Segundo o jornalista Carlos Madeiro, em sua coluna no portal UOL, os pré-candidatos a governos no Nordeste e líderes históricos do MDB abandonaram a senadora Simone Tebet (MDB-MS) à própria sorte e fazem campanha aberta para outro presidenciável: o petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Os medebistas candidatos ao governo Paulo Dantas, em Alagoas; e Veneziano, na Paraíba; são alguns dos nomes que largaram a terceira via e declaram que vão dar palanque para o ex-presidente. O ex-governador Renan Filho, que será candidato ao Senado por Alagoas, também foi outro a declarar voto abertamente.
Incapaz de combater a força de Lula perante líderes regionais do partido —como Eunício Oliveira (CE), Garibaldi Alves (RN) e o senador Renan Calheiros (AL)—, o MDB afirmou à coluna que não fará objeção a esse apoio e pregou respeitos aos diretórios estaduais que quiserem apoiar Lula. “Não há traição”, diz o partido (leia mais abaixo).
O apoio —e a busca pela recíproca de Lula— na região parece ter um motivo simples: o ex-presidente tem o maior percentual de intenções de voto no Nordeste em todos os levantamentos divulgados até aqui, como o último Datafolha.
Parte desses apoios e a revelia a Tebet vêm da costura que o próprio Lula fez, especialmente durante suas viagens ao Nordeste, onde sempre se encontrou com líderes emedebistas.
No Maranhão, por exemplo, conversou com José Sarney e Edison Lobão. No Rio Grande do Norte, se reuniu com Garibaldi Alves. No Ceará, teve um papo e posou para fotos com Eunício Oliveira.
Força do lulismo
Por aqui, o lulismo costuma ser um bom cabo eleitoral. Em 2018, mesmo com Lula preso em Curitiba, todos os candidatos do PT ou apoiados por ele venceram a disputa para os nove governos estaduais da região.
O MDB tem um histórico de alianças recentes com o PT, como no Piauí; e vai indicar o nome a vice na Bahia do candidato Jerônimo Rodrigues (PT). No Ceará, onde persiste um imbróglio sobre a definição do nome do PDT para manter a aliança, Eunício já sinalizou que irá com o PT.
Lula conseguiu participar até de costuras inusitadas, como no Maranhão, onde Roseana Sarney (MDB) disse ontem em entrevista que “a tendência é o MDB apoiar a reeleição” do governador Carlos Brandão (PSB), que terá na mesma chapa para disputar o Senado o ex-governador Flávio Dino —adversário histórico da família Sarney no estado.
Outra parceria veio por meio do deputado federal Walter Alves, presidente estadual do MDB no Rio Grande do Norte, que deve ser o vice de Fátima Bezerra (PT) na reeleição para o governo. O MDB fez oposição a Fátima na eleição passada.
“Não é rebeldia”
Em nota à coluna, o diretório nacional do MDB admite que não vê o apoio a Lula como “rebeldia” ou “traição”, “mas sim um histórico de aliança na região do MDB com o PT”.
“O MDB é o partido mais democrático do país e respeita a autonomia dos diretórios estaduais, em especial aqueles constituídos pelo voto nas convenções estaduais.”
A nota lembra ainda que, nas eleições de 2018, candidatos em Alagoas e no Ceará já haviam apoiado o então candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad. Na ocasião, o MDB havia lançado Henrique Meirelles ao governo, que teve inexpressivo 1,2% dos votos válidos.
“Naquela oportunidade, o MDB elegeu um deputado federal em Alagoas e um deputado federal no Ceará. Ainda em Alagoas, o MDB venceu a eleição para o governo do Estado e para o Senado”, cita o comunicado emedebista.
Sobre a Paraíba, o MDB afirma que Veneziano já havia deixado claro a sua aliança com Lula, “mas se dispôs, quando oportuno, a receber a pré-candidata Simone Tebet, sua colega de Senado”.
Veneziano, inclusive, deve ter um petista como vice, mas o nome do ex-governador Ricardo Coutinho ainda é incerto por conta de sua inelegibilidade.
O partido diz ainda que haverá nomes do MDB na região que vão “acolher” Tebet em visitas. “No próximo dia 2 de julho, Simone Tebet será recebida na Bahia por integrantes do MDB, cujo diretório indicou o candidato a vice-governador na chapa de Jerônimo Rodrigues (PT)”, conclui.
Apoio tem todo sentido, diz analista
Para o cientista político Vitor Sandes, da UFPI (Universidade Federal do Piauí), trazer Lula para o seu lado e nacionalizar a disputa no Nordeste —onde o presidente Jair Bolsonaro tem forte rejeição— é uma boa estratégia para fortalecer uma candidatura estadual.
“Por outro lado, do lado dos candidatos mais competitivos que poderiam ser mais alinhados ao bolsonarismo, certamente eles tentarão se desvincular da candidatura presidencial de Bolsonaro e tendem estadualizar a disputa”, diz.
Sandes afirma ainda que é fundamental aos candidatos ao governo do estado se vincularem a candidatos presidenciáveis mais competitivos.
“Isso é estratégico porque fortalece o palanque estadual. Para os candidatos à Presidência também é fundamental ter palanques nos estados. Vincular-se a candidatos da dita terceira via pode não levar a ganhos políticos junto ao eleitorado”, diz.
Ele lembra que a força de Lula na região é tamanha que em muitos estados o presidenciável enfrenta saias justas, como em Pernambuco e Paraíba, onde aliados históricos seus vão se enfrentar.
“Em 2018, no Brasil, tivemos a convergência de diversos candidatos aos governos estaduais ao Bolsonaro, por exemplo, como o conhecido caso do ‘BolsoDoria’ em São Paulo”, diz.
“Em 2010, aqui no Piauí e em outros estados, tivemos mais de um candidato no estado apoiando e sendo apoiado por Lula e Dilma. Neste ano, certamente, acontecerá o mesmo processo”, escreveu Vitor Sandes, da UFPI