Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) entraram em campo para tentar convencê-lo a comparecer à posse do ministro Alexandre de Moraes na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O evento está marcado para o dia 16, com a presença das principais autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário. Bolsonaro já disse a pessoas próximas que não quer ir.
A cerimônia vai contar com um discurso de Moraes, mas não há previsão para qualquer fala do presidente da República. A expectativa é que o ministro faça declarações firmes contra a proliferação de notícias falsas e discurso de ódio nas campanhas, além de defender o sistema eleitoral brasileiro. A avaliação de Bolsonaro é que ele pareceria fragilizado ao ficar calado diante de temas dos quais ele discorda de Moraes.
Ao redor do presidente, há quem concorde com ele. Seria uma forma de desmoralizá-lo diante da cúpula do Judiciário – que, para Bolsonaro, é um dos grandes antagonistas de seu governo. Entretanto, outros aliados do presidente consideram importante a presença dele no evento para distensionar os ânimos. Um desses interlocutores conversou sobre o assunto com Moraes na terça-feira à noite.
O ministro não facilitou. Rompeu a tradição e não levou o convite da posse pessoalmente a Bolsonaro no Palácio do Planalto. Ele agiu da mesma forma em relação às outras autoridades e apenas enviou os convites, sem encontros presenciais. Em fevereiro deste ano, quando Edson Fachin assumiu a presidência do TSE e Moraes, a vice, ambos foram entregar o convite a Bolsonaro. Apertaram as mãos e ficaram cerca de dez minutos reunidos com o mandatário.
À coluna, integrantes do TSE disseram em caráter reservado que Moraes optou por uma estratégia diferente para evitar um clima ainda mais tenso. Se ele fosse pessoalmente entregar o convite a Bolsonaro e o presidente não comparecesse à posse, quem ficaria desmoralizado seria o ministro.
Moraes e Bolsonaro já protagonizaram inúmeros embates públicos. O ministro é relator no STF (Supremo Tribunal Federal) de inquéritos que miram o presidente e aliados – como o das fake news e o dos atos antidemocráticos. Bolsonaro já criticou o ministro em vários discursos. Em agosto do ano passado, pediu o impeachment o ministro ao Senado. O caso foi arquivado dias depois.
Ainda assim, entre ministros do TSE, há esperança de que o clima entre o Judiciário e o Planalto fique mais ameno na gestão de Alexandre de Moraes. Isso porque, apesar de não ter diálogo com Bolsonaro, o ministro tem boa relação com integrantes do governo e é dono de habilidades políticas mais aprimoradas do que Fachin, que está hoje no comando da Justiça Eleitoral.
?O ministro Alexandre de Moraes hoje tenta construir pontes de diálogos mínimos. A tendência é baixar a temperatura?, declarou em caráter reservado um integrante da Corte.