domingo 22 de dezembro de 2024
Virgilio Marques dos Santos, CEO da FM2S Educação e Consultoria
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segunda-feira 29 de agosto de 2022 às 10:45h

As eleições e as pesquisas: podemos prever o futuro?

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Lula ou Bolsonaro? Terceira via? Tebet? Ciro? Daciolo? Pesquisas mostram que dá Lula. Como uma pesquisa pode ser verdade se eu nunca fui ouvido? Como perguntar para 2 mil pessoas ajuda a entender o Brasil? Isso é mentira. Deixa disso, pesquisas são registradas no TSE. O padrão é rigoroso e repercute a verdade. Será? Sim? Não? Enfim, se a coisa está confusa, venha conosco que vamos ajudar a desanuviar-lá. Afinal, conceitos sólidos e linguagem simples são parte fundamental de nosso propósito.

Para começar, gostaria de voltar no tempo: agosto de 2018. Como estava o cenário eleitoral há exatos 4 anos

atrás? Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha e divulgada no dia 22/8/2018, o cenário era o seguinte:

●    Lula: 39%

●    Bolsonaro: 19%

●    Marina Silva: 8%

●    Geraldo Alckmin: 6%

●    Ciro Gomes: 5%

Havia o Álvaro Dias, Amoêdo, Boulos, Daciolo, Vera, João Goulart Filho e o Meirelles, somando 6%. Brancos e nulos, 11%; não sabem, 3%. Como foi o resultado das eleições no 1º turno?

●    Bolsonaro: 46%

●    Haddad: 29,28%

●    Ciro Gomes: 12,47%

●    Geraldo Alckmin: 4,76 %

●    Amoêdo: 2,5%

●    Daciolo: 1,26%

●    Meirelles: 1,2%

Branco e nulos, 8,8%; abstenções, 20%. Para facilitar a comparação, optou-se pela construção da tabela 1, corrigindo os dados da pesquisa para votos válidos.

Tabela 1: Comparativo entre a pesquisa Datafolha estimulada em agosto/2018 e o resultado dos votos válidos na eleição

Pela Tabela 1, pode-se notar a aceleração do Bolsonaro nos 2 meses de campanha. Ele cresceu 23% em 2 meses, o que é notável. Já o PT, ao trocar Lula por Haddad, teve uma queda de 17%. Agora, qual foi o fluxo de migração de votos? Essa resposta é impossível de ser dada baseando-se em fatos e dados. Poderíamos, claro, elaborar hipóteses de impossível validação. Por exemplo, imaginando que os votos de Marina Silva possam ter migrado para o Ciro, ou até para o Bolsonaro. Entretanto, deixemos a conjectura para os especialistas.

O que os dados trazem é uma certeza de que o Lula possui 17% de eleitores que, na ocasião, não transferiram seus votos ao PT. A relação de confiança é pessoal, o que ajuda a explicar um pouco da estratégia dele nesse ano. Toda vez que é indagado sobre planos ou projetos, recorre-se ao histórico e formula sua fala em cima da confiança a si, atribuída pelo povo.

Como está o cenário em agosto de 2022?

Segundo a pesquisa Datafolha divulgada dia 18 de agosto de 2022, o cenário encontra-se na tabela 2. Para fins de comparação, colocou-se nessa tabela o cenário de 2018 x 2022. Na pesquisa de 2022, os brancos, nulos, nenhum e não sabe totalizaram 8%. Para termos os votos válidos, iremos dividir os resultados da pesquisa por 0,92 (que é o total – 100% – menos 8% dos “não válidos”), tal como fizemos na comparação de 2018.

Tabela 2: Comparativo entre a pesquisa Datafolha estimulada em agosto/2018 e agosto/2022

Pela Tabela 2, pode-se notar a forte polarização tão mencionada. Em 2018, havia 25% dos votos com outros candidatos em agosto; já em 2022, apenas 4,4%. Esse resultado dá a percepção de que a campanha de 2018 ainda não acabou. O embate ainda não acabou.

E, se nada mudar no cenário acerca dos dois principais candidatos, a coisa parece estar cristalizada. Lula traz seus 46% de intenção de voto que possuía em 2018, acrescido de 5% que podem ter se originado do Geraldo Alckmin ou da saída do PT dos holofotes no caso da Lava Jato. Já Bolsonaro, mostra-se 11,8% maior do que estava em 2018 – mas sem pista para decolar até os 46% da eleição.

Digo isso pela sua rejeição e pela pouca disponibilidade de votos livres para a mudança. Já Ciro, na reta final, pode capturar uma parte dos demais candidatos, mas dificilmente chegará aos 12% alcançados em 2018. Portanto, para que possamos presenciar uma mudança nesse cenário, o balanço do barco deverá ser mais forte ainda que 2018, onde o PT perdeu pontos pela inexigibilidade de Lula e o Bolsonaro ganhou pontos pela exposição maior da facada.

Se voltarmos no tempo, acho difícil que alguma eleição no Brasil para presidente tenha tido simultaneamente uma prisão do primeiro colocado e uma tentativa de assassinato do segundo. Se tudo se mantiver na normalidade, mudanças necessárias para uma virada de jogo parecem muito distantes – haja vista que estamos há dois meses com os candidatos praticamente estáveis nas pesquisas eleitorais.

E, para mim, as pesquisas retratam a realidade e sua metodologia é mais do que comprovada. Cuidado com as comparações – e, contudo, se alguém te confrontar com as mudanças de 2018, avalie: foram causas comuns ou causas especiais? Use os seus conhecimentos estatísticos para perguntar: qual a probabilidade do primeiro colocado ser preso novamente e do segundo sofrer um atentado? Fico por aqui.

Virgilio Marques dos Santos é sócio-fundador da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.

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