segunda-feira 23 de dezembro de 2024
Planta de Produção de Vanádio na Bahia – Foto: Divulgação /Ulisses Dumas
Home / NEGÓCIOS / Cadeia produtiva da mineração abre portas para novos negócios na Bahia
sábado 4 de junho de 2022 às 17:16h

Cadeia produtiva da mineração abre portas para novos negócios na Bahia

NEGÓCIOS, NOTÍCIAS


O setor industrial minerário está atento à reutilização de resíduos. A partir do investimento em pesquisas científicas, substâncias que antes poderiam ser descartadas passam a ter utilidade em outro processo produtivo. Assim, impactos ambientais são reduzidos e as empresas ainda podem ampliar a lucratividade com a comercialização de produtos com maior valor agregado.

“Muito além de seguir os preceitos da sustentabilidade, que é parte da agenda internacional e considerada como questão de competitividade, o aproveitamento de rejeitos é consequência de avanços científicos e tecnológicos. A nossa expectativa é grande para a criação de novos negócios, geração de postos de trabalho e renda, a partir das diversificações nas produções”, diz Antonio Carlos Tramm, presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM).

As aplicações que são desenvolvidas para os resíduos da mineração se destinam à indústria química, à agricultura e à construção civil. Segundo a pesquisadora e líder técnica do Senai Cimatec, a engenheira química Fernanda Torres, todos os resíduos têm algum potencial de reaproveitamento. Alguns exemplos são: o uso do minério de ferro em siderúrgicas e na construção civil; os resíduos finos de rochas ornamentais na produção de argamassas, tijolos, telhas, vidro, tintas, corretivos de solo, entre outros; os resíduos grossos de rochas ornamentais usados em fábricas de cimento, brita, areia artificial, pavimentação, filetes para muros e outros.

“O que define a possibilidade de aplicação são as rotas tecnológicas. Para o resíduo ser reutilizado é necessária a classificação e a sua diferenciação de acordo com suas características”, explica a pesquisadora do Senai Cimatec, instituição que atende empresas da Bahia e de várias partes do Brasil realizando análises de rotas de reaproveitamento de resíduos: a pirometalurgia (utiliza calor para obtenção e refinação de metais) e a hidrometalurgia (utiliza água na separação de minerais).

Regulamentação

Em janeiro de 2022, entrou em vigor a Resolução nº85/2021 com regras para o reaproveitamento de rejeitos. O dispositivo foi aprovado pela Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Mineração (ANM) em dezembro do ano passado, conforme divulgação no site da agência. O diretor Tasso Mendonça Junior foi relator do documento e destaca que o conjunto de normas é resultado de um trabalho colaborativo e promove um norteamento para ações sustentáveis na atividade mineradora.

“A nova Resolução contou com refinamento trazido pelas contribuições colhidas em processo de Consulta Pública, com participação de toda a sociedade, além de ter passado por uma extensa Análise de Impacto Regulatório (AIR). O setor mineral tem agora um parâmetro que com certeza vai fazer as empresas terem mais foco no reaproveitamento, reciclagem e reuso, o que é fundamental para o Brasil do ponto de vista ambiental”, disse o diretor.

No caso da aplicabilidade na agricultura, a cadeia produtiva dos resíduos de minérios tem duas abrangências distintas a depender da incidência ou não de ações químicas no mineral: remineralizadores e condicionadores de solo. “Ressaltando sempre a importância dos contaminantes estarem dentro dos limites toleráveis pelo Ministério da Agricultura para sempre garantir a qualidade dos solos, do que for plantado e para o consumidor final. Dessa forma, estamos aplicando um processo de sustentabilidade verde onde o nosso objetivo é trazer toda nutrição (micro e macronutrientes) disponível nos subprodutos de volta para os solos na forma de condicionadores ou remineralizadores e evitando assim acúmulos de passivos ambientais os quais seriam “improdutivos” e subaproveitados pelas mineradoras e indústrias do nosso Estado”, explica o especialista em solos e raízes Maurício Carnevali, CEO da Cumbe Consultoria e membro do International Humic Substances Society (IHSS).

