Discretamente, na sexta-feira (1) após alguns dias de expectativa, o fundo de investimentos dedicado a criptomoedas Three Arrows Capital, conhecido como 3AC entrou com um pedido de falência no tribunal falimentar do Distrito Sul de Nova York. A notícia só circulou na madrugada desta terça-feira (5) conforme a revista IstoÉ Dinheiro.
Ainda não há muitas informações sobre o procedimento legal. Não é uma recuperação judicial, ou “Chapter 11”, mas sim um pedido de falência (“Chapter 15”), provavelmente para a subsidiária do fundo com sede no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas. Legalmente, o “Chapter 15” permite que empresas não-americanas blindem seus ativos nos Estados Unidos de execução legal por credores americanos.
A falência do Three Arrows Capital é um divisor de águas nesse mercado. Seus fundadores, Su Zhu e Kyle Davies, estabeleceram a empresa em Cingapura em 2012. Um dos pioneiros em fundos de investimento, Zhu sempre se destacou por sua visão otimista para as criptomoedas. No ano passado, quando a cotação chegou a US$ 69 mil, ele disse que o bitcoin teria espaço para subir até US$ 2,5 milhões.
Com base nessa convicção, o 3AC fez apostas pesadas e muito alavancadas na alta das criptomoedas. A estratégia começou a mostrar problemas em maio, com a queda da “stablecoins” Luna (UST), na qual o fundo Three Arrows tinha apostado.
Para manter sua estratégia, o 3AC começou a tomar empréstimos. No fim de junho, a corretora de criptomoedas Voyager cobrou o 3AC por um empréstimo de 15,25 mil bitcoins (com valor de mercado de US$ 305 milhões) e mais US$ 350 milhões na “stablecoins” USDC, que tem seu valor igual ao do dólar. Incapaz de pagar, o fundo pediu falência.
A decisão deverá provocar um efeito cascata. As ações do Voyager, que são listadas na Bolsa de Toronto, caíram 94% neste ano. A Voyager foi obrigada a interromper os resgates de seus clientes devido à queda da liquidez. Da mesma forma, em meados de junho, a plataforma de negociação israelense Celsius teve de bloquear os resgates alegando “condições extremas de mercado”.
Outra empresa de Cingapura, a Vauld, também impediu resgates. A companhia dedica-se a emprestar bitcoins e outras criptomoedas para gestores de fundos, e teve de interromper suas operações na madrugada da segunda-feira (4). O mesmo ocorreu com a Binance, uma das maiores exchanges do mundo, que teve de suspender temporariamente os resgates em meados de junho.
Tudo isso decorre não apenas de problemas técnicos, como o excesso de transações congestionando as redes do blockchain, mas também porque os agentes de mercado que operam pesadamente alavancados estão tendo problemas para honrar seus compromissos.
As consequências, além de reconduzir muitos bilionários recentes à condição de reles mortais, serão um provável endurecimento da regulação desses mercados. Muitos banqueiros centrais passaram a considerar os criptoativos uma ameaça à estabilidade financeira. Além disso, a alta dos juros e a restrição da liquidez vem estimulando um movimento generalizado de redução da alavancagem.