Sempre que o Federal Reserve aumenta as taxas de juros, os investidores se preocupam automaticamente com uma crise nos mercados emergentes. Hoje pode parecer que o padrão habitual não esteja sendo seguido. A expectativa é de que o Fed aumente as taxas de juros em 0,75% outra vez em 27 de julho. Enquanto isso, o Sri Lanka está sem moedas estrangeiras, a Argentina encara a possibilidade de outro default (calote), e muitos países pobres estão em apuros. No entanto, ao observar com mais atenção, a economia mundial foi transformada de tal forma que a natureza e as consequências da crise nos mercados emergentes mudaram.
A crise arquetípica dos mercados emergentes aconteceu em 1997-98. Conforme o Fed elevava as taxas de juros, trazendo capital de volta para os Estados Unidos, a moeda da Tailândia sofreu uma forte desvalorização, levando a um pânico que se alastrou pela Coreia do Sul e pela Indonésia. Depois, espalhou-se pelo Brasil e pela Rússia, e pelo o LTCM, um fundo de hedge de Wall Street que sucumbiu à crise. A calma foi restaurada pelo Fed e pelo Tesouro ao convencerem os bancos americanos a rolar os empréstimos, e pelo FMI. As três instituições que lideraram o combate ao problema foram apelidadas de “o comitê para salvar o mundo”. Mais ou menos há uma década, houve uma leve repetição de 1997-98, quando o Fed sinalizou que iria tornar sua política mais rígida, o que provocou um sell-off (venda rápida de ativos) nos mercados emergentes.
Entretanto, muita coisa está diferente hoje. A participação das economias emergentes no PIB global a preços de mercado cresceu de 21% para 43%. A participação da Ásia nos resultados de mercados emergentes dobrou, para 60%, liderada pela China e Índia, que são financeiramente mais independentes, com setores bancários conduzidos pelo Estado e mercados de títulos que são em grande parte fechados para estrangeiros. O peso de muitos lugares com tendência a crises é pequeno: a América Latina representa 5% do PIB mundial e 1,4% do valor do mercado de ações.
Outra mudança é que muitos mercados emergentes abandonaram os regimes de âncora cambial ao dólar (pegs), a dívida em dólar e os empréstimos estrangeiros. Atualmente, apenas 16% de suas dívidas estão em moedas estrangeiras. Os governos dependem cada vez mais dos bancos locais. Em vez de crises repentinas que se espalham entre países e por Wall Street, muitos lugares enfrentam perigos graduais e domésticos: espirais inflacionárias ou bancos operando com passivos acima de seus ativos (bancos zumbis). Um colapso do sistema financeiro endividado da China prejudicaria o crescimento global porque a economia chinesa é grande, não porque os investidores em outros lugares estão expostos de forma direta.
A última mudança é que, mesmo onde os credores estrangeiros são importantes, o perfil deles é diferente. Por exemplo, o “Clube de Paris” de credores, que é composto principalmente por países ricos e instituições multilaterais, como o FMI, responde por menos de 60% das dívidas dos países mais pobres, uma redução ante os mais de 80% em 2006. A China é responsável por cerca de 20%.
Boas e más notícias
A boa notícia é que o pânico nos mercados emergentes parece ter menos chance de infligir sérios danos ao restante do mundo. Calcula-se que os países com maior risco de inadimplência atualmente representem apenas 5% do PIB e 3% da dívida pública global. A má notícia é que esses lugares têm 1,4 bilhão de pessoas, ou 18% da população global, e encaram um enorme desafio humanitário com inflação mais alta, acúmulo de dívidas, taxas de juros maiores e petróleo e alimentos caros.
Além disso, a nova distribuição de suas dívidas significa que é mais difícil fechar acordos para conseguir o alívio delas. O ocidente não quer ajudar, pois o dinheiro acabará nos bolsos dos credores chineses. E a China está relutante em participar da negociação da dívida, apesar de qualquer comitê de resgate moderno precisar de um integrante de Pequim. Como consequência, mesmo que as crises nos mercados emergentes apresentem um risco menor para a economia global, elas podem representar mais uma ameaça para as pessoas que vivem em meio a elas.