Economia circular

As empresas que optam pelo reaproveitamento acabam incorporando a chamada economia circular, nesse caso elas agregam valor a um material que geraria apenas despesas. “O alto preço das commodities metálicas, associado à crescente consciência ambiental justifica o reprocessamento de rejeitos que são acumulados nas barragens. O lucro obtido com a comercialização dos produtos obtidos fomenta o investimento das empresas no estudo e desenvolvimento de tecnologias que visam transformar os resíduos em produtos comerciais com maior valor agregado”, diz a pesquisadora Fernanda Torres.

O reaproveitamento é capaz de produzir importantes insumos para várias indústrias. Dentro do conceito de economia circular, a Largo Vanádio de Maracás (LMVSA) tem dois projetos em fase implantação na Bahia: a produção de ilmenita em Maracás, no Centro-Sul do estado, e de pigmento de titânio no Polo Industrial de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (o titânio é um dos concentrados do rejeito do beneficiamento do vanádio). A ilmenita é usada em indústrias de pigmentos, ligas metálicas e proteção do revestimento de alto forno. Já o pigmento de titânio é usado na indústria química, em tintas, revestimentos, plásticos, papel, tintas, fibras, alimentos, cosméticos, entre outros.

A previsão é que a produção ilmenita seja iniciada no primeiro semestre de 2023. O projeto de Maracás vai gerar 270 vagas de emprego na fase de construção e mais 50 postos de trabalho na operação. A estrutura que fica em Maracás tem capacidade para produzir 145 mil toneladas por ano. “O diferencial é que para produzir o minério, que será destinado como matéria-prima para a produção de pigmento de titânio da própria Largo, não haverá nenhum impacto adicional ou aumento de mineração, uma vez que a Ilmenita já está presente na mineração do próprio vanádio”, explica Paulo Misk, CEO da Largo Vanádio de Maracás.

Já a área de produção de pigmento de titânio, em Camaçari, será implantada em três fases, a primeira vai até 2024, no total serão investidos 365 milhões de dólares e a produção total será de 120 mil toneladas pigmento de titânio. Toda operação vai gerar 400 empregos diretos.

II Fórum de Inovação e Sustentabilidade na Mineração

Além da economia circular, as mineradoras se adequam ao ESG (Ambiental, Social e Governança), que é um conjunto de ações de empresas que buscam maneiras de minimizar impactos ao meio ambiente, procuram ter cuidado com as pessoas e adotam boas práticas administrativas. Nesse contexto, as empresas também contribuem para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, que são metas elaboradas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e parceiros no Brasil e no mundo “para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade”.

Conectada com tais ideais, a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) vai promover na quinta-feira, 09/06, às 9h, o II Fórum de Inovação e Sustentabilidade na Mineração. Durante o encontro que será realizado no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), no bairro do Stiep, em Salvador, o diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Raul Jungmann, vai discutir sobre o cenário da mineração brasileira, perspectivas, desenvolvimento e a realização de pesquisas. Outro assunto que será tratado é o “potencial do aproveitamento de resíduos de mineração na agricultura”, tema da palestra do doutor em geologia e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Eder Martins.

Para o pesquisador a expansão do reaproveitamento de subprodutos da mineração terá um impacto muito positivo, pois o Brasil ainda depende da importação de adubo mineral (composto por nitrogênio, fósforo e potássio), que é usado na agricultura para garantir o crescimento saudável das plantas. “Fontes regionais podem aumentar a eficiência de uso de nutrientes e substituir parcialmente estas commodities fertilizantes. As fontes regionais podem vir, em parte, de resíduos de mineração, desde que sejam agronomicamente eficientes e seguros do ponto de vista da presença de metais pesados”, destaca Martins.

Veja também

Israel ordena fechamento de um dos últimos hospitais no norte de Gaza

As autoridades israelenses determinaram, na noite desse último domingo (22), o fechamento de um dos …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!