A Ucrânia e a Rússia realizaram na quarta-feira (21) a maior troca de prisioneiros desde o começo da guerra. O conflito pode tomar um novo rumo, após a mobilização de cerca de 300 mil reservistas pelo presidente russo, Vladimir Putin, com o objetivo de reforçar a ofensiva.
A troca envolveu mais de 270 prisioneiros russos e ucranianos. Após um acordo entre os dois países, Kiev obteve a libertação de 215 pessoas, entre elas, 188 “heróis” da simbólica defesa da siderúrgica Azovstal, em Mariupol, no sudeste da Ucrânia. No total, 108 fazem parte do batalhão de Azov.
“Conseguimos libertar 215 pessoas”, afirmou na televisão na noite dessa quarta-feira o chefe da administração presidencial ucraniana, Andriï Iermak. Cinco comandantes militares, entre eles, líderes da defesa de Azovstal, foram enviados à Turquia, indicou o presidente Volodymyr Zelensky. Segundo o chefe de Estado, eles permanecerão no país, “em segurança absoluta” até o final da guerra, conforme o acordo estabelecido com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
Já Moscou recuperou 55 prisioneiros, incluindo o ex-deputado ucraniano Viktor Medvedchuk, próximo de Putin e acusado de alta traição na Ucrânia. Além disso, dez prisioneiros – entre eles cinco britânicos e dois americanos – que estavam detidos na Rússia fizeram parte da troca. Eles foram transferidos para a Arábia Saudita, segundo anúncio da diplomacia saudita.
A troca foi anunciada algumas horas depois da polêmica mobilização de 300 mil reservistas russos. O anúncio do presidente Putin provocou manifestações em ao menos 38 cidades do país, onde cerca de 1.400 pessoas foram detidas. As manifestações são as maiores na Rússia desde as que ocorreram no início da guerra.
Zelensky pede punição da Rússia
A guerra na Ucrânia monopolizou a Assembleia Geral da ONU, em Nova York. O presidente americano, Joe Biden, atacou diretamente a Rússia, membro permanente do Conselho de Segurança, dizendo que Moscou “violou descaradamente” a Carta das Nações Unidas.
Biden também criticou Putin pela ameaça de recorrer a armas nucleares. O democrata alertou que “uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada”.
Em videoconferência, Zelensky, exigiu “uma punição justa” para a Rússia, pedindo a retirada do direito de veto russo no Conselho de Segurança. “Um crime foi cometido contra a Ucrânia e pedimos uma punição justa”, declarou.
Horas antes, em mensagem à nação, Putin disse que estava pronto para utilizar “todos os meios” disponíveis em seu arsenal para combater o Ocidente, que acusou de querer “destruir” o país. “Não é um blefe”, garantiu.
A mobilização anunciada por Putin foi descrita na Europa como uma “admissão de fraqueza” por parte de Moscou, cujo Exército tem sofrido derrotas militares das forças ucranianas.
A nova primeira ministra-britânica, Liz Truss, disse que a decisão apenas mostra “o fracasso catastrófico” da Rússia. Ela prometeu manter o apoio militar do Reino Unido ao país até que “a Ucrânia tenha triunfado”.
Nesta quinta-feira (22), os ministros das Relações Exteriores da União Europeia – que estão em Nova York para a Assembleia Geral da ONU – anunciaram que chegaram a um acordo para elaborar novas sanções contra Moscou, assim como para aumentar a entrega de armas a Kiev.
Russos contra a guerra
Após o anúncio de Putin sobre a mobilização dos reservistas, sites das companhias aéreas ficaram saturados, devido ao aumento de buscas de voos para deixar a Rússia. Dezenas de millhares de russos desceram às ruas das principais cidades para protestar contra a decisão. Uma petição online reuniu cerca de 230 mil assinaturas em poucas horas.
Em Moscou, jornalistas da AFP testemunharam pelo menos 50 prisões em uma das principais vias da capital russa. Em São Petersburgo, a segunda maior cidade da Rússia, um ônibus inteiro de pessoas detidas foi conduzido pela polícia. Os manifestantes gritavam: “Não à guerra!”, “Não à mobilização!”.
“Todo mundo está com medo. Sou pela paz e não quero ter que atirar. Mas é muito perigoso sair agora, caso contrário haveria muito mais pessoas protestando”, disse Vassili Fedorov, um manifestante em São Petersburgo.
Alina Skvortsova, 20, espera que os russos comecem a “entender” a natureza da ofensiva na Ucrânia. “Quando eles realmente entenderem, sairão às ruas, apesar do medo.”
O comandante-chefe do exército ucraniano, Valery Zalujny prometeu “destruir” os russos que chegarem ao território ucraniano para lutar, incluindo aqueles que serão mobilizados após a ordem de Putin.
Por seu lado, a China parece tomar certa distância ao pedir um cessar-fogo e respeito territorial dos Estados, enquanto a Turquia condenou os referendos de anexação “ilegítimos” anunciados pela Rússia.