Luciana Chong, diretora do Datafolha, participou do UOL News nesta sexta-feira (19) e apresentou detalhes sobre a pesquisa presidencial que foi divulgada um dia antes. Ela apontou que Jair Bolsonaro (PL) tem reconquistado pessoas que optaram por ele em 2018.
“A gente vê que no segmento dos eleitores do Bolsonaro de 2018 tem cerca de 20% que agora vota no Lula. E isso se mantém desde as primeiras rodadas. Mas nesse segmento a gente tem cerca de 63% que votam em Bolsonaro. E esse indice é maior agora. Nas pesquisas anteriores era 56%. Esse eleitores estão voltando pro Bolsonaro. Agora chegou a 63%. Então você percebe uma movimentação de eleitores que estão voltando”, analisou a diretora do Datafolha.
No geral Bolsonaro está com 32% das intenções de voto. Já o ex-presidente tem 47% até agora. A diferença entre os dois candidatos diminuiu em comparação com julho. Antes Lula tinha 18% de vantagem e agora tem 15%. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Segundo Luciana, essa movimentação aconteceu porque muitas pessoas indecisas tomaram uma posição a favor de Bolsonaro. “Lula ficou com o mesmo percentual, então Bolsonaro conseguiu votos de indecisos ou que iam votar em branco ou nulo. Essa movimentação não se deu em relação aos eleitores de Lula, que estão bem convictos”.
Datafolha: Lula está no limite da margem de erro para ter ou não 2º turno, diz diretora do instituto
De acordo com Luciana, não é possível concluir se a eleição presidencial teria 2º turno hoje, pois a pontuação de Lula está no limite da margem de erro.
Mas ela entende que as chances de termos um 2º turno aumentaram. “O que a gente observou é que Bolsonaro conquistou três pontos. Ele está pouco a pouco com uma movimentação, então isso faz com que a chance da eleição ser decidida no 1º turno vá diminuindo. Há alguns meses essa chance era maior”.
Flávio Bolsonaro criticou a pesquisa Datafolha e debochou dizendo que ela deveria se chamar “DataLula”. Josias de Souza, colunista do UOL, criticou a resposta do filho do presidente.
“Reação ridícula. É mais ou menos como o sujeito que recebe diagnóstico que está doente e culpa o exame, e não a doença. Eles desqualificam as pesquisas, mas utilizam essas pesquisas para pedir dinheiro. Falam ‘estamos correndo risco, Lula está estável, vamos ajudar a campanha’. Para isso a pesquisa serve. Mas desqualificam”, disse Josias no UOL News.
O colunista também analisou os resultados de 3 pesquisas que foram divulgadas nesta semana e afirmou que elas mostram a mesma tendência: “A vitória do Lula continua sendo uma possibilidade estatística na margem de erro”. E por fim Josias analisou quais são as dificuldades para Bolsonaro chegar no 2º turno.
“Bolsonaro ralou em três pesquisas que encostam o sonho da reeleição em tríade de obstáculos: uma muralha, uma pedreira e uma montanha. Muralha é representada pelo eleitorado pobre, que resiste em ceder votos, a despeito do Auxílio Brasil vitaminado. A pedreira se insinua na resistência do Lula, que apesar do bombardeiro, conserva metade dos votos válidos. E a montanha é a rejeição a Bolsonaro que continua rodando acima da casa dos 50%”, concluiu Josias.
Datafolha: Bolsonaro terá situação mais difícil se não conseguir avançar no sudeste, diz diretora
Luciana Chong relatou que as intenções de voto em Lula estão bastante consolidadas na região Nordeste. Então Bolsonaro tem mais chances de aumentar o apoio no Sudeste.
“Em 2018 Bolsonaro ganhou em 3 estados do Sudeste. Então fica muito difícil para ele se não conseguir avançar no Sudeste. No Nordeste Bolsonaro teve oscilações, mas não teve movimentação nenhuma. Eleitores de menor renda estão muito com Lula e dificilmente Bolsonaro avança”, apontou Luciana.
Eleitores do Ciro Gomes podem decidir se terá 2º turno, diz Datafolha
A diretora do Datafolha explicou que, após coletar as intenções de voto, o instituto também pergunta para os eleitores se eles podem votar em outros candidatos. E entre aquelas pessoas que pretendem votar em Ciro Gomes, 34% tem Lula como segunda opção. Essa parte do eleitorado, se mudar o voto, pode decidir a eleição.
“É um percentual pequeno de eleitores que podem mudar de voto. No 2º turno os eleitores do Ciro, a maioria votaria em Lula. E da Simone Tebet também tem uma parcela importante. Então eleitores do Ciro podem ser o ponto principal para essa decisão se terá ou não 2º turno”.
Disputas em São Paulo e Rio de Janeiro ainda deve mudar
Luciana mostrou cautela ao analisar as situações das eleições estaduais em São Paulo e no Rio de Janeiro. Para ela, é um cenário bem diferente da eleição presidencial, pois todos resultados ainda podem mudar muito.
“Para a eleição presidencial, os eleitores estão bem decididos. Tem um cenário muito consolidado. Quando a gente analisa nos estados, as pessoas não estão bem informadas. Em São Paulo tem 17% que pretendem votar em branco e nulo, e 11% que não sabem em quem votar. Haddad é o mais conhecido. Tarcísio e Rodrigo são pouco conhecidos. Com início da campanha isso vai mudar. A disputa em São Paulo está muito aberta. No Rio de Janeiro a gente não conseguiu comparar diretamente os resultados porque tinham outros candidatos. Mas assim como em São Paulo, você vê 29% sem candidato. É um índice expressivo. A disputa também vai ser difícil”, apontou Luciana.
“Não adianta responder críticas contra o Datafolha”
Luciana foi perguntada sobre os frequentes ataques feitos contra o Datafolha, mas não quis responder diretamente a ninguém.
“O que a gente responde é mostrando resultados e consistências dos dados. Não adianta responder diretamente. É questão de posicionamento. O que a gente tenta fazer é mostrar que os resultados são consistentes. O objetivo principal é mostrar o que está acontecendo agora. Tem pessoas que vão rejeitar, mas faz parte do jogo receber críticas”, concluiu ela.