Por mais que a campanha de Jair Bolsonaro (PL) seja mais afiada, a matemática ainda está a favor segundo a colunista Eliane Cantanhêde, do Estadão, de Luiz Inácio Lula da Silva. Pela lógica e pela história das eleições, é mais fácil manter a dianteira do que virar o jogo no segundo turno, especialmente numa eleição tão polarizada e com alto grau, talvez inédito, de convicção do eleitor.
Há temor do lado lulista, torcida no bolsonarista e dúvidas pairando sobre o País, com uma guerra na TV, nas redes sociais, nos grupos de amigos e famílias, mas o fato, nu e cru, sem paixões, é que só uma tempestade perfeita (que pode acontecer, mas é difícil) tiraria a vitória de Lula. Senão, vejamos os desafios dos dois lados até o dia 30, que parece estar a anos-luz, mas está só a 17 dias.
Lula precisa não errar, não cair em armadilhas e ir para os debates, não só bem preparado, mas seguro e estável emocionalmente. Nem sempre isso acontece. A partir daí, precisa lutar para manter ou até ampliar seus votos no Nordeste, perder por pouco em São Paulo e Rio e tentar ganhar em Minas.
Para Bolsonaro, a situação exige pouco mais. Ele tem de pescar 368 mil votos por dia, mas o mar não está para peixe, nem tem eleitor sobrando tanto assim. Tem de colher ¾ dos eleitores de Simone Tebet e Ciro Gomes. Tem de rezar em igrejas e templos para uma abstenção bem alta. Tem de melhorar no Nordeste. Tem de recuperar votos de 2010 no Sudeste. E tem de virar Minas.
É muito “tem de” e o tempo está correndo, sem grandes mudanças. Fiquemos em Minas, onde Bolsonaro amargou a falta de palanque no primeiro turno e agarra-se ao governador Romeu Zema no segundo. Ok. Zema foi franco favorito desde o início e reelegeu-se com muita folga, mas o voto Lulazema não evaporou.
Além disso, o governador traz voto para si, mas será que transfere? Em 2020, não fez nenhum prefeito. Em 2022, elegeu três deputados estaduais e nenhum federal. Por fim, nunca houve uma virada em Minas do primeiro para o segundo turno. Pode acontecer? Tudo pode, mas seria inédito.
A estratégia de Bolsonaro foi se pendurar em governadores eleitos e reeleitos no primeiro turno, a começar do próprio Zema e de Cláudio Castro, do Rio. A de Lula é surfar nos palanques dos aliados que foram para o segundo turno, numa onda que convém a ele e a eles e justifica os comícios desta semana na Bahia, Sergipe e Alagoas e, hoje, em Pernambuco, onde a virada está sendo contra Marília Arraes e a favor de Raquel Lyra. Depois, é mergulhar no Sudeste, onde a eleição está, efetivamente, sendo decidida.