As estatísticas sobre os resultados das últimas seis eleições dão algumas pistas sobre o impacto eleitoral da máquina pública no sucesso nas urnas. Levantamento feito pelo jornal O Globo aponta que, quando se trata dos governadores, as chances de se reeleger são, em média, maiores que as de não continuar no cargo. Desde 1998, quando a reeleição passou a ser permitida, seis em cada dez governadores que tentaram ser reconduzidos tiveram êxito. No pleito deste ano, 20 dos 27 chefes de Executivos estaduais disputarão a reeleição. Por outro lado, o histórico mostra que os governadores têm dificuldade de emplacar seus sucessores.
Nos três estados com pesquisas Datafolha divulgadas até o momento, dois atuais governadores aparecem na primeira posição. É o caso de Cláudio Castro (PL), no Rio, que está empatado tecnicamente com o deputado federal Marcelo Freixo (PSB); e Romeu Zema (Novo), que lidera em Minas. Em São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB) aparece em segundo, empatado com o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) e atrás do ex-prefeito Fernando Haddad (PT).
Nas últimas seis eleições, mais da metade dos 162 candidatos eleitos para o Executivo estadual já estava no posto ou era nome da situação, apoiado pelo governador à época. Em números absolutos, foram 70 governadores reeleitos nos últimos seis pleitos, em 26 dos 27 estados. Outros 21 candidatos eleitos eram sucessores políticos de mandatários.
Estratégias
No Rio, Castro usou os cerca de 15 meses à frente do governo —ele assumiu em agosto de 2020 com o impeachment de Wilson Witzel — para anunciar programas de grande porte. Sua gestão se beneficiou da renda de R$ 22,6 bilhões do leilão de concessão dos serviços de saneamento da Cedae. O governador montou uma ampla aliança de 14 partidos, que lhe garantirá vantagem sobre os adversários no horário eleitoral gratuito. O governador terá cerca de 4 minutos e 51 segundos em cada bloco de propaganda na televisão. O Estado do Rio já reelegeu dois governadores: Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, ambos do MDB.
Em São Paulo, Rodrigo Garcia turbinou sua pré-campanha com agendas no interior do estado. Como a legislação proíbe candidatos de comparecer em inaugurações de obras públicas a menos de três meses das eleições, o governador deu um jeito para manobrar a restrição. A estratégia foi visitar obras na “reta final”. Com oito siglas coligadas em seu projeto de reeleição, o governador paulista está na dianteira em tempo de propaganda na TV: terá 4 minutos e 13 segundos de propaganda. Além de garantir um novo mandato para si próprio, ele tem como missão dar continuidade aos 27 anos de governos do PSDB no estado.
Para Bruno Carazza, autor do livro “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro” e professor da Fundação Dom Cabral, a tendência é de alta taxa de reeleição no pleito deste ano.
— Nos últimos anos, houve reforço a quem já ocupa cargos. Políticos experientes foram valorizados nas eleições de 2020. Temos um fundo eleitoral ampliado, e os governadores tiveram reforço de caixa por causa da pandemia e da inflação. A pandemia fez o governo federal transferir mais recursos aos estados e houve flexibilização de regras fiscais, o que permitiu criar auxílios e benefícios próprios. Como o sentimento antipolítica parece ter refluído, acredito que na maior parte dos estados os governadores largam à frente nas eleições —analisa.
Nas eleições deste ano, apenas as governadoras do Ceará, Izolda Cela, preterida pelo PDT para a disputa, e do Piauí, Regina Sousa (PT), não concorrerão. Outros cinco mandatários não podem entrar na corrida pelo comando do Executivo estadual, porque já estão no segundo mandato.
A exceção, entre os estados, na tradição de reeleição é o Rio Grande do Sul, em que Eduardo Leite (PSDB) disputará um novo mandato. Dos cinco governadores que tentaram a reeleição, nenhum conseguiu. Leite renunciou ao cargo em março deste ano e ensaiou disputar a Presidência da República, mesmo após perder as prévias de seu partido.
Além do Rio Grande do Sul, conquistar um segundo mandato é mais difícil no Distrito Federal. No estado em que Ibaneis Rocha (MDB) disputará a m novo mandato este ano, apenas um governador, Joaquim Roriz, foi reeleito dos quatro que tentaram. Ibaneis abrirá seu palanque para o presidente Jair Bolsonaro (PL) , apesar de seu partido, o MDB, ter como candidata ao Palácio do Planalto a senadora Simone Tebet (MS).
Maranhão, Mato Grosso do Sul e Acre, por sua vez, são os únicos estados em que todos os governadores que tentaram permanecer no posto foram bem-sucedidos nas urnas.
Ativos eleitorais
Bruno Carazza avalia que a alta taxa de reeleição de governadores no país é um indício de que o cargo conta para a disputa:
— O uso do cargo facilita a reeleição. Há maior exposição na mídia, possibilidade de destinação de orçamento, de conceder reajuste a categorias e de viajar o estado todo, principalmente no período pré-eleitoral, financiado pelas contas públicas. Além disso, o fato de estar no poder facilita o arco de alianças. Destaco também que essa taxa cai em anos de mudança nos ventos da política nacional, o que mostra que ela também impacta.
Carazza se refere aos anos de 2002 e 2018, em que houve mudança no comando do governo federal com Lula e Bolsonaro. No caso do atual presidente, a eleição sacramentou a explosão de uma onda antipolítica nas urnas. A proporção de governadores reeleitos nesses dois momentos ficou distante do observado nas demais eleições: apenas 53% e 50% dos que disputaram o pleito, respectivamente, conseguiram mais quatro anos de governo. Em 2006, esse índice chegou a 70%.
O levantamento do GLOBO revela que o PSDB e o MDB são os partidos que mais tiveram governadores reeleitos, com 18 cada. No caso do PSDB, o pico ocorreu em 1998, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso venceu a disputa pelo Planalto no primeiro turno. Naquele ano, apenas um tucano não se reelegeu, Eduardo Azeredo em Minas. A sigla também conseguiu quatro governadores reeleitos em 2014, eleição em que Aécio Neves (PSDB) foi derrotado na corrida presidencial com margem pequena de votos.