O número de deputados federais eleitos que usaram “delegado” ou “coronel” em seu nome de urna mais do que dobrou nesta eleição. Dos cinco delegados que saíram vitoriosos em 2018, o total pulou para 11 nesta eleição. Entre os que usaram o título de “coronel”, a cifra aumentou de três para sete parlamentares.
Ao mesmo tempo, o total daqueles que usaram as palavras “professor” ou “professora” para conquistar o voto do eleitor caiu pela metade, e na próxima legislatura o grupo será de apenas quatro congressistas. Levantamento do jornal O Globo mapeou 57 deputados federais que incluíram uma profissão junto ao seu nome nas urnas, e identificou que os médicos também ficaram em alta entre os eleitores brasileiros.
Treze candidatos “doutores” se elegeram no início do mês, dos quais apenas um não é médico — o advogado Dr. Victor (Podemos), do Espírito Santo. Em 2018, três médicos foram eleitos usando a denominação.
Para o cientista político Josué Medeiros, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o resultado é um reflexo de anos de militarização da política e também uma consequência da pandemia, porque muitos médicos se lançaram como candidatos.
— Na medida em que os partidos oferecem mais candidatos com essas profissões, os eleitores encontram mais opções de voto. É o caso dos candidatos relacionados às forças de segurança. Pelo sucesso eleitoral deste grupo em 2018, os partidos foram atrás de mais nomes — analisa.
O especialista observa também que o uso da palavra “médico” nas urnas não era uma estratégia com grande potencial para angariar votos em 2018. Mas isso mudou com a pandemia de Covid-19, pelo protagonismo da ciência no enfrentamento da crise sanitária. Já a educação, diferentemente da saúde, foi esquecida durante os últimos anos, como consequência do período com aulas remotas e pouca ou nenhuma atividade presencial:
— Não estava na moda ser professor. Muitos, em vez disso, escolheram o termo cientista, por exemplo.
Medo da violência é trunfo
Levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), revela que a presença das forças de segurança vai aumentar 35,7% na Câmara dos Deputados em 2023: dos 1.888 candidatos na disputa, 38 foram eleitos, incluindo três oficiais do Exército. Em 2018, haviam sido 28.
Os três maiores colégios eleitorais do país foram os que mais escolheram nomes ligados ao segmento: São Paulo elegeu sete, seguido por Minas Gerais e pelo Rio de Janeiro, com três cada.
O PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, e o União Brasil, legendas alinhadas à direita, foram as que elegeram mais agentes de segurança para a Câmara. Entre os eleitos há apenas um nome de esquerda, a Delegada Adriana Accorsi, integrante do PT.
O presidente do Fórum, Renato Sérgio de Lima, avalia que hoje as pautas desta bancada estão menos ligadas às demandas de suas categorias:
— Reduzimos o tema para a discussão sobre a diminuição de homicídios, mas o sinal que está sendo dado é que se trata de muito mais do que isso: tem a ver com liberdade, com o controle do medo da população, com como ela se sente segura. Isso confirma que existe um medo da violência.