O vice-presidente e pré-candidato ao Senado, Mourão afirmou que o país pode se fortalecer com os episódios da pandemia e da guerra entre Rússia e Ucrânia. “Essa ruptura das cadeias globais de suprimento, fruto da pandemia e da guerra, é uma grande oportunidade para o Brasil, pois podemos nos apresentar como local confiável, estruturado, para que grandes empresas transfiram suas operações, e essa escassez de alimentos vai abrir novos mercados para nossos produtos”, disse. Para isso, no entanto, o país tem um desafio: vencer suas idiossincrasias. Segundo Mourão, muitos assuntos discutidos hoje no país que opõem visões sobre Amazônia, aborto e outros temas têm origem nos Estados Unidos, e ganhou mais evidência após a eleição de Donald Trump. “É uma guerra cultural que vem sendo travada no mundo, uma guerra que resulta na polarização política. Precisamos buscar corrigir nossas idiossincrasias e os nossos grandes problemas”, comentou.
Nesse mundo dividido, disse Mourão, é preciso saber se posicionar. “Temos que agir com pragmatismo e flexibilidade, buscando os interesses maiores do país”, reforçou. Nesse sentido, é preciso estar alinhado às potências ocidentais, como Estados Unidos e os países da Europa Ocidental, mas também se relacionar com países como a China, hoje o maior parceiro comercial do Brasil — no ano passado, essa parceria representou US$ 100 bilhões, principalmente com exportações de soja, ferro e petróleo.
O vice-presidente também disse que é preciso o Brasil trabalhar para reforçar duas bases fundamentais para sua economia, o equilíbrio fiscal e a produtividade. No primeiro caso, ele disse que é preciso evoluir na reforma previdenciária e na reforma do Estado, cuja qual foi “feita de modo informal”. Ele também destacou a gestão profissional no setor público e a aceleração da digitalização dos serviços para reduzir custos. “Hoje, há 3,7 mil operações entre o cidadão e o governo feitas via digital”, ressaltou.
Para aumentar a produtividade, Mourão falou que é preciso uma reforma tributária. “Nosso sistema é caótico, custa R$ 80 bi por ano para o governo e empresas e há uma evasão em torno de R$ 400 bi”. Outra questão é investir em infraestrutura. “Hoje, como o orçamento está, de cada R$ 100 arrecadados, R$ 93 são para despesas obrigatórias, sendo R$ 65 para pagamento de pessoal. Sobram R$ 7 para a vida vegetativa do governo e para investimento”.
O vice-presidente vê, como forma de recuperar a capacidade de investimento do governo, dois caminhos. Um é passar uma peneira nos projetos de renúncia fiscal — R$ 370 bi deixam de ser arrecadados com isso, segundo ele. “Se deixo de cobrar imposto em determinado setor, esse setor tem que me retornar com emprego e renda. Se ele não está retornando com isso, tem que retirar essa renúncia”, disse. Outras formas seriam a securitização da dívida — o Brasil, conforme Mourão, tem R$ 5 trilhões de dívidas — e a abertura comercial.
Na conversa, de quase uma hora, Mourão também abordou a inflação no mundo causada pela pandemia e pela guerra entre Rússia e Ucrânia, que trouxe outro efeito, o aumento do preço do petróleo. ” A era do combustível a R$ 4 acabou, não vai voltar”, comentou.
Essa foi a segunda vez que o vice-presidente visitou a ExpoBento e a Fenavinho. Na outra oportunidade, ele esteve em Bento Gonçalves em 2019, quando o CIC-BG retomou a Fenavinho após oito anos de hiato desde a realização da última edição da Festa Nacional do Vinho. “Quero cumprimentar vocês por esses magníficos eventos, por esse exemplo de trabalho e dedicação e, principalmente, por mostrar que nosso país é muito maior do que as notícias ruins”, comentou. A visita de Mourão foi saudada pela presidente da entidade, Marijane Paese. “Sua presença engrandece nossos eventos, muito obrigado por estar aqui”, disse Marijane. O sentimento foi corroborado pelo prefeito Diogo Siqueira. “Esse é um momento único, não é todo dia que temos para escutar o vice-presidente”, comentou.