Em discurso na tarde desta terça-feira (11) em Pelotas, no Rio Grande do Sul, o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) voltou ao tom de desconfiança em relação ao resultado das urnas no próximo dia 30 de outubro e de inconformidade em caso de vitória do adversário.
Próximo ao final de sua fala, em tom golpista, Bolsonaro convocou os eleitores a “permanecerem na região” das seções até o resultado da apuração.
“No próximo dia 30, de verde e amarelo, vamos votar. E mais do que isso. Vamos permanecer na região da seção eleitoral até a apuração do resultado”, disse o presidente.
Em seguida, Bolsonaro levantou suspeitas sobre a votação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que ficou à sua frente no 1º turno das eleições por 48,4% a 43,2% dos votos válidos.
“Tenho certeza que o resultado será aquele que todos nós esperamos. Até porque o outro lado não consegue reunir ninguém. Todos nós desconfiamos. Como pode aquele cara [Lula] ter tantos votos se o povo não está ao lado do mesmo?”, declarou.
A permanência de eleitores próximos às seções eleitorais durante o período de votação violaria a lei eleitoral. Conforme o site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), “a lei eleitoral proíbe, até o final do horário de votação, a aglomeração de pessoas portando vestuário padronizado com bandeiras, broches, dísticos e adesivos, de modo a caracterizar manifestação coletiva, com ou sem uso de veículos.”
O único tipo de manifestação permitida, ainda conforme o TSE, é a “individual e silenciosa”, como o uso de roupas e adesivos de um candidato no momento da votação.
Durante a apuração, quando o horário de votação já está encerrado, tampouco há motivo para que eleitores cerquem suas seções eleitorais. Os resultados das urnas eletrônicos são transmitidos diretamente dos cartórios eleitorais para o TSE.
Ataques ao sistema eleitoral sem provas e sem nenhum indício têm sido uma constante de Bolsonaro ao longo de seu mandato.
No ano passado, veio a mais forte ameaça golpista ligada ao tema. Em conversa com apoiadores, Bolsonaro disse que “a fraude está no TSE” e ainda atacou o então presidente da corte eleitoral e ministro do STF, Luís Roberto Barroso, a quem chamou de “idiota” e “imbecil”.
“Não tenho medo de eleições, entrego a faixa para quem ganhar, no voto auditável e confiável. Dessa forma [atual], corremos o risco de não termos eleição no ano que vem”, disse.
A fala ocorreu após uma sequência. No dia anterior, também ao falar com apoiadores, o mandatário fez outra ameaça semelhante: “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”.
Já neste ano Bolsonaro fez uma apresentação a dezenas de embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada para repetir teorias da conspiração sobre urnas eletrônicas, desacreditar o sistema eleitoral, promover novas ameaças golpistas e atacar ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
Os militares têm sido uma linha auxiliar de Bolsonaro nos ataques às urnas e ao sistema eleitoral.
O Ministério da Defesa adotou o silêncio após o primeiro turno das eleições e não responde a pedidos de informação sobre a fiscalização realizada no sistema eletrônico de votação em 2 de outubro.
Depois do fechamento das urnas, técnicos das Forças Armadas fizeram verificações sobre o teste de integridade e a checagem da totalização dos votos, comparando as informações de cerca de 400 boletins de urna com os dados que chegaram ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para a contagem.
A Folha solicita desde terça-feira (4) informações sobre a conclusão das análises dos dois procedimentos de fiscalização ao Ministério da Defesa. A pasta, no entanto, não responde aos pedidos.