Segundo Kiev, parte do dinheiro conforme a DW para reconstruir o país deveria vir de ativos de oligarcas e do Estado russo congelados. UE se compromete com “Plano Marshall” para país invadido pela Rússia.O governo da Ucrânia propõe que se financie com dinheiro russo parte da reconstrução do país após a guerra. Segundo estimativas de Kiev, serão necessários pelo menos 750 bilhões de dólares.
A cifra foi revelada nesta segunda-feira (4) pelo primeiro-ministro ucraniano, Denys Schmyhal, na 1ª Conferência de Recuperação da Ucrânia, realizada em Lugano, na Suíça. No evento, que segue até esta terça-feira, delegações de quase 40 países e representantes de 14 organizações internacionais discutem uma espécie de “Plano Marshall para a Ucrânia”. A conferência deverá ser marcada por uma declaração comum que deve estabelecer as prioridades, método e princípios desse projeto de recuperação.
De acordo com Schmyhal, para financiar parte da reconstrução da Ucrânia, deveriam ser usados bens de oligarcas e do Estado russo congelados no exterior,no valor estimado de 300 a 500 bilhões de dólares.
No entanto, especialistas jurídicos alertam para a dificuldade em confiscar e utilizar esses ativos congelados, chamando atenção para a possível necessidade de julgamentos perante tribunais internacionais.
De acordo com as estimativas de Kiev, na guerra de agressão russa, até agora foram causados danos diretos de quase 100 bilhões de euros na infraestrutura da Ucrânia.
Zelenski apela a países democráticos
Durante o evento em Lugano, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, apelou aos países democráticos para aderirem ao plano. “A reconstrução da Ucrânia é uma tarefa comum de todo o mundo democrático”, afirmou, ao dirigir-se por vídeo aos participantes da conferência.
Zelenski considerou que a participação no plano de reconstrução constituirá a “contribuição mais importante para a paz mundial” e ficará assinalada no território ucraniano. “Entre outras coisas, vai criar milhões de novas ligações no mundo democrático, na Europa, entre os nossos países. Cada cidade, cada comunidade, cada indústria a ser reconstruída terá provas históricas de quem ajudou nisto”, disse Zelenski, segundo a agência ucraniana Ukrinform.
“A guerra da Rússia contra a Ucrânia não é apenas uma tentativa de tomar nossas terras e destruir as instituições estatais, para quebrar nossa independência. É um confronto de visão de mundo. O sistema antidemocrático e antieuropeu construído na Rússia está tentando provar que é supostamente mais forte do que todos nós: Ucrânia, Europa e o mundo democrático.”
O líder ucraniano agradeceu à Dinamarca, que se ofereceu para reconstruir Mykolaiv (no sudeste), e ao Reino Unido, pelo interesse manifestado na reconstrução da região de Kiev. “Convido também todos os países do mundo civilizado e empresas ambiciosas a se juntarem aos nossos esforços”, apelou.
O chefe de Estado também agradeceu à Comissão Europeia pela criação de uma plataforma especial para a reconstrução da Ucrânia e defendeu que as necessidades e os sentimentos dos ucranianos devem estar em primeiro lugar.
O projeto, segundo ele, deve ter como princípios-chaves a segurança, a eficiência tecnológica, o cumprimento de normas ambientais, a utilização de tecnologias verdes, o enfoque nos interesses das comunidades e a transparência no planeamento e utilização dos fundos.
Zelenski defendeu o “máximo enraizamento” do projeto de reconstrução na vida econômica real da Ucrânia para que os resultados sejam duradouros. Ele acrescentou que o plano visa igualmente o “desenvolvimento institucional” do país.
UE terá plataforma
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, considerou que a reconstrução da Ucrânia deve resultar num país melhor do que aquele que existia antes da guerra iniciada pela Rússia em 24 de fevereiro.
“Sabemos que a sua luta [dos ucranianos] é também a nossa luta e é por isso que estamos ajudando a Ucrânia a vencer esta guerra. Temos também de garantir que a Ucrânia ganhará a paz.” A líder explicou que a plataforma da União Europeia será usada para mapear as necessidades de investimento, coordenar ações e canalizar recursos.
“Desde o início da guerra, a UE mobilizou cerca de 6,2 bilhões de euros em apoio financeiro”, disse Von der Leyen. “E mais virão. Vamos nos engajar substancialmente na reconstrução de médio e longo prazo.”
A plataforma reunirá países, instituições, setor privado e sociedade civil. Também incluirá organizações internacionais como o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento e o Banco Europeu de Investimento.
“Através da plataforma de reconstrução, a Comissão Europeia pode oferecer sua ampla experiência na execução de programas que combinam reforma e investimentos”, afirmou a política alemã. “Além disso, estamos trabalhando em estreita colaboração com a Ucrânia há muito tempo. E esse trabalho só se intensificará agora que a Ucrânia se tornou formalmente candidata a se juntar à UE.”
Segundo Von der Leyen, a Europa tem uma responsabilidade especial e interesse estratégico em estar ao lado da Ucrânia: “O objetivo do Kremlin é a destruição militar, política e econômica da Ucrânia. Eles querem minar a própria existência da Ucrânia como Estado. Não podemos e não vamos deixar isso acontecer.”