Enquanto os dois partidos batem cabeça, pesquisas recentes mostram que o principal nome da oposição, o deputado federal Capitão Wagner (União Brasil), está na liderança. Porém, se seguir o que fez nas últimas eleições, o PDT só deve indicar o nome ao apagar das luzes do prazo.
Para manter a aliança, os petistas defendem que a atual governadora Izolda Cela (PDT) seja a candidata —algo que o PDT, por ora, não aceita.
Já o deputado federal José Guimarães e Camilo Santana estariam em defesa da manutenção da aliança, dando uma margem para o PDT escolher o nome.
Ainda correm por fora para ser o nome escolhido pelo PDT os deputados federal Mauro Filho e estadual Evandro Leitão.
Em meio à indefinição, até mesmo o nome do ex-governador e atual senador Cid Gomes (PDT) passou a ser ventilado como uma possibilidade. Entretanto, a assessoria de imprensa do senador negou à coluna que exista essa possibilidade e diz que “não passa de especulação”. Cid também não quis conversar sobre a indefinição estadual.
Procurados, nenhum dos petistas quis conversar com a coluna. A assessoria de Luizianne respondeu apenas dizendo que “a situação está muito indefinida e a deputada vai aguardar as discussões do partido para se pronunciar”.
Segundo o último levantamento da TV Record/Real Time Big Data, divulgada na terça-feira passada, o Capitão Wagner vence em qualquer um dos cenários.
Cenário 1:
Capitão Wagner (União Brasil) – 40%
Roberto Cláudio (PDT) – 35%
Cenário 2:
Capitão Wagner (União Brasil) – 44%
Izolda Cela (PDT) – 29%
Cenário 3:
Capitão Wagner (União Brasil) – 45%
Mauro Filho (PDT) – 19%
Cenário 4:
Capitão Wagner (União Brasil) – 49%
Evandro Leitão (PDT) – 11%
A pesquisa ouviu 1.500 eleitores entre os dias 18 e 20 de junho. A pesquisa foi registrada na Justiça Eleitoral sob o código CE-02057/2022. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
Silêncio petista fala muito
O silêncio, porém, não esconde o clima de indefinição. Um problema para reunir os dois partidos não tem causa local. Tem a ver com o presidenciável Ciro Gomes (PDT), que centra o fogo de sua pré-campanha em Luiz Inácio Lula da Silva.
Logo, uma ala mais pró-lulismo do PT cearense tem se manifestado contra a aliança para que Lula tenha um palanque “puro sangue” no estado.
Diante da demora, aliados começaram a se movimentar de forma mais intensa, por conta própria, como foi o caso do deputado federal José Airton —que colocou seu nome para uma candidatura própria e declarou, nesta semana, que, se o escolhido for Roberto Cláudio, ele não descarta uma aliança com o bolsonarista Capitão Wagner, se este aceitar apoiar Lula.
“Wagner é um articulador muito habilidoso, e ele quer atrair esses aliados que estão incomodados com essa letargia na definição do PDT. Ele se consolidou como líder da oposição com capital político. Ou seja, a gente tem uma oposição fortalecida, como a gente não via há 16 anos”, diz a cientista política Monalisa Torres, professora da UFC (Universidade Federal do Ceará).
Ciro diz ter acordo para escolha
No último dia 15, quem falou sobre o tema foi Ciro Gomes. O presidenciável diz que o PDT tem um acordo firmado com os pré-candidatos de lançar o nome mais viável e questiona a pressão petista.
“Nós temos um entendimento explícito: depois de apoiarmos por oito anos e seguirmos na intenção legítima de Camilo de ser senador, cabe ao PDT a indicação do candidato”, explicou.
Apesar de não declarado publicamente, Izolda Cela é o nome preferido de Camilo. Em entrevista no dia 17 a um programa de política em Fortaleza, ele chegou a dizer que ela tem a “prerrogativa” de ser candidata a governadora por ocupar o cargo. “Qualquer um, que estivesse no lugar dela, assumindo o governo do estado, teria a prerrogativa de ir para uma reeleição”, disse.
Mas é o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio que tem tido o maior apoio dos trabalhistas do estado, como o do atual prefeito da capital, José Sarto. O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, também quer Cláudio.
Entretanto, Ciro diz que nada está definido. “O que o PDT está fazendo? Aquilo que sempre fizemos: em vez de tirar do meu bolso do colete e colocar um nome de cima para baixo, nós estamos tentando ouvir a população para saber o que é mais razoável. Foi isso que fizemos quando escolhemos Camilo, Roberto Cláudio, Sarto”, disse Ciro.
A arrogância, prepotência, de achar que o apoio da muleta do apoio político minha ou do Lula ou de quem quer que seja vai eleger um poste aqui no Ceará… Isso nunca ocorreu no nosso estado e espero que nunca aconteça.”Ciro Gomes (PDT)
Ele também comentou sobre a pressão dos petistas em escolher Izolda Cela. Segundo Ciro, a escolha não tem data, mas a forma como será feita está apalavrada “com toda clareza, com todos” os pré-candidatos.
“Apresentamos quatro candidatos, todos em condições [de seguirem o projeto]. Mas vou bancar o coronel e escolher uma amiga de infância que é a Izolda Cela? Como eu explicaria isso? Não vou fazer isso! A Izolda é de Sobral, é filha da dona Maria Helena, que foi minha primeira professora. Aí fica a turma do já ganhou, da arrogância, do dono da bola. Eu já vi gente mais alta cair”, finalizou.
Incômodo com “letargia”
Para Monalisa Torres, o xadrez político passa também pelo palanque nacional, já que, por ser o estado base de Ciro, ele talvez tenha a ideia de ter um palanque sem “divisão” com Lula.
“O Ciro parece se esforçar para indicar o candidato preferido dele [Roberto Cláudio] pensando em um palanque mais cirista. Ele parece até forçar a barra da ruptura, também pensando na montagem desse palanque puro”, afirma.
Segundo ela, o PT tem insistido em Izolda por ela ter um bom trânsito com os petistas, em especial com Camilo Santana.
“O Camilo está sempre com a Izolda. Antes mesmo de deixar o cargo, participou de diferentes eventos políticos e defendeu Izolda em alguns momentos. Há um entendimento implícito de que seja preferida do consenso, que manteria a aliança”, afirma.
“No caso, a Izolda sendo a candidata, o PT também poderia ter mais espaço dentro do governo por conta dessa proximidade”, lembra.
Se optar pela escolha da atual governadora, Monalisa acredita que a aliança pode ficar ainda mais recheada de partidos. “O Eunício Oliveira [MDB] é um nome que apoiaria Izolda. Ele se reaproximou do grupo pela habilidade do Camilo e pela facilidade de negociar”, afirma.
Por outro lado, ela diz que Roberto Cláudio já tem mais capital político —o que pode ajudar em uma campanha que tende a ser apertada contra o Capitão Wagner.
“A Izolda é um nome que não tem a visibilidade que um Roberto tem, com esse um capital político que seria importante para uma disputa a cargo majoritário. Isso acaba dando a necessidade de Izolda se escorar mais em Lula, aí teria de ter um palanque híbrido, como fez Camilo em 2018 [se dividindo entre Ciro e Fernando Haddad-PT]”, conclui.