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segunda-feira 19 de setembro de 2022 às 14:36h

O intérprete de libras de Bolsonaro que quer ser deputado federal

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Quase ninguém sabe seu nome e menos ainda ouviu sua voz, mas mesmo assim, o intérprete de libras (Língua Brasileira de Sinais), Fabiano Guimarães se tornou um rosto familiar para milhões de brasileiros, uma popularidade que agora quer explorar para se eleger deputado federal em outubro.

Durante quase três anos, Guimarães, de 42 anos, filiado ao partido Republicanos no Distrito Federal, apareceu várias vezes em cerimônias e viagens do presidente Jair Bolsonaro (PL), interpretando suas palavras para o público surdo.

Foi um “serviço democrático: traz para o debate essa comunidade surda, que antes não estava presente”, assegura o intérprete à AFP na sala de estar de sua casa em Águas Claras, cidade a meia hora do Palácio do Planalto, em Brasília.

Em 1º de janeiro de 2019, Bolsonaro quebrou o protocolo durante sua cerimônia de posse e passou o protagonismo à primeira-dama, Michelle, que transmitiu uma mensagem em libras, que domina e promove.

Desde então, o Executivo adotou essa marca em todos os discursos e Bolsonaro sempre posicionou um intérprete para surdos ao seu lado, inclusive durante suas ‘lives’ nas redes sociais.

Guimarães ganhou popularidade após se tornar, em meados de 2019, um dos intérpretes titulares de libras. Alguns de seus gestos interpretando os discursos de Bolsonaro, que costuma usar uma linguagem informal e às vezes com palavras ofensivas, provocaram risos nas redes.

 “Você fala?”

Mas ser intérprete do presidente tem sido principalmente um “desafio técnico” pela relevância do cargo e a temática política, assegura.

A linguagem de Bolsonaro é “uma linguagem informal, mas recheada de conteúdo (…) Ele fala para o povo, com o povo, e provocou o povo a participar do debate político”, diz Guimarães, um bolsonarista convicto, que em sua sala tem uma taça com a imagem do presidente e uma medalha militar com a qual foi condecorado, junto a um letreiro de madeira com a inscrição “Jesus”.

Sua sintonia com o presidente salta aos olhos inclusive publicamente.

Durante uma ‘live’ em maio, Bolsonaro emudeceu por alguns segundos, esforçando-se para se lembrar do nome de seu ministro da Agricultura. Sentado ao seu lado e com uma mão cobrindo a boca para ser discreto, Guimarães sussurrou o nome.

“Você também fala?”, reagiu Bolsonaro, rindo. “Falo”, respondeu Guimarães, soltando uma gargalhada.

“Estar ao lado do presidente me deu nessa projeção (…) Eu sou uma pessoa comum, e cheguei aonde estou porque Deus me trouxe, fez o improvável”, diz este homem de pele morena, baixa estatura e entradas prominentes, chamado por alguns de “mudinho” de Bolsonaro, em tom pejorativo.

 Dez milhões de surdos

Professor formado em letras em português e espanhol, este filho de uma família humilde começou a mergulhar na linguagem de sinais aos 18 anos no templo evangélico que frequentava em Belford Roxo, município da Baixada Fluminense.

Um pastor pagou o curso de libras, e quando o concluiu, usou o conhecimento dentro da igreja para expandir o alcance do Evangelho.

Em 2019, fez um concurso público de intérprete para o ministério da Educação, mas foi enviado à Presidência, onde criou um vínculo com a primeira-dama, uma das pessoas que mais o incentivou a se candidatar.

“Estar ao lado do presidente, ter as duas línguas no mesmo patamar de importância, gerou essa valorização desse profissional, a visibilidade da comunidade surda no Brasil”, diz Guimarães.

Estima-se que haja cerca de 10 milhões de surdos na população de 213 milhões de habitantes do Brasil e cerca de 90.000 vivem no Distrito Federal, onde Guimarães lançou sua candidatura, com um programa de inclusão e defesa da família “tradicional”.

O presidente defende “os pilares Deus, Pátria, família e liberdade. E as pautas da primeira-dama são as minhas, de sensibilidade e inclusão. Estou buscando fazer essa correlação das bandeiras do presidente com as da primeira-dama”, assegura.

 “Fantástico”

A duas semanas das eleições, ele não se preocupa de que a maioria dos eleitores não saibam seu nome.

Em 2 de outubro, será um entre as dezenas de candidatos identificados com o nome “Bolsonaro”, prática permitida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que os candidatos usem os apelidos com os quais são mais conhecidos. Sua legenda é “Fabiano, Intérprete de Bolsonaro”.

“Ser chamado de ‘intérprete de Bolsonaro’ é fantástico para mim (..) Muitas vezes, as pessoas não sabem nem o meu nome. ‘Quem é Fabiano?’”, perguntam.

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