Nas eleições de 2022, houve um número recorde de candidaturas femininas. De acordo com dados atualizados na terça-feira (16) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 9.397 mulheres se registraram para a disputa.
O número representa um leve aumento (2,17%) em relação às 9.197 candidaturas registradas em 2018. No total, são 28.243 candidaturas, mas elas ainda precisam ser julgadas como aptas pela Corte eleitoral para estarem nas urnas em 2 de outubro.
Neste ano, segundo Gabryella Garcia, do UOL, são os partidos de esquerda e de centro-esquerda os que mais investiram em lançar mulheres ao pleito. Mas apenas sete alcançaram um percentual superior a 36% nas candidaturas femininas: UP, PCdoB, PSTU, PSOL, PT, PCB e PV.
Desde 2009 (Lei nº 12.034), cada legenda deve respeitar o percentual mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada gênero.
A boa notícia é relativa. O único partido que traz mais candidatas do que homens é o novato UP, que disputa seu primeiro pleito nacional e tem 68,33% de suas candidaturas sendo de mulheres (veja tabela ao final do texto).
Na outra ponta da lista, as siglas que apresentam o menor percentual de candidaturas femininas são PRTB, Agir, Novo, PMB, DC, PTB, Avante e PL.
O número recorde de candidaturas de mulheres se deve à lei de cotas e ao fato de o TSE ter aprovado em 2021 uma mudança para incentivar partidos a lançar mais mulheres e aumentar a representatividade nos espaços de poder. Neste ano, pela primeira vez, votos para deputado federal dados a candidatos negros e a candidatas mulheres valerão em dobro no cálculo de divisão do fundo eleitoral.
A cientista política Débora Thomé destaca, entretanto, que o percentual de candidatas continua extremamente baixo e longe de espelhar a sociedade brasileira, onde 53% do eleitorado é composto por mulheres.
É um aumento irrisório. Os números continuam péssimos. Falamos sistematicamente de aumentar a representatividade e na prática continuamos com dificuldades para recrutar mulheres e termos mais candidatas.”
Débora Thomé, cientista política
Ela vê dificuldades dentro dos próprios partidos, que “não estão conseguindo recrutar mulheres competitivas ou então não estão incentivando o processo”. “O que acontece é que, se o partido tem sete homens, ele precisa de três mulheres candidatas. Então, se houver duas mulheres, eles se desesperam para não ter que reduzir o número de homens e recrutam mulheres sem o devido cuidado”, diz.
Ela ainda chama a atenção para um defeito ainda presente na sociedade. “Temos o machismo estrutural e também o patriarcado regendo nossas dinâmicas sociais. Todo o regramento do fundo [partidário] seria para aumentar a presença de mulheres, mas não acontece em boa parte porque os partidos são estruturas carregadas de viés de gênero com homens que mandam, coordenam e decidem quem e como essa pessoa vai se candidatar.”
Mulheres mais como vices
Elas estão nas chapas em disputa, mas se concentram como vices. Em cargos majoritários, como governador (17,04%) e senador (22,55%), aparecem os menores percentuais de candidaturas femininas. Já vice-presidentes (41,67%) e vice-governadores (39,73%) mais se aproximam de uma paridade de gênero.
Em 2018, houve o maior percentual de mulheres eleitas para a Câmara em toda a história, quando elas ocuparam 77 das 513 cadeiras, ou seja, 15%. Neste ano, as candidaturas representam 34,5% do total de candidatas para a Câmara, mas Débora Thomé chama a atenção para uma “falha na democracia”.
“A gente tem 53% das mulheres compondo o eleitorado, mas a democracia não incorpora essa representação. Mulheres são apenas 15% na Câmara, então essa democracia tem uma falha. Mulheres negras, por exemplo, são quase 1/3 da população e não são nem 10% no Congresso, então essa perspectiva não aparece como deveria nas decisões políticas e construção de leis. Há um déficit de representatividade. O eleitorado precisa entender a importância de votar em mulheres.”
A cientista política também ressalta a necessidade de formação para as mulheres na política e de verbas para fazer campanha.
“O dinheiro é importante nas eleições e, se o partido não direciona para as mulheres, dificilmente elas serão eleitas. Tem que pressionar cada vez mais os partidos e também formar mais lideranças femininas que possam participar dos processos.”
Norte e Nordeste têm mais mulheres
Entre os cinco estados com maior representatividade feminina, dois são da região Norte (Amapá e Roraima) e dois do Nordeste (Rio Grande do Norte e Piauí). Completa o ranking Goiás. Ainda assim, o percentual é tímido.
Em ordem, aparecem Rio Grande do Norte (35,54%), Amapá (35,42%), Goiás (35,33%), Roraima (35,23%) e Piauí (35,15%). Rio Grande do Norte, Amapá e Roraima, vale destacar, são três dos quatro únicos estados que elegeram mulheres governadoras nos últimos 12 anos.
Fátima Bezerra (PT), inclusive, concorre à reeleição no governo do Rio Grande do Norte e é uma das poucas candidaturas femininas consideradas competitivas pelos governos estaduais.
Além dela, destaca-se na corrida pelo governo de Pernambuco Marília Arraes (Solidariedade), que é líder nas pesquisas de intenção de voto. Também vale destacar chapas puramente femininas como Simone Tebet (MDB) e sua vice, Mara Gabrilli (PSDB), que concorrem à Presidência, e Raquel Lyra (PSDB) e Priscila Krause (Cidadania), que disputam o governo em Pernambuco.
Um ponto negativo está nas regiões Sul e Sudeste, onde estão os maiores colégios eleitorais do país e abrigam os piores índices de representatividade em candidaturas femininas. Rio de Janeiro tem 31,84%, enquanto São Paulo apresenta 32,47%.