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sexta-feira 14 de outubro de 2022 às 06:12h

O que está por trás do megainvestimento de R$ 700 milhões da Gerdau

NEGÓCIOS, NOTÍCIAS


No quarto trimestre de 2019, antes de a pandemia de Covid ser anunciada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e abalar a economia global, a Gerdau fechou seu balanço com R$ 9,5 bilhões de faturamento e Ebitda ajustado de R$ 1,3 bilhão.

Segundo Beto Silva, da revista IstoÉ Dinheiro, após os percalços mais agudos e o mundo voltando a certa normalidade, a maior companhia brasileira produtora de aço encerrou o segundo trimestre deste ano com R$ 22,9 bilhões em receita, uma variação positiva de 141% em relação aos três últimos meses de 2019, e Ebitda ajustado de R$ 6,6 bilhões, pouco mais de 400% a mais do que o último período de três anos atrás. O aumento dos preços contribuiu bastante para esses resultados, mas não se pode negar o avanço significativo para a empresa que se assustou com os rumos do setor decorrentes das incertezas provocadas pelo coronavírus. Com bons números, os investimentos passaram a ser mais efetivos, para que a companhia execute seu ciclo de modernização em suas usinas de aços especiais até 2025. Parte desse plano acaba de ser inaugurado. Entrou em operação o novo lingotamento contínuo de blocos e tarugos da Usina de Pindamonhangaba (SP), com investimento na casa dos R$ 700 milhões. “Esse movimento no segmento de aços especiais é resultado da preparação da Gerdau para um novo ciclo de crescimento futuro com foco nas Américas”, disse Gustavo Werneck, CEO da Gerdau.

O executivo observa com otimismo o crescimento do setor automobilístico, um dos principais clientes da empresa. A confiança de Werneck tem fundamento a partir das vendas atuais de veículos zero quilômetro. Em setembro, foram comercializadas 335,3 mil unidades, 19,3% a mais do que no mesmo mês de 2021, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Com algumas oscilações, os emplacamentos vêm crescendo desde o início do ano. E a expectativa do mercado é de que no último trimestre de 2022 as vendas continuem aquecidas, apesar dos problemas com falta de componentes para a fabricação de automóveis, que ocorre desde o ano passado. “Estamos acompanhando na Gerdau a evolução da demanda e da transformação tecnológica dessa indústria”, afirmou o CEO.

A análise é corroborada por Rubens Pereira, vice-presidente de Aços Especiais da Gerdau no Brasil. Segundo ele, o novo lingotamento da Usina de Pindamonhangaba está alinhado aos conceitos de indústria 4.0 e aumentará a competitividade da empresa no segmento. “Isso reforça nossa presença nos mercados em que atuamos, bem como nossa visão otimista para o setor automotivo brasileiro, que deve, nos médio e longo prazos, ter seus níveis de produção recuperados.”

AUTOMAÇÃO

O equipamento já está em operação e permite à Gerdau ter um processo mais automatizado e com melhor rendimento. A atualização tecnológica da unidade no interior de São Paulo está alinhada às perspectivas de aumento da matriz de veículos elétricos e híbridos no Brasil. O novo processo de moldagem de metal gera ganhos em três frentes, segundo a companhia: segurança, com um equipamento mais automatizado e moderno; qualidade, com a possibilidade de aços clean steel, produto mais limpo e resistente, em atendimento à demanda por automóveis mais leves, por exemplo; e competitividade, com redução de custos e aumento de produtividade da operação.

Claudio Gatti

“Esse movimento no segmento de aços especiais é resultado da preparação da Gerdau para um novo ciclo de crescimento” Gustavo Eerneck CEO da Gerdau.

O novo lingotamento é parte do plano de modernização e manutenção das operações de aços especiais da Gerdau no Brasil pelos próximos três anos. O foco do plano, cujos detalhes ainda deve ser aprovados pelo conselho de administração da empresa, está voltado para as três usinas de aços especiais no País: Além de Pindamonhangaba, também a de Mogi das Cruzes (SP) e a de Charqueadas (RS). Cerca de 60% dos investimentos serão para as plantas do Estado de São Paulo e 40% para a operação no Rio Grande do Sul.

Essas ações fazem parte do projeto de R$ 1 bilhão anunciado pela companhia ainda no ano passado. Outras ações já colocadas em prática são a reativação da aciaria na planta de Mogi das Cruzes, que estava hibernada desde março 2019. E na usina gaúcha de Charqueadas foi instalado um novo forno de recozimento e esferoidização de barras de aço, também voltado para atender o setor automotivo, em materiais com tratamentos térmicos complexos.

NOVOS NEGÓCIOS

Paralelamente aos investimentos feitos para melhoria das operações de aços especiais, a Gerdau anunciou no mês passado uma parceria para criar uma joint venture com as Empresas Randon, que atuará em soluções e serviços de locação de veículos pesados. O negócio tem investimento de R$ 250 milhões, com participação de 50% de cada sócio, que tem pelo lado da produtora de aço a Gerda Next, divisão de novos negócios da Gerdau que diversificar o portfólio em segmentos estratégicos como a mobilidade. A nova empresa, com sede em São Paulo, tem que passar por processo de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O core do novo negócio é alugar caminhões e semirreboques para transportadoras e embarcadores de carga. Segundo o CEO Gustavo Werneck, a parceria entre duas organizações com histórias sólidas, líderes em seus setores, “reflete o compromisso de inovar e de buscar a construção de um futuro ainda mais colaborativo” entre companhias.

Os avanços da Gerdau ocorrem em um momento ambíguo do mercado de aço no Brasil. Por um lado, o Índice de Confiança da Indústria do Aço (ICIA), divulgado em setembro pelo Instituto Aço Brasil, aumentou 3,7 pontos frente a agosto e atingiu 53,4 pontos — o índice elaborado a partir de avaliações de CEOs de companhias do setor varia de 0 a 100, sendo acima de 50 otimista e abaixo, pessimista. É a segunda subida seguida. Em agosto o patamar foi de 49,7. Em janeiro de 2020, antes da pandemia, o índice atingiu 73,4 pontos. Em abril, caiu para 16,3. A confiança retomou e atingiu o pico de 85,2 em outubro de 2020. Depois disso, entre algumas oscilações, foi caindo até chegar a 45,3 em julho deste ano, e agora registrou as duas elevações.

Por outro lado, a produção de aço bruto tem registrado números que deixam o setor atento. Em agosto, foram 2,8 milhões de toneladas, o que representa uma alta de 0,6% em relação a julho, mas queda de 11,3% em relação ao mesmo mês de 2021. No acumulado do ano, a produção atingiu 23,1 milhões de toneladas, queda de 4,5% frente a igual período em 2021. Com relação às vendas internas de produtos siderúrgicos, salto de 3,6%, para 1,7 milhão de toneladas, queda de 6,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Importante ressaltar que 2021 foi de retomada da demanda e reposição dos estoques, o que fez a indústria do aço registrar ótimos resultados.

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