da equipe de Jair Bolsonaro (PL) detalham a estratégia traçada neste segundo turno. Conforme matéria de Jussara Soares e Cristiano Mariz, no O Globo, são gráficos, números e nomes de aliados escalados em cada estado para ajudar na ofensiva do presidente pela reeleição. É de olho nesse painel que o coordenador da campanha, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e demais membros do comitê bolsonarista trabalham para tentar tirar a vantagem de 6,1 milhões de votos obtidos pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno. A diferença, aliás, está registrada em uma lousa branca com o resultado das urnas em cada uma das cinco regiões do país, como registrado pelo jornal O Globo em visita ao QG na terça-feira passada.
O plano desenhado pela campanha destaca ainda a participação de governadores reeleitos que declararam apoio ao presidente. Na parede, post-its amarelos levam os nomes de Romeu Zema (Novo), de Minas; Cláudio Castro (PL), do Rio; e Ratinho Jr (PSD), do Paraná. A cada um deles é associado um número.
QG da campanha de Bolsonaro em Brasília
Também chama atenção a inclusão do ex-ministro da Justiça e senador eleito pelo Paraná, Sergio Moro, que reatou com Bolsonaro após deixar o governo acusando o ex-chefe de interferência na Polícia Federal. Agora, é considerado pelo time bolsonarista como um aliado fundamental para buscar eleitores. Outro na lista do QG é Josimar Maranhãozinho (PL-MA), deputado reeleito investigado por suspeitas de desvios de emendas parlamentares. Ele nega as acusações.
No quadro, a equipe expõe ainda uma previsão de roteiro com mais nove cidades que o presidente deve visitar até o dia 30 de outubro. Pela programação, Bolsonaro encerrará suas atividades de campanha em São Paulo. Antes, passa por Fortaleza, Salvador, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Gonçalo e Belo Horizonte. Ele ainda deve retornar a Juiz de Fora, cidade onde foi atingido por uma facada na campanha de 2018.
Além da estratégia desenhada nas paredes, os cômodos do QG bolsonarista têm sido usados para armazenar material de campanha que serão enviados para os estados. Santinhos, panfletos, adesivos e bandeiras ficam guardados na área externa e no subsolo da casa para serem despachados para comitês regionais e voluntários. Até mesmo um boneco de Bolsonaro em papelão decora o ambiente enquanto espera para ser despachado via Correios.
Desde o início do segundo turno, a rua sem saída no Lago Sul onde está localizado o QG bolsonarista ficou mais movimentada. Na frente do imóvel de muro alto com uma bandeira do Brasil no telhado e com apenas dois banners sinalizando discretamente se tratar do comitê do presidente, já não há espaço para estacionar, e o entre e sai se intensificou nos últimos dias.
Na terça-feira, quando a reportagem esteve na residência decorada com material de propaganda, quase todos os sete quartos e as quatro salas estavam ocupados com reuniões. Candidato a vice de Bolsonaro e um dos coordenadores da campanha, Walter Braga Netto ocupava um dos espaços. O ministro das Comunicações, Fabio Faria, também passou pelo QG, mas foi embora rapidamente. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, era outro a marcar presença.
No segundo andar, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello (PL-RJ), eleito deputado com a segunda maior votação no Rio, conversava com um outro integrante da campanha na sacada com vista para a piscina e o jardim tomado por palmeiras.
— Eu que montei isso aqui. Despachava dessa sala. Agora estou de volta. Vou ajudar aqui ou no Rio, no que precisar — afirmou Pazuello ao jornal O Globo.
Do lado de fora, em uma mesa colocada na varanda, o publicitário Sérgio Lima e outros integrantes da campanha discutiam a estratégia de comunicação. O marqueteiro Duda Lima não estava no local. Responsável pelo programa eleitoral na televisão, ele passa boa parte do tempo na produtora, localizada nas redondezas.
Já o vereador Carlos Bolsonaro, que comanda as redes sociais do pai, nunca esteve no QG, dizem integrantes da campanha. Em 2018, o Carlos também se manteve distante do comitê que, na época, funcionava em um anexo na casa do empresário Paulo Marinho no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Suplente de Flávio, ele declarou apoio a Lula na segunda-feira.
— O apoio dele é insignificante. Que ele vá ser feliz — desdenhou Flávio.
Segundo a prestação de constas de Bolsonaro, o partido comandado por Valdemar desembolsou R$ 67.500 para aluguel de imóveis, entre 16 de agosto e 1º de outubro. Questionada se o valor se referia somente à locação da casa, a direção da legenda não respondeu.