O Governo Federal pode receber nas próximas semanas cerca de R$ 80 bilhões do BNDES, como devolução antecipada de recursos emprestados pelo Tesouro Nacional cedidos ao banco para financiar empréstimos. Com a transferência desses recursos, o BNDES deve zerar a pendência com o Tesouro e reduzir a dívida pública.
A dívida bruta fechou o mês de julho sendo equivalente a 77,6% do PIB. Com a devolução de recursos do BNDES, o crescimento do PIB e o pequeno superávit primário (ou seja, receitas maiores que despesas, sem contar os juros), o governo espera fechar a dívida pública próximo ou abaixo do início da gestão Jair Bolsonaro, quando este indicador estava em 75,4% do PIB.
O governo pretende usar esses dados como trunfo para responder às críticas sobre a gestão fiscal.
Os recursos a serem devolvidos pelo BNDES se referem a empréstimos tomados no passado para viabilizar financiamentos a empresas e conter efeitos da crise global de 2008. O governo federal injetou mais de R$ 400 bilhões no BNDES entre 2008 e 2014. O dinheiro era tomado no mercado, com juro mais alto que o do BNDES. Ou seja, o governo ficou com prejuízo, com impacto na dívida.
Os vencimentos dos empréstimos vão até 2060. Com a crise fiscal e a troca de comando no governo, o banco começou a antecipar os pagamentos ao Tesouro, para reduzir a dívida pública. Desde 2015, foram devolvidos mais de R$ 530 bilhões. Os cerca de R$ 80 bilhões encerram a dívida, no que o governo tem chamado de “despedalada final” — o valor total é maior que o empréstimo por causa dos juros.
A área jurídica do BNDES vinha resistindo a devolver o restante por entender que isso traria prejuízos ao banco. Após um articulação do ministro da Economia, Paulo Guedes, o Tribunal de Contas da União (TCU) enviou ao banco um entendimento de que a não devolução do empréstimo, na verdade, gera prejuízos para a União. Isso foi entendido quase como uma ordem do TCU para devolver o dinheiro.
Em junho, Guedes afirmou que o BNDES “aplicou uma rasteira” no governo ao procurar o TCU argumentando que perderia dinheiro ao fazer a devolução antes do prazo definido por contrato. O dinheiro deveria ter sido devolvido totalmente até o fim do ano passado. Essa declaração foi dada, inclusive, na cerimônia em comemoração aos 70 anos do banco.