O guru da ultradireita nos Estados Unidos, Steve Bannon, também influente no círculo próximo do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Brasil, foi acusado nesta quinta-feira (8) de lavagem de dinheiro e conspiração em um suposto esquema de fraude na arrecadação de recursos para construir o muro que separa o país do México, bandeira de campanha do ex-presidente Donald Trump.
Foram seis acusações no total, uma por fraude, duas por lavagem de dinheiro e três por conspiração, feitas pelo procurador distrital de Manhattan, Alvin Bragg, e pela procuradora-geral de Nova York, Letitia James, desafeta de Trump.
Bannon, 68, se apresentou na manhã desta quinta à promotoria na cidade. Na chegada, afirmou a jornalistas que o caso se tratava de perseguição política. As condenações previstas nas acusações passam dos 15 anos de prisão.
O processo retoma a agosto de 2020, quando a campanha “We Build the Wall” (nós construímos o muro) arrecadou cerca de US$ 25 milhões (R$ 130 bilhões na conversão atual) em doações de pessoas físicas para levar a cabo a proposta do então presidente, de quem Bannon foi estrategista no começo do mandato, de ampliar as barreiras físicas que separam os EUA do México para evitar a entrada ilegal de imigrantes. O projeto capitaneado pelo ex-estrategista previa arrecadar fundos para construir o muro em propriedades privadas na fronteira. Bannon é acusado de desviar doações para despesas pessoais.
Ele já havia sido acusado pela justiça federal em Nova York de enganar os doadores e desviar recursos e chegou a ser preso em agosto de 2020, mas foi liberado em seguida, após pagar fiança de US$ 5 milhões (R$ 26 milhões).
Em 20 de janeiro de 2021, horas antes de passar o cargo de presidente para o democrata Joe Biden, Trump concedeu, durante a madrugada, perdão presidencial a Bannon e a outros 142 aliados políticos que tinham problemas com a Justiça.
O perdão presidencial, no entanto, blindou Bannon apenas de investigações no nível federal, e desde o ano passado havia a expectativa de que o processo andasse na esfera estadual de Nova York, o que ocorre nesta quinta-feira.
“Stephen Bannon atuou como o arquiteto de um esquema multimilionário para fraudar milhares de doadores pelo país”, disse o procurador Alvin Bragg em comunicado nesta quinta. “É crime lucrar a partir de mentiras a doadores, e em Nova York você será levado à Justiça.”
“Bannon tirou vantagem das visões políticas de doadores para arrecadar milhões de dólares, que ele então desviou. Bannon mentiu a seus doadores e enriqueceu a si próprio e a amigos”, disse a procuradora-geral Letitia James.
Esta é a mais recente ofensiva do sistema de justiça americano contra o ideólogo da direita global, que foi foi condenado em julho por desacato, por desrespeitar intimações do comitê da Câmara que investiga a invasão do Congresso dos EUA.
Criador do podcast “War Room” e ex-chefe do portal de ultradireita Breitbart News, Bannon é tido como um dos responsáveis pela vitória de Donald Trump à Presidência em 2016. Próximo também do deputado brasileiro Eduardo Bolsonaro, ele participou de eventos com personalidades da direita brasileira, como o escritor Olavo de Carvalho, morto no começo do ano.
Em documentário recente produzido pela rede britânica BBC sobre o presidente Jair Bolsonaro, Bannon elogia o mandatário brasileiro e o compara a Trump. “Vocês estavam completamente errados sobre [o sucesso de] Trump, completamente errados sobre Bolsonaro. Coloque seu preconceito de lado, coloque de lado os nomes pelos quais você os chama e olhe para os fatos. Estamos só começando, não vai parar.”
A promotoria de Nova York também avança contra Trump. No começo de agosto, o ex-presidente depôs em um caso que investiga supostas manobras fiscais de suas empresas –ele apenas negou, no entanto, que responderia às perguntas.