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segunda-feira 3 de outubro de 2022 às 17:34h

Avanço bolsonarista surpreende imprensa europeia

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Para jornais europeus, bom desempenho de Bolsonaro foi “a grande surpresa” da eleição, e segundo turno terá embate entre “dois modelos de país completamente antagônicos”: um progressista e outro nostálgico da ditadura.El País (Espanha) – Lula vence e disputará segundo turno contra Bolsonaro em plena forma

O sonho de uma vitória da esquerda no primeiro turno foi enterrado. O presidente de extrema direita Jair Bolsonaro mostrou uma força maior do que o previsto nas pesquisas.

O Brasil realizou neste domingo as eleições mais decisivas e disputadas das últimas décadas, após uma longa e inflamada campanha eleitoral pontuada por alguns episódios de violência política grave, como o assassinato de pelo menos dois apoiadores de Lula pelas mãos de bolsonaristas. Os brasileiros, que foram às urnas para decidir por uma guinada à esquerda ou o aprofundamento da guinda à extrema direita de 2018, se dividiram em duas metades.

Se Lula mantiver a vantagem no segundo turno, sua vitória poderia culminar na guinada à esquerda que vem ocorrendo na América Latina nas últimas eleições e na possibilidade de reescrever os capítulos finais de sua história pessoal, obscurecidos por sua prisão, embora suas condenações por corrupção tenham sido anuladas. Também será crucial para o futuro da Amazônia e do planeta, pelo papel da floresta de regulador da temperatura.

Durante meses, Bolsonaro criticou as pesquisas que o colocavam de dez a 15 pontos atrás de Lula. Seus fiéis disseram que ele estava sendo subestimado como em 2018, e assim foi. Na hora da verdade, seu apoio foi maior do que o previsto. Grandes nomes do bolsonarismo deram um salto para o Congresso.

Por trás de Lula e Bolsonaro, os dois candidatos que foram para o segundo turno, há dois modelos de país completamente antagônicos. O mandato de Bolsonaro tem sido bem parecido com o que sua trajetória de deputado extravagante e nostálgico da ditadura já antecipava. Foram quatro anos marcados por uma gestão negacionista da pandemia e o atraso na compra de vacinas.

Instalado no poder, o bolsonarismo gerou uma tensão constante contra outras instituições de Estado, sobretudo com o STF, incluindo ameaças de golpe mais ou menos veladas. Na metade do seu mandato e para evitar um impeachment, se aliou com a velha política que prometeu combater.

Os comícios de Lula são um lembrete constante das melhores conquistas dos governos progressistas para combater a pobreza e promover a inclusão e a prosperidade das massas desafortunadas que as elites brancas negligenciaram durante séculos.

O eleitor de Lula é pobre, mulher, mestiço ou negro. Já os mais ricos, com mais estudo, brancos e homens preferem Bolsonaro.

The Guardian (Reino Unido) – Ex-presidente Lula encara Bolsonaro no segundo turno

A acirrada corrida presidencial no Brasil vai para o segundo turno, depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiu a maioria necessária para derrotar o titular de extrema direita, Jair Bolsonaro, no primeiro turno.

Mas o resultado das eleições foi um grande golpe para os brasileiros progressistas que estavam torcendo por uma vitória enfática sobre Bolsonaro, um ex-capitão do Exército que atacou repetidamente as instituições democráticas e vandalizou a reputação internacional do Brasil.

Bolsonaro também é acusado de causar estragos no meio ambiente e lidar catastroficamente com a pandemia de covid que matou quase 700 mil brasileiros, minando os esforços de vacinação e vendendo curas charlatãs.

Bolsonaristas famosos foram eleitos para o Congresso e governos estaduais, como o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que se tornou deputado pelo Rio, e o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles.

Pazuelo foi ministro durante o auge da pandemia, que deixou mais de 685 mil mortos no Brasil. O ex-general, promoveu curas charlatãs, como a hidroxicloroquina.

Já Salles foi o ministro do meio ambiente que presidiu o forte aumento do desmatamento da Amazônia. Uma investigação da Polícia Federal acusou o ideólogo de extrema direita de dificultar as investigações de crimes ambientais. Um outro inquérito apontou sua ligação com exportação ilegal de madeira. Ele nega as acusações. […]

Süddeutsche Zeitung (Alemanha) – Opinião: Tudo, menos um estrondo

As eleições no Brasil já eram consideradas decisivas, uma encruzilhada, que irá determinar qual curso o país gigante irá tomar nos próximos anos e talvez até nas próximas décadas.

Desde domingo é claro que haverá um segundo turno. A votação se tornou agora definitivamente um duelo – não uma eleição, mas um duelo homem contra homem. De um lado, o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro e, do outro, o ex-presidente da esquerda moderada Luiz Inácio Lula da Silva.

Falta apenas um mês para essa segunda rodada, e levando em conta que o clima já estava tenso no Brasil nas últimas semanas, fica a pergunta sobre como o país conseguirá chegar a esse decisivo 30 de outubro.

O Brasil está diante de tempos difíceis. Tanto o atual presidente como seu adversário irão lutar pelos eleitores. Dificilmente haverá mais nuances, e só pode se esperar que no final não haja um estrondo.

Tagesspiegel (Alemanha) – Lula ganha primeiro turno, mas Bolsonaro se mostra supreendentemente forte

O bom desempenho de Bolsonaro foi a grande surpresa da noite. Ele conquistou 43% dos votos, cerca de 10% a mais do que o previsto. O resultado chocou eleitores de Lula.

Os brasileiros vão vivenciar nas próximas três semanas uma campanha eleitoral consumidora, que há meses ocupa o país e revelou uma polarização profundamente ideológica e emocional. Ela atinge famílias, amizades e vizinhança.

A campanha eleitoral não foi agressiva apenas verbalmente e carregada de mentiras e meias verdades nas redes so A eleição também revelou outra tendência. O próximo Congresso que foi eleito deu uma guinada ainda mais forte para a direita. Os candidatos bolsonaristas ao Senado e à Câmara obtiveram resultados muito bons, incluindo alguns de seus ex-ministros.

Até o ex-juiz Sergio Moro, que condenou Lula em 2018 a uma longa pena de prisão usando métodos ilegais (Lula passou 19 meses preso), foi eleito senador. O ultradireitista Partido Liberal (PL) de Bolsonaro será a bancada mais forte, num Congresso fragmentado com mais de 30 partidos.

Caso Lula ganhe o segundo turno, o que tudo indica no momento, ele terá que lidar com um Congresso conservador de direita, com o qual terá dificuldade de fazer acordos. Já se fala da ameaça da ingovernabilidade.

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