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sexta-feira 12 de agosto de 2022 às 08:03h

Auxílio e casas inflam votos em Bolsonaro em favela de capital bolsonarista

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Encostados para um bate-papo ao lado de uma canoa usada para pescar na lagoa Mundaú, em Maceió, Marcos Nascimento, 30, e Célio de Oliveira, 56 anos, divergem quando o assunto é política: enquanto um defende o presidente Jair Bolsonaro (PL), o outro declara voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de outubro.

Segundo Carlos Madeiro, do UOL, mas há uma coisa que os une: ambos já foram contemplados com o pagamento do novo valor do Auxílio Brasil, que começou a ser pago na terça-feira e foi ampliado para R$ 600.

Maceió é o município do Nordeste em que Bolsonaro teve o maior percentual de votos válidos entre todas as cidades da região no segundo turno da eleição de 2018: 61,63%, contra 38,37% para Fernando Haddad (PT). Tem uma população de 1 milhão de habitantes.

Já Mundaú faz parte de um conjunto de favelas da orla lagunar de Maceió, onde hoje vivem em torno de 11 mil pessoas.

Marcos mora com a mulher e o filho em um barraco e diz, convicto, que votará em Bolsonaro em outubro.

“Tenho preferência por ele. O aumento do auxílio fez diferença, sim. Antigamente era cento e poucos reais o [valor do] Bolsa Família”, afirma ele, que pensa que, se o presidente se reeleger, “vai diminuir o valor”. “O Lula diz que não vai?”, pergunta ao repórter. Bolsonaro tem dado indicações de que pode manter o valor em 2023, mas a ampliação, por enquanto, tem validade até 31 de dezembro.

Sobre o valor a mais (ele recebia R$ 400), diz que já gastou a primeira parcela praticamente toda com comida e dívidas. “Achei bom esse aumento porque vou comer melhor. Eu também faço bico de carregador com o carro de mão”, diz, apontando para o equipamento.

Já Célio questiona o argumento do amigo. “Acho que Lula vai manter esse valor [de R$ 600], e o Bolsonaro vai cortar e voltar a base do que estava antes [R$ 400] logo depois de ganhar”, afirma ele, que diz votar no petista.

Por morar só, conta que o valor o ajudou a comprar material para melhorar sua casa. “Eu comprei tijolo e cimento para ajustar as coisas.”

Novos prédios e divisão de votos

Nesta quinta-feira, quando a coluna esteve na favela Mundaú, foram ouvidos muitos moradores, que apontaram uma aparente divisão de votos entre Lula e Bolsonaro. Ninguém citou outro candidato além dos dois líderes nas pesquisas.

A favela Mundaú tem prazo para acabar. Ela fica ao lado do local que Bolsonaro visitou em junho para inaugurar os 160 primeiros apartamentos do conjunto residencial Parque da Lagoa —quando estiver concluído, terá 1.776 apartamentos.

A obra, iniciada no governo de Michel Temer (MDB), ainda está em andamento e deve contemplar mais de 300 famílias até o fim do ano. Em julho, logo após a inauguração de alguns prédios, a favela inundou, e os moradores precisaram ser retirados.

O pescador Sebastião da Paixão, 32, mora com a esposa e os três filhos e diz que recebeu na terça-feira os R$ 600. “Sobrou só R$ 120 para pagar a água e a luz. E acho que nem vai dar. Comprei um botijão de gás, e resto foi em comida e dívidas.”

Pai de filhos com 5, 10 e 14 anos, ele conta que foi um dos primeiros contemplados com um dos apartamentos no Parque da Lagoa. Para ele, isso foi determinante para que ele tomasse a decisão de votar em Bolsonaro neste ano.

“Na eleição passada, não votei nele, votei no [Fernando] Haddad [PT]. Não vou dizer que ele foi o maior presidente da nossa história, mas antes esse dinheiro vinha para os vereadores e deputados, e ele mandou fazer [os prédios]”, diz.

Paixão conta que o aumento do auxílio veio em um momento bom, já que as pescas na lagoa andam em baixa. O principal animal pescado, o sururu, acabou.

“Na semana passada, eu ainda arrumei R$ 80 com a venda [da pesca], mas esta semana não deu nada”, conta. “Hoje a gente come em casa o que pesco. Carne a gente come só umas duas vezes na semana”, relata.

Quem não recebeu o Auxílio Brasil ainda —o calendário de pagamento vai até o dia 22— está ansioso pelo novo valor. É o caso de Eliane Anselmo da Rocha, 52, que mora sozinha em uma barraca de lona e madeira.

Ela contou que estava com seu Bolsa Família cortado quando passou a receber o auxílio emergencial, mas foi novamente contemplada com o Auxílio Brasil em janeiro.

“Eu recebia R$ 134 do Bolsa Família, mas depois cortaram, alegando que não [re]cadastrei. Fui no CRAS [Centro de Referência da Assistência Social] no começo do ano, e o rapaz me disse que tinha dinheiro lá. Quando fui ver, tinha os R$ 400”, afirma.

Ela diz que, como mora só, o reajuste deve ajudar a comer melhor e recuperar o valor de compra corroído pela alta inflação nos últimos meses. Entretanto, fala que não vai deixar de votar em Lula. “Eu já estava decidida a votar nele. Não acho que o Bolsonaro vai manter esse valor, é só por causa de campanha mesmo. E não achei que o trabalho dele bom, sempre gostei do Lula.”

Aumento do valor e de beneficiados

O novo valor do Auxílio Brasil, com piso de R$ 600, começou a ser pago na terça-feira e vai até o dia 22. O aumento de 33,3% nesse piso vai vigorar até dezembro, conforme emenda constitucional promulgada em julho pelo Congresso.

Na mesma emenda, foi liberada também a inclusão de 2,2 milhões de famílias no Auxílio Brasil. Elas estavam em fila de espera. O total de beneficiários atendidos pelo programa atingiu assim seu recorde: 20,2 milhões de benefícios.

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