Na reta final da campanha antes do primeiro turno das eleições, os principais candidatos ao Governo de Minas Gerais têm intensificado críticas a adversários em discursos e propagandas na TV, ao mesmo tempo em que brigam na Justiça por direitos de resposta.
A disputa é travada principalmente entre a equipe do atual governador, Romeu Zema (Novo), e a do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD).
Outros candidatos, porém, também têm reforçado críticas a falas de opositores, em especial ao governador, que lidera as pesquisas de intenção de voto.
Levantamento feito pelo Datafolha na última semana mostra Zema com 48% dessas intenções, ante 28% de Kalil. Na sondagem anterior, o placar estava em 53% a 25%. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
Em meio ao avanço recente do adversário, a campanha de Zema tem apostado em vídeos do que chama de “verdades sobre Kalil”. Em um deles, o ex-prefeito aparece xingando um entrevistador de “moleque” e diz que irá jogá-lo pela janela caso continue a insistir em perguntas pessoais.
Em outro, divulgado na TV e redes sociais, é alvo de sátira por “reclamações” contra a atual gestão, por meio de um fantoche apelidado “ReKlamil”.
Dias antes, a campanha de Kalil também veiculou um vídeo em que resgatava falas consideradas machistas de Zema, o que foi repetido pela campanha do governador em relação a Kalil. “Quem não respeita as mulheres não pode ser governador”, diz uma das peças, alvo de ação na Justiça.
Ações na saúde em Belo Horizonte e no estado também têm sido foco frequente dos embates.
Em outra frente, a campanha de Kalil tem reforçado imagens de Zema durante o mandato ao lado do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), em uma tentativa de nacionalizar a disputa e atrair para Zema parte do índice de rejeição ao mandatário.
A associação ocorre pelo histórico de apoio do governador a Bolsonaro nas últimas eleições. Zema, porém, tem adotado discurso de neutralidade na atual campanha, com a justificativa de apoio ao candidato do próprio partido, Felipe D’Ávila (Novo).
“Qual Minas Gerais você quer? A Minas em que o governador será inimigo do Lula? Ou a Minas em que o governador e presidente jogarão juntos pelos mineiros?”, questiona um dos vídeos recentes de Kalil, citando declaração de Zema contra o PT e a atual aliança do ex-prefeito com Lula para o pleito deste ano.
Em outro vídeo, o narrador expõe imagem de parte do rosto de Bolsonaro junto a frases como “ele governa para grandes empresários” e “despreza pautas ambientais”. Em seguida, finaliza: “poderíamos estar falando do Bolsonaro, mas estamos falando do Zema”.
A disputa acabou por ganhar terreno também na Justiça Eleitoral. A Folha encontrou ao menos 110 ações relativas a direito de resposta no site do TRE-MG (Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais) ligadas à disputa ao governo do estado, a maioria entre as coligações de Zema e Kalil.
O número é superior ao total registrado em outros 25 estados nestas eleições, e fica atrás apenas de Bahia e Ceará. O site do TRE não permitiu consulta de dados de 2018 para comparação.
Integrantes das campanhas em Minas, porém, dizem ver aumento na judicialização neste ano. Parte expressiva dos pedidos, porém, tem sido indeferida pela Justiça e alvo de recursos.
Balanço da equipe jurídica de Kalil aponta ao menos 16 ações com parecer favorável ao candidato do PSD, o que gerou 295 inserções de direito de resposta (o número considera diferentes tipos de mídia e locais). Destas, 168 já haviam sido executadas até terça (27).
Em um dos casos, a Justiça suspendeu o que foi considerado como um “falso direito de resposta” veiculado pela campanha de Zema em sua própria propaganda. O vídeo rebatia críticas de Kalil à proposta atual de adesão do Minas ao regime de recuperação fiscal.
Em resposta, a campanha de Kalil ocupou parte da campanha de Zema nesta quarta (28), afirmando que o adversário usou “de fato sabidamente inverídico, capaz de induzir o eleitor ao erro”.
Questionada, a equipe de Zema não informou dados sobre os pedidos atuais de direito de resposta. Em nota, disse apenas que “como o adversário fez toda a campanha pautada em mentiras e na falta de propostas, na reta final, a candidatura de Romeu Zema vai focar em desmentir essas versões falsas”.
Recentemente, o governador ganhou direito de resposta após programa de Kalil no rádio afirmar que Zema havia criado incentivo fiscal para favorecer locadoras de veículos e doadoras de campanha. Ele rebateu dizendo que a lei que dá incentivo a essas empresas é de 2003.
“Há muita mentira sendo contada, o que gera um ambiente de desconforto e confusão. Mas a campanha em si continua focada na apresentação de resultados”, disse à Folha o candidato a vice na chapa de Zema, Mateus Simões (Novo), sobre os planos para os próximos dias.
Além do direito de resposta, as campanhas prometem outros embates na Justiça. Nesta terça, a equipe de Kalil entrou com ação contra Zema alegando que o governador deu informação falsa ao dizer que a dívida de Minas Gerais —estimada em R$ 153,5 bilhões, segundo dados da Secretaria da Fazenda— diminuiu na atual gestão. O grupo pede que o Ministério Público Eleitoral abra um inquérito para apurar o caso.
Procurada, a campanha de Zema não respondeu.
Ofensas
O acirramento da disputa ficou visível em debate realizado na noite desta terça na TV Globo, o primeiro com participação do governador. No encontro, Zema e Kalil chegaram a trocar ofensas pessoais. Em certo momento, ao ser questionado pelo ex-prefeito sobre ações sociais, chamou o ex-prefeito de “mentiroso profissional” e disse que ele “menospreza” as pessoas.
Já Kalil, sem entrar em detalhes, disse que há acusações contra o governador que não poderia comentar por serem muito pesadas para o horário. “Ele se dirige a mim para agredir a minha vida pessoal, como se a dele fosse um cristal.”
No encontro, outros adversários também aproveitaram para reforçar críticas ao líder nas pesquisas. A receita foi repetida em alguns momentos até por Carlos Viana (PL), que figura em terceiro lugar nas pesquisas de intenções de voto (com 4%, segundo o Datafolha) e tem apoio de Bolsonaro.
Em entrevistas, o presidente já afirmou ter pedido a Viana que evitasse críticas a Zema de olho em eventual apoio do governador no segundo turno.
Para além das críticas, a aposta das campanhas para os próximos dias é de concentrar viagens ao interior e agendas com grupos considerados chave no eleitorado. Na terça, por exemplo, Kalil teve encontro com evangélicos.
Já Zema planejava entrevistas a emissoras de rádio e passeatas em quatro cidades ao sul de Minas nesta quarta.