Os adoçantes aspartame, sacarina, estévia e sucralose impactam significativamente as microbiotas do nosso corpo, notavelmente a microbiota intestinal, segundo um estudo publicado na sexta-feira (19) na revista científica Cell.
No caso da sacarina e da sucralose, há também um aumento relevante nos níveis de glicose — justamente aquilo que o consumo desses itens frequentemente busca evitar.
Segundo a equipe de cientistas responsável pelo estudo, os resultados mostram que os chamados adoçantes não nutritivos (NNS) não são “inertes” no corpo humano, como se pensava, e que é preciso cautela sobre o uso desses produtos, especialmente por pessoas com doenças metabólicas como diabetes e obesidade.
Esses adoçantes não contêm ou quase não contêm calorias e nutrientes, diferente dos açúcares adicionados ou naturalmente existentes: nas frutas, por exemplo.
“Não podemos fazer uma recomendação favorável ou contrária ao uso desses adoçantes, mas acreditamos sim que até que mais estudos sejam realizados, a cautela é recomendada”, escreveu por e-mail à BBC News Brasil o líder do estudo, o médico e pesquisador Eran Elinav, do Instituto Weizmann da Ciência,em Israel.
Alterações intestinais
No caso da pesquisa publicada na revista Cell, 120 voluntários que não tinham o hábito de consumir os adoçantes não nutritivos foram divididos em seis grupos: dois grupos controles, um grupo que ingeriu aspartame, outro sacarina, outro estévia e outro sucralose.
Os grupos que consumiram os adoçantes o fizeram durante duas semanas, incluindo na alimentação sachês em uma quantidade abaixo do nível máximo recomendado diariamente.
As microbiotas são conjuntos de bactérias, fungos e vírus geralmente benéficos que estão em diferentes partes do nosso corpo, sendo a microbiota intestinal a maior delas, com trilhões de micróbios vivendo ali.
Através da análise metagenômica, que envolve o material genético desses micróbios, os cientistas verificaram que cada adoçante impactou significativamente as microbiotas intestinal e oral, enquanto os grupos controle não tiveram alterações marcantes.
Eran Elinav explica que os adoçantes podem impactar as microbiotas inibindo ou estimulando o crescimento de alguma espécies, além de provocar alterações em fatores intermediários, como nos receptores de sabores doce ou amargo no intestino ou no sistema imunológico — que indiretamente afetam a microbiota.
Através de exames rotineiros, os pesquisadores registraram que as pessoas que ingeriram sacarina e sucralose tiveram um aumento significativo da glicose no sangue.
Em uma segunda etapa da pesquisa, para provar uma causalidade entre a alteração na microbiota por conta dos adoçantes e alterações nos níveis de glicose, a equipe usou cobaias.
Estas receberam transplantes de fezes de 42 voluntários, ou seja, receberam parte da microbiota dos participantes do estudo.
Os pesquisadores observaram alterações semelhantes na microbiota e nos níveis de glicose de humanos e cobaias. Logo, eles demonstraram que os adoçantes impactam a microbiota, e que esta por sua vez também está relacionada aos níveis de glicose.
“A microbiota afeta a saúde metabólica, incluindo as respostas glicêmicas, de várias maneiras. Por exemplo, a microbiota pode modular a secreção de hormônios intestinais que afetam a secreção e a sensibilidade à insulina”, explica Elinav.
Em 2014, um estudo do Instituto Weizmann da Ciência com cobaias já havia mostrado que adoçantes não nutritivos poderiam levar a alterações no metabolismo da glicose. Agora, um próximo passo, segundo o medico e pesquisador Eran Elinav, é ter estudos de longo prazo acompanhando o impacto dos adoçantes nos níveis de glicose em pessoas em risco ou diagnosticadas com diabetes.