A distribuição dos votos de seis dos candidatos a deputado federal mais votados de São Paulo revela uma esquerda ancorada em nichos específicos da Região Metropolitana, enquanto a direita aparece mais bem distribuída pelo interior. Esse é o retrato da votação de seis personalidades da política que o jornal O Globo escolheu para entender a base de três políticos que se reelegeram e três que iniciam mandatos na Câmara.
O candidato mais bem votado do estado, Guilherme Boulos, obteve a maior parte de seus mais de 1 milhão de votos em bairros pobres da periferia de São Paulo. Mais de 48% de sua votação foi na capital, que concentra 27% dos eleitores. As Zonas Eleitorais que mais votaram no candidato foram das regiões de Jardim Ângela, Rio Pequeno e Campo Limpo, com sua presença diminuindo em municípios da periferia da Grande São Paulo.
Outros dois nomes de esquerda, Marina Silva (Rede) e Tabata Amaral (PSB), tiveram boa votação em bairros nobres que abrigam parte da elite intelectual paulistana, como Pinheiros, Perdizes e Vila Mariana, mas conquistaram também parcela pequena de votos em cidades como Campinas e São Carlos, interior paulista, que abrigam universidades.
A votação de personalidades de direita teve perfil mais diverso. O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL) recebeu 27% de sua votação na capital, com o resto distribuído por outras cidades do interior, como Jundiaí, Araçatuba e Barretos, três cidades emblemáticas do agronegócio.
Eduardo Bolsonaro, também do PL, foi um dos poucos bem votados que não ancorou sua candidatura na capital, onde teve 23% dos votos. As zonas eleitorais onde mais angariou para sua eleição estão em Campinas, São José dos Campos e Piracicaba. O filho do Bolsonaro ganhou espaço na Região Metropolitana, em que ficam seis dos dez municípios que lhes deram mais votos.
Carla Zambelli (PL) também conquistou boa votação em cidades grandes do interior e foi bem na Zona Leste da capital, com Tatuapé, Mooca e Vila Prudente entre as zonas eleitorais com mais eleitores.
Apesar de parecer consolidada a concentração de votos de esquerda e direita entre Região Metropolitana e interior, essa distribuição é recente, e teria começado a se desenhar a partir de 2006, na segunda campanha de Lula à Presidência. Para especialistas, o fenômeno tem mais relação com a forma como é realizada a construção da imagem dos candidatos nessas regiões do que com a tese de que o interior é mais conservador, e a Região Metropolitana, progressista.
— A orientação ideológica nesses locais é recente. A maioria dos parlamentares sempre foi eleita por ser conhecida ou apoiada por um político local — diz o cientista político Felipe Meireles, pesquisador do Cebrap/FGV.