A produção brasileira de soja deve alcançar conforme a Reuters um recorde em torno de 151 milhões de toneladas na safra 2022/23, estimou nesta segunda-feira (29) a associação que representa a indústria do setor, a Abiove, sobre a nova temporada cujo plantio começa em setembro.
No ciclo anterior, quando as lavouras foram afetadas por uma seca no último verão, o maior produtor e exportador global da oleaginosa colheu 126,6 milhões de toneladas, de acordo com os números da entidade.
Em meio à expectativa de uma safra maior, o presidente da Abiove, André Nassar, disse que a indústria está cautelosa nas compras, por incertezas relacionadas a preços da matéria-prima e margens, que possivelmente não seriam tão boas quanto foram no início de 2022.
Para Nassar, o avanço esperado para a nova safra vem na esteira de um aumento na área de plantio, que deve atingir 42 milhões de hectares. No ciclo anterior, o país semeou 40,9 milhões de hectares, segundo dados do governo federal mensurados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Durante evento da consultoria Datagro, ele admitiu que, se a expectativa para a produção de soja em grão for confirmada, “o processamento não vai acompanhar esse crescimento todo”, mas também terá um viés positivo.
“Este ano (2022) o processamento é 48,6 milhões de toneladas… acho que tem uma tendência de crescer”, disse, citando que o esmagamento de soja pode chegar a um novo recorde de 49,2 milhões de toneladas em 2023.
Uma diferença entre a nova safra e a anterior, segundo Nassar, é que em 2021/22 as tradings começaram a temporada com margens melhores, mas que foram caindo devido ao aumento nos preços da soja –algo que ele não espera que vá acontecer da mesma forma em 2022/23.
Agora, porém, a indústria está cautelosa na antecipação de compras do grão.
“As vendas antecipadas estão ao redor de 12%, é um cenário de grande incerteza (sobre os preços da soja).”
Farelo e óleo
Sem detalhar a previsão de exportações de farelo para o ano que vem, Nassar comentou que os embarques estão em um nível considerado muito bom e a chegada da China como novo comprador será significativa, mesmo que o Brasil tenha limitações nos negócios com o país asiático, que já é um grande esmagador de soja.
“A gente não espera grandes compras de farelo da China… mas as pequenas compras serão importantes”, afirmou.
A abertura do mercado chinês para o farelo foi confirmada no final de julho, uma medida longamente esperada pelo setor, que até o momento vende somente soja em grão para a China, mas buscava expandir negócios com o produto de maior valor agregado.
Atualmente, as indústrias do Brasil estão em processo de habilitação antes de darem início aos embarques.
Sobre o óleo de soja, o presidente da Abiove destacou que as exportações deste ano devem atingir um novo recorde de quase 2,2 milhões de toneladas, diante do acesso a mercados que podem se consolidar nos próximos anos.
“O Brasil cresceu em alguns mercados que não eram tão grandes (importadores). Isso seria uma boa notícia para o ano que vem, mesmo se não mudar o mandato do biodiesel”, afirmou citando a possibilidade de avanço no segmento de óleo, mesmo se o percentual de biodiesel misturado ao diesel não mudar.
O biocombustível tem no óleo de soja uma de suas principais matérias-primas no Brasil.
Dentre os compradores relevantes de óleo brasileiro, Nassar destacou a Índia, China e Bangladesh.
“A gente percebe um interesse enorme de Índia e Bangladesh em diverdificar a compra, conversando muito com o Brasil”, acrescentou.
Um fator relevante para a manutenção do produto brasileiro nesses mercados em volumes maiores é o desempenho da Ucrânia, que é concorrente com o fornecimento de óleo de girassol, disse o executivo.
A guerra entre a Ucrânia e Rússia afetou o ritmo de produção e exportação de diversos produtos agrícolas ucranianos, dentre eles o óleo de girassol, abrindo espaço para o ganho de “market share” do Brasil com óleo de soja no mercado internacional.