O ato de pré-campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste sábado (9) em Diadema, na Grande São Paulo, marcou conforme Lucas Borges Teixeira e Stella Borges, do UOL, a pacificação da aliança PT-PSB no estado em torno do ex-ministro Fernando Haddad (PT) para o governo. O ex-governador Márcio França (PSB) anunciou ontem a retirada na disputa e irá concorrer ao Senado.
A resolução de palanque único em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, era prioridade para Lula. Na visão da pré-campanha, a possibilidade dos dois concorrerem diminuía não só as chances de vitória no estado como enfraquecia a chapa federal. Entre elogios e afagos, os presentes fizeram questão de deixar claro que o assunto estava resolvido.
França falou por cerca de 10 minutos. Voltou a explicar que está cumprindo um combinado sobre lugar nas pesquisas para retirar a candidatura, como fez no vídeo divulgado ontem. Sem falar em Senado, ele reiterou o apoio a Lula e Haddad.
Haddad retribuiu o gesto, repetindo que França é “um homem de palavra” e “digno” e pedindo que o elejam ao Senado.
“Não é fácil imaginar o que foi a construção desse palanque (…) Nós, ao longo de um ano praticamente, começamos a construir uma solução que contemplasse todos os partidos que estão aqui representados”, disse ele. “Estamos aqui num esforço incrível de unir o país contra o arbítrio e contra o autoritarismo.”
Em uma fala de quase 50 minutos, Lula evitou falar no assunto. Ele agradeceu a França, reforçou o nome de Haddad, mas focou no projeto nacional, evitando polêmicas, como tem feito em seus discursos.
O ex-presidente falou da situação econômica do país e criticou o presidente Jair Bolsonaro (PL), com referência ao orçamento secreto e à PEC dos benefícios, proposta pelo governo e aprovada no Senado no fim de junho.
Um conselho que eu quero dar pra vocês é o seguinte: se esse dinheiro [via PEC] cair na conta de vocês, peguem e comprem o que comer — e, na hora de votar, deem uma banana pra ele [Bolsonaro].Lula, em Diadema
O ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), pré-candidato a vice na chapa, um dos responsáveis pelo acerto, também embarcou na união e, ao defender Haddad, disse que, para ser governador do estado, é preciso, antes, ser prefeito da capital.
Ele citou os ex-governadores Mario Covas (PSDB) e José Serra (PSDB) e aproveitou para cutucar João Doria (PSDB), seu ex-pupilo e hoje desafeto. “Até o Dorinha foi”, brincou.
A definição de apenas um palanque no maior colégio eleitoral do país é algo que vinha incomodando o ex-presidente. Lula tem rodado o país para reforçar palanques locais e há tempos queria fazer o de São Paulo, mas precisava ter o assunto encerrado.
A avaliação dentro da campanha é que o quanto antes a situação fosse resolvida, melhor seria para Haddad, França e Lula.
O acordo foi feito em um almoço com a presença de Lula no último domingo (3) e selado durante a semana.
Estavam presentes ainda Guilherme Boulos (PSOL), o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), prefeito de Diadema, José de Fillipi Jr. (PT), e o ex-prefeito de Campinas Jonas Donizette (PSB).
O evento ocorreu na Praça da Moça, um dos pontos centrais de Diadema, mas não foi aberto. Para entrar, era preciso fazer cadastro e passar por um esquema de segurança com detector de metal e revista.
A campanha de Lula sofreu ataques recentes, ainda que o esquema de segurança tenha sido reforçado. No centro do Rio, uma garrafa de plástico com explosivos e fezes foi lançada para dentro das grades. Ninguém ficou ferido. Um homem foi preso.
Entrave com o PSOL
No acordo proposto no almoço, é esperado que o vice também seja do PSB. Donizette, presente no evento, é um dos principais cotados.
A indicação dos dois cargos na chapa, no entanto, enfureceu o PSOL, que entrou para a aliança de Lula em abril e retirou a pré-candidatura de Guilherme Boulos ao Palácio dos Bandeirantes logo depois.
No acordo anterior feito entre as duas siglas, o PSOL tiraria a candidatura de Boulos e apoiaria Lula. Como contrapartida, receberia apoio à Prefeitura de São Paulo em 2024. Uma adesão à campanha de Haddad se daria por meio de um lugar na chapa, fosse vice ou Senado pelo estado paulista.
A situação não passou despercebida por Juliano Medeiros, presidente do PSOL, que, embora tenha elogiado França, ressaltou o elo entre PT e PSOL.
“Nós estávamos nas ruas em 2016 denunciando o golpe contra a Dilma [Rousseff] porque foi golpe, sim. E nós fomos para a rua brigar e denunciar esse golpe. Eu estava em São Bernardo do Campo, presidente, no dia em que o senhor foi preso naquela farsa que foi a Lava Jato. No segundo turno da eleição de 2018, o PSOL não foi pra Paris, foi pra campanha do Fernando Haddad”, numa indireta ao PSB, que apoiou a saída de Dilma em 2016, e ao pré-candidato Ciro Gomes (PDT).
Uma reunião está marcada para a próxima segunda (11) para tratar da situação. Ainda há a esperança do lado do PSOL que o assunto seja resolvido, mas o clima não está dos melhores.