Os filhos do presidente Jair Bolsonaro (PL) têm utilizado conforme matéria do O Globo, o peso do sobrenome presidencial para serem cabos eleitorais de candidatos em diversas partes do país. Por motivos políticos ou pessoais, cada integrante do clã escolheu individualmente seus apadrinhados na tentativa de dar visibilidade e transferir votos.
Um dos poucos candidatos a unir ao menos dois irmãos é o advogado Frederick Wassef, que aproveita a exposição com advogado da família para tentar se eleger deputado federal. Ele é apoiado tanto pelo senador Flávio Bolsonaron (PL-RJ) como por Jair Renan, o único filho ainda sem cargo político de Bolsonaro, excluindo a menina Laura, de 11 anos.
Wassef concorre a deputado federal por São Paulo pelo PL. Flávio e Jair Renan já foram defendidos pelo advogado em inquéritos criminais. Em seu vídeo de apoio, Flávio afirmou que Wassef “já cansou de dar provas de lealdade”. Foi em uma propriedade de Wassef em Fabrício Queiroz, policial aposentado e ex-assessor de Flávio, foi preso, no âmbito de uma investigação sobre um possível esquema de desvio de salários.
Já os ex-ministros Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) e João Roma (Cidadania), que concorrem aos governos de São Paulo e da Bahia, respectivamente, receberam o apoio de Flávio e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Até agora, Eduardo é quem mais apoiou candidaturas: foram 25 em todo o país. Ele também é o único dos quatro que concorre nas eleições deste ano, mas não recebeu o endosso dos irmãos.
Eduardo, que foi o deputado federal mais votado do país em 2018, agora tem utilizado seu alcance para divulgar candidaturas de diversos aliados. Ele apoiou candidatos em 13 estados, que disputam vagas de governador, senador, deputado federal, estadual e distrital. A maioria está ligada a pautas conservadoras, como a deputada Ana Caroline Campagnolo (PL-SC), defensora do Escola Sem Partido, e o deputado federal Diego Garcia (Republicanos-PR), que tem como uma das principais bandeiras a oposição à legalização do aborto.
Para divulgar seus aliados, Eduardo tem feito transmissões ao vivo em suas redes sociais, nas quais conversa geralmente com dois candidatos. Já participaram desses debates o ex-ministro Rogério Marinho e o ex-secretário Jorge Seif, ambos do PL, que concorrem ao Senado pelo Rio Grande do Norte e por Santa Catarina, respectivamente. O parlamentar conversa inclusive com alguns “concorrentes”, que também disputam a mesma vaga, como o ex-secretário de Cultura Mario Frias (PL) e a ex-atleta Maurren Maggi.
No lado oposto está o vereador licenciado do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos). Ele declarou apenas dois apoios até o momento. Ele gravou vídeo ao lado do ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem, que concorre a deputado federal no Rio de Janeiro pelo PL. Carlos se aproximou de Ramagem quando ele, que é delegado da Polícia Federal (PF), atuou na segurança do então presidente eleito, em 2018.
— Eu, por estar envolvido com aquilo tudo, fiz parte de toda aquela preocupação, de toda a sua atuação perante a segurança envolvendo o então eleito presidente da República Jair Bolsonaro — disse Carlos, no único apoio até agora divulgado por ele.
Carlos também tem pedido votos para o deputado estadual Anderson Moraes (PL-RJ). O apoio do vereador tem sido desejado por políticos, principalmente pela influência dele nas redes sociais. Apsar de outros bolsonaristas em campanha no estado, Carlos foi seletivo em indicar apadrinhados
Discussão na família
Flávio, por sua vez, apoia cinco candidatos. Além de Wassef, Tarcísio e Roma, ele também divulgou vídeos de apoio para o deputado federal Vitor Hugo e os ex-senador Wilder Morais, que concorrem ao governos e ao Senado por Goiás, respectivamente. O senador, no entanto, não gravou ao lado deles, apenas de seu advogado.
Jair Renan só apoiou uma outra candidata além de Wassef: a de sua mãe, Ana Cristina Valle, que concorre ao cargo de deputada distrital pelo PP. Ela se apresenta nas urnas como Cristina Bolsonaro, apesar de nunca ter utilizado o sobrenome do presidente quando eles foram casados.
O gesto de Cristina levou a uma troca de farpas dentro da família Bolsonaro: a primeira-dama Michelle Bolsonaro afirmou que seu irmão, Eduardo Torres (PL-DF), “é o nosso único candidato ao cargo de deputado distrital” e reclamou de “alpinistas” que usam o “sobrenome” da família.
Depois disso, Jair Renan fez uma publicação em defesa da candidatura de sua mãe e disse que ela “tem o direito de usar o sobrenome”. Ele é o principal cabo eleitoral de Ana Cristina.
Primo ‘esquecido’
Um integrante da família Bolsonaro não foi, até agora, apoiado explicitamente pelos filhos do presidente: Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Léo Índio, que é primo de Flávio, Carlos e Eduardo.
Ele escolheu utilizar na urna o nome de Léo Índio Bolsonaro e concorre a deputado distrital pelo PL — ou seja, disputa os mesmos votos que Ana Cristina e Eduardo Torres.
Recentemente, Léo Índio esteve no lançamento de um livro de Eduardo, sobre bastidores da campanha de Bolsonaro em 2018. Até agora, contudo, não recebeu apoio do primo, que divulgou a candidatura de Floriano Agora (PL), que concorre ao mesmo cargo.