A senadora Mara Gabrilli (PSDB), vice na chapa de Simone Tebet (MDB) à presidência, não conseguiu colocar na campanha um tema que ela defende: a distribuição de canabidiol (CBD) pelo SUS. Defensora de medicamentos obtidos com a substância extraída da maconha, ela usa o remédio há anos e diz ter excelentes resultados.
— É público que eu uso há anos a cannabis medicinal, prescrita por médicos, com excelentes resultados. Nosso esforço, da Simone e meu, é tornar a legislação sobre a produção de remédios com cannabis a mais segura possível, controlada, sem desvio de finalidade — disse Gabrilli.
Apesar de estarmos a oito dias das eleições, contudo, sua defesa da regulamentação do uso medicinal da maconha não decolou. O debate na campanha ficou restrito a reuniões e a entrevistas da própria Gabrilli.
O termo canabidiol não é mencionado no plano de governo da dupla, apesar de estar contemplado nas iniciativas que mencionam doenças raras. Mas foi usado para atrair eleitores para o site da chapa: um anúncio patrocinado com a mensagem “canabidiol salva vidas” ficou ativo por oito dias, em agosto, e foi exibido entre 20 e 25 mil vezes.
A estratégia da distribuição segmentada será replicada para um vídeo gravado pela dupla sobre os benefícios do uso dos medicamentos à base de cannabis. Gabrilli explicou ao GLOBO que a peça aborda a importância do canabidiol para tratamentos de pacientes com Alzheimer e Parkinson, doenças cardiovasculares, depressão, ansiedade, epilepsia e convulsão.
— A gente abordou como ele vem não só diminuindo em alguns casos, mas até acabando com as convulsões. A gente aborda isso e principalmente o acesso, para que o SUS possa distribuir esse medicamento para todo cidadão brasileiro que tenha a prescrição e que precise do remédio — disse.
A senadora afirmou que tem mantido conversas com representantes da indústria farmacêutica para discutir estratégias de como ampliar o acesso ao medicamento, já que os custos de importação restringem muito o público que pode se beneficiar desses tratamentos.
— Em 2021, a importação foi recorde: entraram no país cerca de 70 mil remédios à base de cannabis para tratar epilepsia, Parkinson, esclerose múltipla, artrite, autismo, para aliviar dores crônicas ou causadas por cânceres, para ansiedade e tantos outros. Então, a cannabis já está disponível hoje no Brasil para quem tem dinheiro. Até quando o paciente pobre será vetado de tratamento? — disse Gabrilli ao jornal O Globo.
A senadora argumenta que já há regulamentação sobre o uso em 50 países, e que o Brasil está ficando para trás no debate. Para ela, fabricar o canabidiol no país, além de reduzir os custos para o tratamento, pode fomentar empregos.
— Nosso esforço, da Simone e meu, é tornar a legislação sobre a produção de remédios com cannabis a mais segura possível, controlada, sem desvio de finalidade — afirma.
Gabrilli reconhece, no entanto, que o tema ainda é tabu, principalmente por haver uma confusão entre o medicamento e a droga. Essa é uma das razões pelas quais a estratégia da campanha não é de promover esse debate de maneira tão incisiva, mas sim de apostar em uma estratégia de discussão de nichos.
A posição de Tebet, por exemplo, é menos incisiva. No Flow Podcast,que foi transmitido em agosto, ela foi questionada sobre a legalização das drogas. Na ocasião, disse não se opor à discussão, e emendou dizendo que ainda é preciso iniciar o debate sobre o uso da cannabis para fins medicinais:
— Nós temos que ter coragem de enfrentar o que é muito sério e que precisa ser resolvido e Mara (Gabrilli, sua vice) vai vir com essa missão de entender que a cannabis tem que ser usada pra fins medicinais.
Na visão de Tebet, serão as mães nas famílias mais humildes as maiores beneficiadas por essa discussão. Ela citou o uso de canabidiol para casos de crianças com epilepsia ou muitos episódios de convulsão, que seriam beneficiadas por uma medida mais ampla de liberação do uso do CBD.
— É preciso dizer: ‘olha, para uso medicinal você tira a substância que dá barato e usa só a substância para acalmar… eu não sei o termo médico, (a substância) que ajuda na questão fisiológica. Mara vem, inclusive, para desmistificar. Começa por aí, mas é um passo de cada vez na evolução da discussão na sociedade. O que a gente precisa hoje é erradicar a miséria, matar a fome e gerar emprego — afirmou.