Aguardada há anos como uma revolução nas comunicações e já em uso nos países desenvolvidos, a tecnologia 5G finalmente chegou ao Brasil no dia 6. Mas, como várias iniciativas que o governo Bolsonaro anunciou com alarde e depois entregou pela metade, a nova tecnologia deixou a desejar na sua implantação em Brasília, com vários “buracos” em que o sinal não pegava.
No fim do ano passado, quando ocorreu o leilão das frequências de 5G, o serviço estava previsto para chegar a todas as capitais neste mês de julho. Agora, de acordo com a Anatel, este prazo foi prorrogado para o fim de agosto, e a tecnologia precisa ser ativada até 29 de setembro. Até 2029, segundo a agência, todos os municípios brasileiros devem ter 5G e nove mil localidades remotas devem estar cobertas com o 4G.
Em Brasília, primeiro estado a receber a tecnologia, muitos ajustes terão que ser feitos para que de fato funcione a contento. O ministro das Comunicações, Fabio Farias, negou dificuldades. Declarou à “Voz do Brasil” que já fazia parte do projeto da implantação inicial em apenas 15 % de território de Brasília, mas que as empresas investiram pesado e 50% da cidade está com o 5G habilitado. Para a engenheira e especialista de rede na área de telecomunicações Sabrina Alves, o problema para os buracos nas transmissões do novo sinal foi a morosidade da definição da frequência pela Anatel. “O problema é como a operadora tem que fazer para chegar ao usuário final. O investimento é muito alto porque é preciso modernizar tudo o que chamamos de backbone (a rede física) e a morosidade da Anatel em definir as frequências e liberar o leilão sem dúvida prejudicou a implantação robusta e eficaz”, diz.
A nova geração demandará tempo para se estabelecer uma cobertura na maior parte do território nacional. E a tecnologia do 5G exige a implantação de um número maior de antenas, e menos espaçadas, do que acontece atualmente. “Como qualquer novo projeto, as novas tecnologias devem passar por um tempo de adaptação. Mesmo em mercados mais maduros, a implementação passou por dificuldades. Ainda vamos passar por uma fase de adaptação, inclusive com problemas de interferências, tendo em vista existir outros serviços que ainda não foram padronizados”, explica Jonas Marques, CEO na PDG IT Soluções em Tecnologia.
“Mesmo em mercados mais maduros,a implementaçãodo 5G passou por dificuldade” Jonas Marques, CEO da PDG IT
Fôlego extra
Com a chegada do 5G a Brasília, o mercado de smartphones, que enfrenta uma queda acentuada, tende a ganhar fôlego extra com as vendas de celulares compatíveis com a nova frequência. Pesquisa feita pela consultoria IDC Brasil mostra que 45,8 milhões de aparelhos foram vendidos em 2021, volume 6,1% inferior ao ano anterior. Um dos motivos para essa retração foi a falta de componentes que vêm da Ásia, região que sofreu muito com a pandemia no início do ano.
Mesmo com um cenário econômico conturbado, para o final do ano é esperada uma alta nas vendas dos aparelhos com a nova tecnologia. “O que tem caído são as vendas de smartphones abaixo de R$ 3 mil. Os celulares acima desse valor, por terem um consumidor mais seleto, estão em alta, crescendo quase três dígitos”, argumenta Reinaldo Sakis, gerente de pesquisas da IDC Brasil. A ativação do 5G nas capitais, no segundo semestre, será um estímulo extra para impulsionar o mercado, podendo atrair os consumidores ávidos pela tecnologia e fomentar a contratação e capacitação de novos profissionais para as indústrias. “Até dezembro haverá mais oferta de aparelhos à venda, produtos intermediários que farão os valores baixarem e mais pessoas adquirirem”, afirma Sakis.
Nas regiões com a cobertura já disponível, a conexão será automática e o ícone 5G aparecerá na tela do aparelho. De acordo com a Anatel, há atualmente 67 modelos homologados capazes de rodar o 5G, disponíveis em uma listagem divulgada em seu site. Mas, conforme especialistas, os consumidores devem levar em conta as dificuldades de implantação já demonstradas em Brasília. Ela não será instantânea e não conseguirá cobrir rapidamente de uma só vez todo o território urbano de uma cidade, podendo demorar meses. “Devemos ter em mente que as redes 5G funcionam por meio de ondas de rádio, assim como as redes móveis das gerações anteriores, e que precisamos ter a liberação das freqüências específicas. Vale ressaltar que as antenas serão adaptadas para funcionar paralelamente à infraestrutura de conexões. Tudo tem que ser adaptado”, diz Jonas Marques.