Enquanto Tarcísio de Freitas (Republicanos) caminhava no dia 30 de agosto pelas ruas do Brás, na Zona Central de São Paulo, com paradas para selfies e apertos de mão dos lojistas curiosos com a movimentação, Gilberto Kassab (PSD) o acompanhava do outro lado da rua, distante da aglomeração.
E, ao mesmo tempo conforme o jornal O Globo, que as equipes de fotografia e filmagem rodeavam o candidato bolsonarista ao governo de São Paulo para produzir vídeos de campanha e candidatos a cargos proporcionais disputavam espaço ao lado de Tarcísio, o presidente do PSD cochichava elogios sobre o aliado a quem quisesse ouvir.
Ao parar em um coworking, Kassab diz que Tarcísio é “o mais preparado” para suceder o governador Rodrigo Garcia (PSDB) no Palácio dos Bandeirantes e que, por isso, havia embarcado em seu projeto. Mas também fez questão de informar que ele próprio não é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), padrinho político de seu aliado.
O dirigente do PSD tem tido papel estratégico na campanha. Além de conhecer bem o estado, ativo valioso para Tarcísio — carioca radicado em Brasília e de relação recente com São Paulo —, Kassab atua na articulação política. Ele tem conversado com prefeitos ligados ao adversário tucano numa tentativa de atraí-los num eventual segundo turno entre o aliado e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) — cenário que a campanha considera o mais provável.
Para não melindrar os prefeitos, nem Kassab nem Tarcísio revelam os nomes dos já comprometidos a subir em seu palanque após 2 de outubro. Mas a campanha aposta em uma migração em massa de lideranças do PSDB rumo ao colo do ex-ministro.
No dia 10 de setembro, a equipe de comunicação de Tarcísio divulgou a filiação do prefeito tucano de Marília, Daniel Alonso, ao PL de Bolsonaro, como o “início da debandada do PSDB”. O anúncio foi feito durante comício com a presença de Kassab.
A “agenda de contatos” do ex-prefeito de São Paulo é outro ativo para a campanha. Ele deixou sua digital na realização de comícios como a turnê de Tarcísio pelo Brás, polo têxtil da cidade, e a ida a uma missa dominical na Basílica de Aparecida do Norte, no Vale do Paraíba, na semana passada. Veio dele o contato com o arcebispo local, Dom Orlando.
— O Kassab tem ajudado quando requisitado. Eventualmente, ele até participa de uma ou outra reunião. E a campanha se beneficia dessas aproximações (com lideranças locais) — afirma o ex-prefeito de São José dos Campos, Felício Ramuth (PSD), candidato a vice na chapa de Tarcísio.
Desde que formalizou apoio a Tarcísio em São Paulo, em 7 de julho, com a confirmação de seu correligionário Ramuth para vice, Kassab tem tido atuação discreta, mas constante, ao lado do ex-ministro de Bolsonaro, ao mesmo tempo em que procura não se vincular diretamente ao presidente.
Riscos e vantagens de não se ter um candidato à Presidência
Kassab quer manter a posição pública de neutralidade de seu partido, às vésperas de uma eleição em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera as pesquisas para presidente. Ele foi ministro tanto de Dilma Rousseff (PT) quanto de Michel Temer (MDB).
Quando questionado sobre o risco de se vincular a Bolsonaro ao apoiar Tarcísio em São Paulo, ele responde que as lideranças do PSD em outros estados têm posições divergentes em relação ao pleito nacional: Ratinho Junior (PR) também está com Bolsonaro, enquanto Eduardo Paes (RJ) e Otto Alencar (BA), por exemplo, apoiam Lula.
— Posso dizer que a decisão de apoiar o Tarcísio para governador foi uma das mais acertadas da curta vida do PSD (criado em 2011) — diz ele.
Mais do que a figura de Kassab, o partido tem estrutura e quadros para “encorpar” a campanha, entre eles o ex-vice-governador Guilherme Afif Domingos, coordenador do plano de governo, e Alfredo Cotait Neto, que preside a Associação Comercial de São Paulo e tem boa relação com o setor.
No comício no Brás, o peso do apoio do partido de Kassab ficou evidente. Havia mais cabos eleitorais com faixas e bandeiras do PSD do que do próprio partido de Tarcísio, o Republicanos. Com exceção do deputado estadual Wellington Moura (Republicanos), Kassab era o único dirigente no local — acentuando a crítica feita por aliados do ex-ministro de que falta empenho de sua própria sigla na campanha.
Segundo uma pessoa do entorno de Tarcísio, o Republicanos, ligado à Igreja Universal, tem priorizado o uso de recursos nas candidaturas a deputados federais e estaduais, em detrimento do governo paulista. Um dos efeitos é que o ex-ministro tem usado vans e carros em seus deslocamentos ao interior e buscado economizar nas agendas.
Os diretórios estadual e nacional do Republicanos repassaram, somados, R$ 5,4 milhões a Tarcísio, e o PSD, R$ 3,5 milhões. O total de recursos chega a R$ 13,5 milhões, enquanto Haddad tem R$ 24,7 milhões à disposição de sua coligação e Garcia R$ 21,7 milhões.
Outros aliados, no entanto, ponderam que Marcos Pereira, presidente do Republicanos, disputa a reeleição como deputado federal, enquanto Kassab não concorre nestas eleições, o que o deixa livre para mergulhar na campanha de Tarcísio.