Angola iniciou neste sábado (27) um fim de semana de homenagens ao ex-presidente José Eduardo dos Santos, que governou o país durante 38 anos, poucos dias após uma eleição que teve os resultados preliminares questionados pela oposição.
Presidente de Angola (1979-2017) sem nunca ter sido eleito nas urnas, Santos faleceu no mês passado aos 79 anos quando estava internado em uma clínica de Barcelona (Espanha). Ele foi acusado de desviar bilhões de dólares para favorecer sua família e amigos.
Antes do funeral de Estado no domingo, o cortejo fúnebre com o caixão e a bandeira de Angola entrou na Praça da República, no centro da capital Luanda, escoltado por policiais.
Muitas pessoas aguardavam nas ruas, algumas chorando e outras cantando.
Na vasta esplanada, próxima ao oceano, fica o grande mausoléu do primeiro presidente angolano, Agostinho Neto, diante do qual serão prestadas homenagens a seu sucessor.
Entre muitas bandeiras, vários cartazes se despediam de “Zedu”, apelido do ex-presidente, com mensagens como “Adeus presidente amado” ou “Para sempre nosso comandante”.
No domingo acontecerá em Luanda o funeral oficial, com a presença de vários chefes de Estado e de Governo.
A homenagem acontece poucos dias depois das eleições legislativas que definiram, de maneira indireta, o presidente do país.
Na ex-colônia portuguesa, independente desde 1975, o líder do partido vencedor nas legislativas assume o cargo de chefe de Estado.
Uma eleição disputada
A oposição rejeitou na sexta-feira os resultados preliminares que, com 97% das urnas apuradas, apontam a provável vitória do partido governista.
O Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) do atual presidente, João Lourenço, lidera no momento com 51,07% dos votos, segundo a Comissão Eleitoral.
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), principal partido de oposição e que aparece com 44,05% dos votos, contestou os resultados; O líder da formação Adalberto Costa Júnior, pediu a criação de uma comissão de verificação.
Os resultados definitivos ainda não foram divulgados.
A oposição angolana conquistou eleitores com as promessas de reduzir a pobreza e a corrupção, em um cenário de inflação galopante e seca persistente, que estimula o desejo de mudança.
Costa Júnior, de 60 anos, seduz a juventude e parte crescente do eleitorado, que rejeita a herança de José Eduardo dos Santos e o considera um símbolo de corrupção e nepotismo.
Santos transformou Angola, país rico em recursos naturais, em um dos maiores produtores de petróleo do continente, ao lado a Nigéria. Mas também utilizou os recursos do país para o próprio lucro e de pessoas próximas, enquanto o país permanecia como um dos mais pobres do mundo.
Seu sucessor designado, João Lourenço, estabeleceu distância deste sistema com uma intensa campanha anticorrupção e de reformas, elogiada no exterior, para tentar acabar com a dependência que a economia do país tem do petróleo.
Porém, muitos consideram que a campanha contra a corrupção foi apenas um acerto de contas com a família Santos. E mais da metade dos 33 milhões de angolanos continuam vivendo abaixo da linha da pobreza, de acordo com dados de 2020 do Banco Mundial.