Os telescópios James Webb e Hubble revelaram nesta quinta-feira (29) suas primeiras imagens de uma espaçonave colidindo com um asteroide, já que os astrônomos indicaram que o impacto aparenta ser muito maior que o esperado.
Ambos apontaram em direção à rocha espacial Dimorphos no início da semana. Foi um histórico teste de capacidade de autodefesa contra um potencial asteroide que ameace a Terra no futuro.
Astrônomos se alegraram quando o impactor Double Asteroid Redirection Test (DART) da Nasa atingiu na segunda-feira (26) o asteroide. No tamanho de uma pirâmide e no formato de uma bola de rugby, o alvo estava a 11 milhões de quilômetros da Terra.
Imagens registradas por telescópios terrestres mostraram uma vasta nuvem de poeira expandindo para fora do Dimorphos e Didymos, outro asteroide em sua orbita, após o impacto da nave espacial.
Enquanto essas fotos mostravam matéria sendo espalhada por milhares de quilômetros, o James Webb e o Hubble “ampliam muito mais”, disse Alan Fitzsimmons, um astrônomo da Queen’s Universisty Belfast envolvido em observações com o projeto ATLAS.
James Webb e Hubble podem oferecer uma visão “dentro de apenas alguns quilômetros dos asteroides e você pode ver claramente como a matéria está voando para fora do impacto explosivo do DART”, Fitzsimmons contou à AFP.
“É realmente espetacular”, ele diz.
Uma outra imagem tirada pela Near-Infrared Camera (NIRCam) do James Webb quatro horas após o acontecimento mostrou “plumas de material aparecendo como mechas saindo do centro de onde o impacto aconteceu”, de acordo com um comunicado conjunto da Agência Espacial Europeia.
As imagens do Hubble de 22 minutos, cinco e oito horas após o impacto mostram o spray de matéria em expansão do lugar onde o DART acertou.
‘Preocupado que não restasse nada’
Ian Carnelli da Agência Espacial Europeia disse que as “verdadeiramente impressionantes” imagens do Webb e Hubble foram notavelmente similares às tiradas pelo satélite LICIACube. Este terceiro satélite foi separado há algumas semanas da espaçonave DART e estava a apenas 50 quilômetros do asteroide.
As fotografias retratam um impacto aparentemente “muito maior que o esperado”, conta Carnelli, diretor da missão Hera da ESA, que pretende inspecionar os danos em quatro anos.
“Eu realmente fiquei preocupado que não restasse nada do Dimorphos” no início, admitiu Carnelli à AFP.
A missão Hera, programada para ser lançada em outubro de 2024 e chegar no asteroide em 2026, espera pesquisar uma cratera de aproximadamente 10 metros de diâmetro.
Agora parece que será muito maior, disse o diretor, “se houver uma cratera, talvez uma parte do Dimorphos tenha sido cortada”.
A verdadeira medida do sucesso do DART será o quanto exatamente ele desviou a trajetória do asteroide. Com essa informação, o mundo pode começar a se preparar para autodefesa contra asteroides maiores, que podem vir na direção da Terra no futuro.
É provável que os telescópios e radares ligados à Terra levem pelo menos uma semana para uma primeira estimativa de quanto a órbita do asteroide foi alterada. Para uma medição precisa, Carnelli diz que o prazo é de três ou quatro semanas.
‘Grandes implicações’
“Estou esperando uma deflexão muito maior do que planejamos”, confessa Carnelli.
Segundo ele, isso teria “grandes implicações na defesa planetária, pois significa que essa técnica pode ser usada para asteroides muito maiores”.
“Até hoje, pensávamos que a única técnica de deflexão seria enviar um dispositivo nuclear”.
Fitzsimmons disse que mesmo se nenhuma matéria tivesse sido “arremessada para fora” do Dimorphos, o DART ainda teria afetado levemente sua órbita.
“Mas quanto mais matéria e quanto mais rápido estiver se movendo, maior será a deflexão”, explica o astrônomo.
As observações do James Webb e do Hubble vão ajudar a revelar quanto e com que rapidez a matéria repeliu do asteroide, assim como a natureza de sua superfície.
O impacto do asteroide marcou a primeira vez que os dois telescópios espaciais observaram o mesmo corpo celestial.
Desde o lançamento em dezembro e a divulgação de suas primeiras imagens em julho, o James Webb retirou o título de telescópio espacial mais poderoso do Hubble.
Fitzsimmons revelou que as imagens foram “uma bela demonstração de uma ciência complementar que você pode obter usando mais de um telescópio simultaneamente”.